Escrito por: Deutsche Welle
Agências humanitárias correm contra o tempo para combater surtos “inevitáveis” de doenças. Catástrofe provocou inundações e danificou hospitais. Número de mortos chega a 762
O risco de epidemias ameaça agravar ainda mais a situação dos sobreviventes do ciclone Idai, que há dez dias devastou extensas áreas de Moçambique, do Malaui e do leste do Zimbábue. Neste domingo (24/03), o número de mortos na catástrofe alcançou 762 – 446 só em Moçambique. Centenas de pessoas ainda estão desaparecidas.
"É inevitável que surjam casos de cólera e malária. Em muitas áreas, já estamos lutando contra casos de malária", afirmou o ministro moçambicano do Meio Ambiente, Celso Correia. "Sabemos como surge a malária. Temos muitas zonas inundadas.”
Águas paradas por longos períodos e o consumo de água imprópria também propiciam o surgimento de doenças diarreicas. E é este o cenário que se vive na região centro de Moçambique desde a última semana, na sequência do ciclone Idai. A Cruz Vermelha Portuguesa também alertou para o risco de surtos de dengue, zika e leptospirose após as inundações em Moçambique.
O representante do Escritório das Nações Unidas para Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha) Sebastian Rhodes Stampa também alertou que surtos de doenças em áreas inacessíveis podem ser "realmente problemáticos".
"Haverá doenças transmitidas pela água", disse. "Mas já temos centros instalados e seremos capazes de administrar a situação.”
Já o Programa Alimentar Mundial (WFP, na sigla em inglês) avaliou que o desastre humanitário que em andamento em Moçambique é comprável à situação do Iémen e da Síria, que são palcos de sangrentas guerras civis.
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha também informou que registrou dois casos de cólera até agora, mas a ONU não confirmou a informação.
Trabalhadores humanitários de todo o mundo continuam chegando à região para levar ajuda a mais de dois milhões de pessoas afetadas. No sábado, o Unicef alertou que pelo menos 1 milhão de crianças ficaram desabrigadas na região após a passagem do ciclone. Mais de cem mil pessoas foram procurar abrigo nos arredores de Beira, a segunda maior cidade de Moçambique.
"As pessoas não sabem o que fazer porque perderam suas casas. Não têm comida, não sabem onde dormir. Isso traz tristeza e ansiedade", disse um padre da cidade. Grande parte da área atingida pelo ciclone permanece sem eletricidade, o que vem complicando os esforços de resgate durante a noite.
Para agravar o quadro, vários hospitais e postos de saúde ficaram severamente danificados com o ciclone.
"Os hospitais não têm energia. Muitas das análises de controle e exames médicos que requerem corrente elétrica não estão a ser feitos agora porque o Hospital Central da Beira, que é o hospital mãe e regional, neste momento não tem energia e por isso não pode fazer diagnósticos. Há muitos doentes que estão a morrer e há doentes que estão a voltar para a casa exatamente porque não se consegue fazer o diagnóstico por falta de energia”, afirmou à DW Daviz Simango, vereador da cidade de Beira.
No vizinho Zimbábue, por sua vez, as inundações catastróficas e deslizamentos de terra deixaram 259 mortos e cerca de 200 desaparecidos, entre eles 30 estudantes, de acordo com dados da ONU. Outras 56 pessoas morreram no Malaui.
A ONU, que está coordenando respostas de emergência causadas pelo ciclone, disponibilizou em sua página canais para doações.