Escrito por: Nara Lacerda, Brasil de Fato | São Paulo (SP)
"Entendemos a economia, mas não hesitamos em proteger de maneira abrangente a nossa vida”, afirmou Alberto Fernández
O presidente argentino Alberto Fernández propôs a criação de um fundo mundial de emergência humanitária para enfrentar a pandemia do coronavírus durante videoconferência com líderes do G20 – bloco que reúne as 20 maiores economias do mundo, nesta quinta-feira (26). "Ante o dilema de preservar a economia ou a vida, não duvidamos, escolhemos a vida", postou o presidente em seu perfil no Twitter.
“Não há lugar para demagogias ou improvisações. Enfrentamos o falso dilema de preservar a economia ou a saúde de nosso povo. Entendemos a economia, mas não hesitamos em proteger de maneira abrangente a nossa vida”, afirmou o presidente argentino durante a conferência, segundo a agência de notícias Télam.
Na reunião com o líderes do G20 para discutir medidas conjuntas de prevenção e combate aos efeitos da pandemia, Fernández reforçou discurso que tem mantido perante a crise gerada pelo avanço do novo coronavírus.
Diferente do presidente brasileiro Jair Bolsonaro, que se colocou contra a recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) e pediu a volta à normalidade das atividades no país, Fernández defende a manutenção do isolamento social enquanto for necessário para garantir a saúde da população.
Desde o dia 20 de março, todos na Argentina devem permanecer em isolamento social obrigatório pelo menos até a próxima terça-feira (31), quando será reavaliada a situação. O Estado está utilizando a Polícia Federal e militar para aplicar a quarentena.
Nesta quarta-feira, (25), Fernández afirmou que a medida será prorrogada, se necessário."Se tivermos que estender essas medidas, o faremos, porque entre a economia e a saúde, escolho privilegiar a saúde", afirmou. O presidente argentino classificou como mau exemplo para o resto da sociedade tentativas de burlar o isolamento social. "Para os idiotas, digo que a Argentina dos 'espertos' acabou", disse.
“Há uma orientação muito clara do governo para que a população respeite a quarentena obrigatória", explica Manuel Bertoldi da Frente Patria Grande e membro da coordenação da Assembleia Internacional dos Povos.
Bertoldi afirma que o avanço do novo coronavírus trouxe para a população argentina um amplo debate sobre a importância do Estado para garantir a saúde pública para a população.
"Neste cenário de crise, está acontecendo um debate sobre a necessidade de um sistema de saúde público e a presença do Estado em termos de garantir certos serviços sociais e certa distribuição da riqueza. O povo argentino está se dando conta, pela própria realidade, da necessidade de um estado forte, um estado presente, garantindo o sistema de saúde, sistema de educação e sobretudo políticas de redistribuição de riqueza”, afirma.
O presidente argentino enviou ao Congresso nesta quarta-feira (25) um projeto para congelar o valor dos aluguéis por 180 dias e proibir os despejos durante esse período.O país já havia adotado desde a última semana, uma série de medidas econômicas, sociais e trabalhistas para enfrentar o vírus e aliviar os impacto econômico nos mais vulneráveis.
Fernández alocou fundos substanciais para garantir o apoio do Estado a negócios e trabalhadores cuja atividade foi interrompida por causa da quarentena, e designou mais recursos para o seguro-desemprego. Ele também requisitou uma linha de crédito para assegurar a produção e disponibilidade de produtos básicos, e manter o mínimo de atividade econômica.
Antes de Fernández tomar posse em dezembro, a Argentina passava por uma das piores crises econômicas de sua história, consequência das políticas neoliberais do presidente anterior, Mauricio Macri.
Depois de tomar posse, ele imediatamente começou a trabalhar para desfazer o dano causado por Macri, focando em socorrer mais de 40% da população que havia sido jogada na pobreza. O sistema público de saúde também foi severamente afetado sob Macri, que chegou a dissolver o ministério responsável pela área.
Bertoldi aponta que a Argentina vem de uma situação muito deficitária na área da saúde, gravemente deteriorada durante o governo Macri em especial nos grandes conglomerados urbanos, “onde o sistema de saúde frente a uma pandemia como essa que estamos atravessando não tem a capacidade nem mais remota de suportar”.
“É importante que se priorize a saúde pública. Estamos vindo de um contexto muito desfavorável ao nosso país. O presidente anterior Maurício Macri havia dissolvido o ministério da Saúde, quando assume Alberto Fernández a primeira coisa que fez foi restituir tanto o ministério da Saúde quanto o do Trabalho que haviam sido fechados. E desde então vem tentando reposicionar em termos orçamentários a Saúde”, conclui Bertoldi.