Escrito por: Rodrigo Gomes, da RBA
Prefeitura de São Paulo diz que precisa de mais 88 motoristas e 45 médicos para rodar com os 122 veículos o dia todo
A prefeitura de São Paulo finalmente admitiu que metade das ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) não está operando 24 horas por dia como deveria. Conforme a RBA denunciou em março deste ano, o déficit de profissionais e a reorganização do serviço deixa a população da capital paulista com apenas 80 das 122 ambulâncias do Samu da capital paulista operando em cada turno. A gestão do prefeito Bruno Covas (PSDB) abriu convocação para que motoristas façam plantões extras e diminuam o déficit de carros de emergência.
O serviço tem atualmente 400 motoristas, que atuam em plantões de 12 horas por 36 horas. E precisa de mais 88 para garantir a operação de todos as ambulâncias do Samu. A prefeitura aumentou o valor pago pelo plantão extra, de R$ 70 para R$ 184 e liberou até oito plantões extras por profissional. A gestão também informou precisar de mais 45 médicos socorristas para compor as equipes. Na terça-feira (30), a prefeitura recebeu 20 novos veículos do Samu.
Mas o Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo (Sindsep) diz que o déficit de profissionais é ainda maior. Dados da entidade indicam que, em 2017, era necessário contratar mais 154 condutores, 32 médicos, 32 enfermeiros e 122 auxiliares de enfermagem para manter 122 ambulâncias rodando. Para Sérgio Antiqueira, presidente do Sindsep, a medida da prefeitura não vai resolver nenhum problema. “Não adianta apenas ter motorista. Vai colocar as ambulâncias do Samu para rodar sem equipe médica? É um tapa-buraco, não se pode nem considerar um paliativo, porque não resolve nenhum problema”, afirmou.
Antiqueira lembra que a melhora da remuneração de plantões extras era reivindicação dos condutores, mas avalia que usar esse recurso como solução para o déficit de profissionais coloca trabalhadores e a população em risco. “O plantão extra é para quando falta um profissional de uma equipe. Não para sanar a falta de profissionais causada pela prefeitura, que não abre concurso há anos. Motoristas de ambulâncias do Samu, trabalhando 12 horas por dia, vai sobrecarregar o trabalhador, podendo levar a acidentes pelo cansaço”, afirmou.
“Vale ressaltar que a portaria 190/2019, ao redistribuir as equipes das antigas bases para os novos pontos de assistência – com localização e estrutura inadequadas para a qualidade e agilidade na assistência a população –, desestruturou as equipes já montadas e prejudicou ainda mais o atendimento aos paulistanos”, concluiu o presidente do Sindsep.
A portaria 190/2019 é que orienta a reorganização. No processo, a gestão Covas fechou 31 bases próprias do serviço e alocou as ambulâncias do Samu em Unidades Básicas de Saúde (UBS), unidades de Assistência Médica Ambulatorial (AMA), prontos socorros e outros equipamentos de saúde. A justificativa era ampliar de 55 para 78 os pontos de assistência do serviço, descentralizando o sistema e aumentando a eficiência. A ideia também era deixar a ambulância junto à unidade que receberia os pacientes. Mas o objetivo real era a economia de cerca de R$ 20 mil por mês, que eram aplicados na manutenção das bases.
Na prática, a situação do socorro à população piorou. O tempo de resposta médio das ambulâncias do Samu é de 90 minutos. Isso porque algumas regiões concentraram muitas novas bases e outros locais ficaram com uma cobertura deficiente, seja por que as bases são muito distantes umas das outras ou porque o acesso a avenidas é distante, prejudicando o desempenho da equipe de socorro. Alguns locais ficaram sem qualquer ambulância, como o bairro de Marscilac, cuja unidade foi transferida para a Base Nova Parelheiros, no Parque Florestal, a quase 12 quilômetros de distância. Os trabalhadores sempre alertaram que isso levaria a mais mortes.
Além disso, quase dois terços dos novos pontos de assistência não recebem, ou só recebem em casos excepcionais, os pacientes encaminhados pelo Samu. Dos 78 novos pontos de apoio, apenas 28 ficam em hospitais, prontos-socorros ou Unidades de Pronto Atendimento (UPA). As outras 50 ficam nos chamados “pontos de interesse”, como bases do Corpo de Bombeiros, Unidades de Assistência Médica Ambulatorial (AMA), Unidades Básicas de Saúde, Centros de Assistência Psicosocial (Caps), entre outras, que não atendem urgências.
Metade das equipes fica em salas a mais de 300 metros de distância do veículo. E quase metade dos locais apresenta obstáculos para saída das unidades de socorro. Entre os problemas relatados por trabalhadores estão o espaço reduzido para manobrar, intenso trânsito de pedestres, feiras livres e escolas na área de saída, portão trancado e chave de posse do vigia. Em 90% das novas bases não há locais para higienização das ambulâncias; 58% não contam com área adequada para desinfecção dos equipamentos médicos; e 28% não possuem banheiros com chuveiro para higiene dos trabalhadores, que voltam das ocorrências sujos de sangue, vômito e outros contaminantes.