Escrito por: Redação CUT
Transparência Internacional critica interferências políticas em nomeações e destituições em postos fundamentais de controle. OCDE criticou país após missão em novembro
As vagas, confusas e desconexas promessas eleitorais de Jair Bolsonaro de acabar com a corrupção foram fundamentais para que os brasileiros dessem a vitória ao até então irrelevante deputado que ficou 27 anos na Câmara dos Deputados e só apresentou projetos irrelevantes, como a homenagem ao ex-deputado Enéas de Carvalho e a autorização para aplaudir a bandeira nacional após a execução do hino.
Na prática, o que se vê são retrocessos no combate à corrupção, tanto por parte do Executivo quanto dos poderes Judiciário e Legislativo. E são tantos que em novembro do ano passado, a Cooperação e Desenvolvimento Econômico ou Econômico (OCDE), clube de países ricos no qual o Brasil quer entrar, enviou uma missão ao país, relata matéria de Maiara Galarraga Gortázar, do El Pais.
“Estamos muito alarmados pelo fato de que tudo o que o Brasil conquistou nos últimos anos na luta contra a corrupção possa agora estar seriamente comprometido”, disse o grupo de trabalho contra as propinas da OCDE, após a visita. A missão acrescentou que o Brasil deveria reforçar os mecanismos anticorrupção, “não os enfraquecer”.
“Apesar do discurso e das promessas de grande renovação por parte do presidente, deputados e senadores, 2019 foi péssimo em termos de reformas contra a corrupção”, afirmou à reportagem do El País, Bruno Brandão, diretor executivo da Transparência Internacional no Brasil. Uma das maiores contradições de Bolsonaro, segundo o representante da Transparência, é sua aberta hostilidade contra a imprensa e a sociedade civil, cuja força é fundamental para reduzir a corrupção.
O resultado é que o Brasil tirou novamente a pior nota da série histórica no exame da percepção da corrupção no mundo recentemente publicado pela Transparência Internacional. Com 35 pontos - os mesmos de 2018 – o Brasil ficou na 106° posição em uma lista que tem a Dinamarca no topo.
A Transparência Internacional critica o fato de Bolsonaro manter em seus cargos o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, o líder do Governo do Senado, senador Eduardo Gomes, ambos investigados por corrupção; e secretário de Comunicação da Presidência da República, Fábio Wajngarten, que está sendo investigado pela Polícia Federal instaurou, a pedido do Ministério Público Federal. O inquérito vai apurar se o secretário cometeu os crimes de corrupção passiva e peculato (desvio de recursos públicos feito por para proveito pessoal ou alheio). A investigação veio depois que o jornal Folha de S.Paulo revelou que a empresa da qual Wajngarten detém 95% das ações, a FW Comunicação, recebe dinheiro de pelo menos duas emissoras de TV (Record e Band) e de três agências de publicidade contratadas pela Secom, por ministérios e por estatais federais.
Na manhã desta quarta-feira (5), Bolsonaro saiu em defesa aberta do chefe da Secom: "O (Fabio) Wajngarten continua mais firme do que nunca”, disse no portão do Palácio da Alvorada.
Confira aqui a íntegra da reportagem do El País.