Escrito por: Redação CUT

Após Brasil ficar sem insumos e vacinas, governo Bolsonaro baixa o tom com a China

Especialistas culpam Bolsonaro e Eduardo Pazuello, ministro da Saúde, pelo atraso dos insumos. A pneumologista e pesquisadora da Fiocruz Margareth Dalcolmo diz que é “absoluta incompetência do governo federal”

Reproduçãofal

Com atrasos nas entregas de insumos de vacinas contra a Covid-19, o governo Jair Bolsonaro (ex-PSL) baixou o tom dos ataques à China, com quem sempre manteve uma relação diplomática conflituosa e ideológica. Apesar do início da vacinação em todo o país, faltam vacinas para imunizar toda a população na primeira fase da campanha e que pode, inclusive, atrapalhar a aplicação da segunda dose.

A falta de matérias-primas para a fabricação de vacinas pelo Instituto Butantan e pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) tem causado irritação na população, e especialistas culpam, categoricamente, Jair Bolsonaro e Eduardo Pazuello, ministro da Saúde, pelo atraso dos insumos.

A pneumologista e pesquisadora da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) Margareth Dalcolmo, uma das profissionais de saúde do país mais atuante na pandemia, ​criticou a atuação do governo federal na aquisição das vacinas contra a Covid-19. Ela classificou o atraso no envio dos imunizantes como "absoluta incompetência diplomática do Brasil".

"É absolutamente inaceitável que, nesse momento, a gente tenha acabado de receber a notícia de que as vacinas não virão da China e da Índia (...) O que é que pode justificar nesse momento que o Brasil não tenha as vacinas disponíveis para a sua população? Isso é absolutamente injustificado, não há nada, nenhuma explicação, que pode justificar isso", afirmou Margareth.

Falta vacina

De acordo com levantamento do UOL, há 14,8 milhões de brasileiros no grupo prioritário, enquanto, no presente momento, o país tem apenas 10,8 milhões de doses da vacina contra a doença em território nacional. Como a imunização é garantida após duas doses da vacina, são necessários 29,6 milhões de doses nesta etapa.

Os 10,8 milhões de vacinas do país correspondem a 6 milhões de doses distribuídas entre os estados somadas aos 4,8 milhões já produzidos e que aguardam aprovação para uso emergencial por parte da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A quantia imuniza apenas 5,4 milhões de brasileiros, o equivalente a cerca de 2,5% da população do país.

Os materiais para a produção da vacina vêm da China e ainda não há previsão de quando será entregue o próximo lote. O diretor do Butantan, Dimas Covas , afirmou que a instituição aguarda a liberação de insumos pelo governo chinês há 15 dias. O instituto alegou estar dentro do cronograma de entrega de ao menos 8,7 milhões de doses até o fim de janeiro.

A primeira fase do plano de vacinação tem os seguintes alvos: profissionais de saúde; idosos com 75 anos ou mais; pessoas acima de 60 anos que vivem em casas de repouso e asilos; população indígena aldeada em terras demarcadas; povos e comunidades tradicionais ribeirinhas.

Nesta quarta-feira (20), o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), e vários parlamentares entraram numa força tarefa para acelerar a entrega dos insumos de vacinas ao país devido às falhas de logística do governo federal.

Governadores estaduais também pressionam o governo Jair Bolsonaro para dialogar com a Índia e a China sob o risco de o Brasil ficar de fora da lista de prioridades das entregas dos imunizantes.

Vacinação contra Covid-19 em Manaus é suspensa

A imunização contra a Covid-19 em Manaus, que vive uma situação caótica com a falta de oxigênio, foi suspensa nesta quinta-feira (21) para replanejamento da campanha.

O objetivo é discutir os critérios que definirão quais profissionais de saúde e de quais unidades têm prioridade para receber as primeiras doses, já que a quantidade de vacinas disponibilizada pelo governo federal é insuficiente.

A suspensão da campanha foi definida pelas secretarias de saúde de Manaus e do Amazonas, após uma reunião na noite de quarta-feira (20) com órgãos de controle do estado: Ministério Público Estadual, do Ministério Público Federal, da Defensoria Pública Estadual, da Defensoria Pública da União e do Ministério Público do Trabalho.

Os participantes da reunião concluíram que devem ser priorizados os profissionais mais expostos ao coronavírus e que trabalhem em unidades de referência de média e alta complexidade, que tenham contato direto com pacientes com Covid, considerando também comorbidades e idade.

Um dos motivos também da suspenção da vacinação em Manaus foi após a denúncia de que duas médicas recém-formadas, as gêmeas Gabrielle Kirk Lins e Isabelle Kirk Lins, receberam as vacinas. Elas publicaram fotos em suas redes sociais recebendo a primeira dose. As imagens passaram a circular em grupos de WhatsApp.

As jovens são da família de Nilton da Costa Lins Júnior, presidente da mantenedora da Universidade Nilton Lins, uma das maiores da capital do Amazonas. A prefeitura de Manaus se pronunciou e disse que não houve irregularidade e proibiu a divulgação de fotos nas redes sociais.

Manaus ainda enfrenta uma séria crise na saúde, com superlotação de leitos e escassez de oxigênio. Enquanto a campanha está parada, somente os profissionais do Samu estão sendo imunizados em Manaus. A previsão é que a vacinação seja retomada na sexta-feira, dia 22.