“As balas não irão nos calar”, diz coordenadora do acampamento pró-Lula
Organizadores da vigília denunciaram omissão dos órgãos de segurança pública do Paraná e já confirmaram: vai ter 1º de maio em Curitiba
Publicado: 29 Abril, 2018 - 16h29 | Última modificação: 29 Abril, 2018 - 16h37
Escrito por: Júlio Carignano/ porem.net
Após o ataque ao acampamento Marisa Letícia, em Curitiba, que deixou duas pessoas feridas na madrugada deste sábado (28), os organizadores da vigília Lula Livre, denunciaram a omissão dos órgãos de segurança pública do Estado e o descumprimento do acordo firmado junto às autoridades para o deslocamento do acampamento ao terreno que fica a cerca de 800 metros da sede da Polícia Federal.
O atentado aconteceu por volta das 4 horas quando a maioria das pessoas estavam dormindo. O local abriga cerca de 60 pessoas, entre elas idosos e idosas, crianças e gestantes. Segundo relato dos acampados, foram oito disparos feitos por homens em um carro. A Secretaria da Segurança Pública do Paraná, por sua vez, informou que os disparos partiram de um indivíduo a pé.
Duas pessoas foram feridas. Uma mulher foi atingida de raspão no ombro e um jovem levou um tiro no pescoço. O rapaz está hospitalizado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), porém não corre risco de morte. Peritos da Polícia Cientifica do Paraná, policiais militares e da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), da Polícia Civil, estiveram no local. Foram recolhidas cápsulas de pistola 9 mm. Foi aberto um inquérito para apurar o caso.
Edna Dantas, coordenadora do acampamento Marisa Letícia, criticou a omissão da segurança pública do Paraná. “Sofremos ataques todos os dias no acampamento. Sejam eles verbas ou físicos. Atiram pedras, soltam rojões. E muitas vezes quando procuramos os policias eles fazem descaso da nossa militância que está pacificamente se manifestando. A segurança pública está sendo omissa, ela está protegendo os nossos agressores”, apontou.
A organizadora relatou a demora da polícia chegar ao local após o comunicado da coordenação do acampamento. Algo que poderia ter sido evitado se tivesse maior policiamento nas imediações.
Emocionada, Edna afirmou que os militantes sofrem perseguição por defenderem a democracia. “Estamos sendo perseguidos por defendermos uma ideia, porém as balas não irão nos calar”, ressaltou.
Regina Cruz, coordenadora estadual da Central Única dos Trabalhadores (CUT), cobrou o cumprimento do acordo firmado com os organizadores da vigília Lula Livre. “Desde que o acampamento mudou-se para o outro local, nunca tivemos segurança pública por lá. A segurança toda está sendo organizada pela própria militância”, relatou. A líder sindical afirmou que o ataque não irá desmobilizar os apoiadores do ex-presidente Lula. “Não sera um tiro que irá nos estremecer, continuaremos na luta”, disse Regina.
O deputado federal Enio Verri (PT-PR) também esteve neste sábado acompanhando as diligências e a perícia no acampamento. Ele entrou em contato com contato com a comandante da Polícia Militar do Paraná, Audilene Rocha. “A comandante assumiu o compromisso de colocar mais policiamento no local. Tentei ligar para o secretário de Segurança [Julio Reis], porém ele estavam em reunião”, disse o parlamentar, que classificou o atentado como um “ataque fascista”.
Tragédia anunciada
Por meio de nota divulgada na manhã deste sábado (28), as diversas organizações e movimentos sociais que integram a vigília Lula Livre repudiaram de forma veemente o ataque. “A sorte de não ter havido vítimas fatais não diminui o fato da tentativa de homicídio, motivada pelo ódio e provocação de quem não aceita que a vigília é pacífica, alcança três semanas e vai receber um Primeiro de Maio com presença massiva em Curitiba. Não nos intimidarão!”, diz trecho da nota.
Para os organizadores, o atentado foi uma crônica anunciada. “Nós desmanchamos o acampamento cumprindo ordem oficial. Fizemos a opção de ir para um terreno e seria garantida a segurança. Agora o que cobramos da Secretaria de Segurança Pública é investigação, que identifique o atirador”, enfatizou Dr. Rosinha, presidente do PT estadual e integrante da coordenação da vigília.
Na noite do dia 17 de abril, integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) foram atacados em um trecho da Avenida Paraná, no caminho entre a unidade da Polícia Federal e o terreno onde estão montadas as barracas do acampamento. O ataque partiu de integrantes de uma torcida organizada do Coritiba.