Aplicativo auxilia camponeses e quilombolas na restauração do Cerrado
Ferramenta gratuita coleta dados socioambientais e monitora reflorestamento feito por agricultores. E incentiva plantio de árvores no bioma, considerado o berço das águas
Publicado: 27 Setembro, 2021 - 09h02
Escrito por: Redação RBA
Um aplicativo desenvolvido pela Universidade de Brasília (UnB) tem incentivado agricultores do Cerrado a restaurar áreas degradadas e cadastrá-las no Programa de Regularização Ambiental (PRA). Lançada por ocasião do Dia do Cerrado (11 de setembro), a ferramenta, Radis Cerrado, preenche uma lacuna para facilitar o monitoramento da restauração ambiental e pode contribuir na regeneração desse que é um dos biomas em maior risco de extinção no Brasil.
O aplicativo vem de iniciativa entre o Centro de Gestão e Inovação da Agricultura Familiar da UnB e a Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos. E conta com o apoio do Fundo de Parceria para Ecossistemas Críticos (CEPF Cerrado) e Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB). De acordo com os pesquisadores, o objetivo é aproveitar que essa é a “década da restauração ambiental” para “estimular e facilitar” o processo de regularização. É o que destaca a professora Iris Roitman, pesquisadora colaboradora da UnB e do Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento Rural, em entrevista a Marilu Cabañas, do Jornal Brasil Atual.
“Uma vez que tem um passivo ambiental, tem que fazer a restauração e você precisa mostrar para órgão ambiental que está fazendo esse monitoramento. (…) Então o Cegafi da UNB, que já tinha know-how (conhecimento) para trabalhar com tecnologia para o campo, na coleta de dados socioprodutivos e de diagnósticos ambientais, pensou em desenvolver um aplicativo para coletar dados socioambientais para verificar passivos e ajudar tanto no processo de restauração quanto no processo de monitoramento”, explica Iris, que é uma das responsáveis pela tecnologia.
Facilidades do app
O nome Radis Cerrado homenageia as raízes profundas das árvores distorcidas do bioma. Já disponível de forma gratuita para o sistema Android no Google Play, o aplicativo passou por testes no acampamento Roseli Nunes e no assentamento Oziel Alves, ambos na área rural de Planaltina, no Distrito Federal. As comunidades abrigam cerca de 300 famílias voltadas à produção agroecológica e que trabalham pela regeneração dos solos. A ferramenta atualmente tem uso limitado à região da capital federal. Mas o projeto dos pesquisadores é que ela possa ser usada por pequenos e grandes produtores, assentados e comunidades tradicionais e órgãos de gestão do meio ambiente em todo o país.
Além de compartilhar as informações direto com os organismos de fiscalização, o aplicativo sobre o Cerrado também funciona off-line para que os agricultores possam armazenar dados. Com essa função, quando for necessário, eles poderão encaminhá-los aos técnicos. Ao incentivar o reflorestamento, a tecnologia, de acordo com Iris, também auxiliará na criação de um banco de dados com informações de todas as áreas que estão em restauração e seus indicadores ecológicos, até o tipo de cobertura vegetal e espécies do local. A medida também facilita para os agricultores o planejamento da produção e comercialização.
“O aplicativo vai dar transparência a esse processo e também ajudar em pesquisas para restauração ambiental”, garante a pesquisadora.
O aplicativo e a regeneração do Cerrado
Segundo maior bioma da América do Sul e do Brasil, o Cerrado é também o “berço das águas”. O bioma é o ponto de encontro das principais bacias hidrográficas do país. Apesar da importância, o território já perdeu 26,5 milhões de hectares, entre 1985 e 2020, do total de 198 milhões de hectares. De acordo com recente estudo do MapBiomas, quase a totalidade desse desmatamento (98,8%) foi causado pela agropecuária.
Iris alerta que é preciso ter atenção com o bioma. “As pessoas pensam muito na proteção da Amazônia, que é essencial. Mas também é importante pensar na proteção do Cerrado, principalmente nesses tempos de crise hídrica”, adverte.
“Temos que lembrar que se não conservarmos a natureza, não vai ter água para plantar nem para os grandes, os pequenos (agricultores). E nem para os animais, nem para a gente beber ou para a energia elétrica. Então é preciso que não só os governantes, mas as pessoas desenvolvam essa atenção para com o Cerrado. E pensar em tudo aquilo que consumimos, porque no final das contas o consumidor tem um grande poder de influência nas cadeias produtivas”, conclui.