Escrito por: Leonardo Wexell Severo, de Assunção - Paraguai
Denunciam motoristas da Linha 49, demitidos e perseguidos por organizar Sindicato
Cartazes denunciam ministro Guillermo Sosa como cúmplice do dono da empresa, deputado Celso Maldonado
A denúncia de Maria Candia, secretária-geral da Federação Paraguaia de Trabalhadores de Transporte (Fepatrat) foi feita no final da tarde de quinta-feira (19), na esquina das ruas Herrera e Paraguari, na capital paraguaia, em frente ao ministério. A declaração foi dada debaixo da mesma lona sob a qual mais de duas dezenas de motoristas se mantiveram crucificados, com pregos rasgando a carne das mãos, desde o dia 30 de junho até o começo de novembro, reivindicando ser recebidos pelo ministro Guillermo Sosa.
Protegido de Cartes, Sosa é acusado de ser cúmplice do dono da empresa, deputado Celso Maldonado, em suas práticas antissindicais e criminalização das entidades populares. Tudo, em benefício próprio, como está fartamente comprovado. A postura remete à “melhor” tradição ditatorial de Alfredo Stroessner (1954-1989), tristemente célebre pelos inumeráveis crimes contra todo e qualquer ser humano que ousasse questionar seu desgoverno.
Advogado Victor Azuaga condena armação do governo
Presidente da Fepatrat, Juan Villalba alertou que “está havendo uma traiçoeira articulação, nas nossas costas, entre o governo, o sindicato patronal e alguns ‘dirigentes’ que não representam ninguém. O objetivo é livrar a cara de Cartes”. “Publicaram uma resolução falsa sobre o atendimento às nossas reivindicações para colocar panos quentes na greve geral e também tentar diminuir a pressão internacional, pois os sindicalistas estão boicotando a reunião do Mercosul em Assunção, que deveria acontecer no final de novembro, em protesto contra as perseguições”, declarou Villalba.
Mostrando as cicatrizes deixadas pelas marcas dos pregos, Marco Antonio Leiva falou sobre a forte determinação dos mais de 50 trabalhadores da Linha 49 de pressionar para garantir os salários não pagos e os direitos negados. “O dono é um deputado que deveria dar o exemplo, mas é o pior desastre. Nossas jornadas eram de 16 horas, chegando até a 18 horas diárias, pagando por itinerário valores irrisórios. Estamos aqui para que isso nunca mais aconteça com ninguém”, frisou. Enquanto Leiva apontava os frequentes e reiterados abusos, vários colegas de profissão diminuíam a velocidade dos ônibus para depositar alguma quantia na caixinha em solidariedade ao movimento,
Também advogado dos trabalhadores rurais presos políticos de Curuguaty, Victor Azuaga sublinhou que há um padrão de comportamento altamente autoritário em todas as ações do governo Cartes. “Quando tentaram tirar à força os motoristas de frente de uma instituição pública, como é o Ministério do Trabalho, vieram com a Polícia Nacional para amedrontar. Mas a polícia não tinha qualquer legitimidade, tanto é assim que a Justiça se posicionou a nosso favor”, declarou. Ainda assim, recordou Azuaga, “no dia da audiência a polícia desacatou a ordem judicial e impediu a participação dos trabalhadores”. “É uma sucessão de atropelos”, acrescentou.
Na avaliação do advogado, o caminho da mobilização popular é a única alternativa para fazer o país sair da grave crise em que se encontra, particularmente para fazer frente ao profundo autoritarismo que contamina as diferentes estruturas de governo. “Vale lembrar que os sete advogados dos presos de Curuguaty estão sendo ameaçados de ter o seu registro profissional cassado. Querem que saiamos para que entrem ‘defensores públicos’ que entregarão os camponeses na bandeja para os latifundiários. É esse tipo de justiça que buscam impor”, condenou Azuaga.
Para o secretário-geral da CUT-Autêntica, Victor Ferreira, “há dirigentes que se prestam a fazer o jogo do governo contra a greve, que tem entre suas reivindicações a jornada de trabalho de 40 horas semanais; o direito à liberdade sindical e à contratação coletiva, o respeito aos direitos e a não criminalização da luta social”. “Defendemos um reajuste salarial de 25%, para repor as perdas do último período; o controle dos preços da cesta básica; a redução do valor das passagens de ônibus; o fim das demissões imotivadas; aposentadoria digna; defesa da Previdência Social; combate às privatizações; reconhecimento de todas as centrais sindicais e a imediata demissão do ministro Guillerme Sosa”, concluiu Ferreira.
Representantes da CUT-A estarão reunidos em São Paulo, na sede da Confederação Sindical das Américas, quarta e quinta-feiras (25 e 26), para falar da perseguição aos motoristas da Linha 49 e aos camponeses de Curuguaty - há mais de três anos presos sem julgamento.