Escrito por: Luiz Carvalho

Articular ações de comunicação segue como desafio

Para dirigentes presentes no Encontro Nacional de Secretários da CUT, construir e unificar mídias caminha ao lado da democratização do setor

Roberto Parizotti
Mesa de abertura do encontro nacional de secretários de comunicação


Não faltam veículos e comunicadores nas organizações sindicais, mas unificar essa teia em torno da produção comum e em defesa de interesses semelhantes da classe trabalhadora continua como o grande desafio do movimento sindical.

A avaliação de dirigentes cutistas durante a abertura do encontro de secretários de Comunicação da CUT, atividade que antecede o Enacom (Encontro Nacional de Comunicação), é que estreitar laços se torna ainda mais importante num cenário de governo golpista.

Para o secretário-geral da Central, Sérgio Nobre, uma alternativa para furar o bloqueio midiático é investir na TVT (TV dos Trabalhadores) como uma forma de falar para além das próprias bases.

“Em quase todos os 12 mil sindicatos temos jornalista, temos diversas rádios comunitárias, temos revista, TV, mas não conseguimos articular e fazermos uma rede. A TVT precisa de retransmissora para fazer comunicação em massa nos estados para fazer programação local e ainda retransmitir o que produz a emissora”, explicou.

Conjuntura

Ao tratar da conjuntura, Nobre afirmou que especula-se no Senado ser possível reverter alguns votos, caso a presidenta Dilma Rousseff sinalize com a convocação de plebiscito para novas eleições. Mas, ainda que retorne, encontrará um cenário árido para implementar propostas progressistas.

“Caso o golpe se consolide, o Michel Temer tem chance de levar o projeto em frente porque está baseado no corte brutal de gastos públicos e privatização, é extremamente perverso, mas, no papel, recupera finanças. O problema é que isso impacta milhões de pessoas que irão para exclusão, já conhecemos essa receita. Provocar recessão para diminuir inflação pelo caminho mais duro. Até 2018 pode entregar todo nosso patrimônio, entregar a Caixa Econômica, privatizar a Petrobrás e acabar com lei de partilha”, disse.

Por outro lado, Sérgio Nobre lembrou que o governo tem dificuldade de se estruturar, porque Temer é frágil, alvo da Lava Jato e não é o preferido da direita, o que abriria caminho para novas eleições.

Sobre essa questão, ele destacou que a Central está disposta a avaliar uma alternativa que seja discutida com a população e impeça o fortalecimento de um ataque furioso à democracia.

“O que pode acontecer de pior para o país é o golpe se consolidar, porque afasta presidenta honesta, demonstra desrespeito às instituições. Qualquer alternativa que seja democrática e pactuada com sociedade, não tem como a CUT se opor.”

Na avaliação de Nobre, além das empresas que apoiaram as eleições de Lula e Dilma, os sindicatos e os movimentos sociais, por serem fundamentais nessa batalha pela consciência das pessoas, também serão perseguidos.

“Vão tentar nos diminuir, vemos aí a relação entre Força e UGT que planejam se fundir. Não ficarão maiores que nós, como estão dizendo, mas se aproximarão muito.”

Como resposta, falou o dirigente, as centrais devem construir um grande encontro da classe trabalhadora com uma pauta comum. “A ideia é fazer algo no Pacaembu, lançar documento com reivindicações comuns e a construção de greve geral no país. Vamos passar período muito difícil e a comunicação será fundamental para mudar esse cenário”, analisou.

Rede interna

Para o secretário de comunicação da CUT, Roni Barbosa, os desafios estão em descobrir um caminho atuar como alternativa num país de mídia concentrada e qual o papel dessa mídia contra hegemônica num cenário de golpe.

“A CUT precisa aprimorar a articulação de rede e a narrativa de comunicação. O desafio é enorme num país em que os meios de comunicação estão nas mãos de poucas famílias. Ainda que nas redes sociais consigamos competir em igualdade ou até ultrapassar a direita, devemos destacar que nem todos acompanham essa mídia”, pontuou.

Secretário-adjunto de Comunicação da Central, Admirson Ferro Júnior, o Greg, reforçou que além de combater o monopólio é preciso apresentar saídas.

“Não adianta só brigar pela democratização dos meios de comunicação, precisamos também construir alternativas que não falem apenas para nós. E, portanto, também falar sobre qual narrativa utilizaremos para atingir nosso público”, disse.

Conforme definiu a secretária de Comunicação da CUT-RJ, Maria Eduarda Quiroga, a Duda, a classe trabalhadora começa a aprender sobre comunicação colaborativa com a construção de grupos como as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo. E da necessidade de se envolver em atividades populares para fazer a luta política.

“Precisamos fazer um portal da esquerda e, nos moldes do Festival da Utopia, aprofundar redes, laços, promover um trabalho conjunto dentro e fora das redes. A disputa da narrativa, com fotos imediatas do evento, produção de memes é uma alternativa para nós mesmos contarmos nossa história nessa disputa pela narrativa”, definiu.