Escrito por: CUT Brasil, com informações do Sinpaf

Assédio Moral na Embrapa é denunciado em audiência na Câmara

Presidente da empresa recusa-se a receber as denúncias do sindicato.

Reprodução
Audiência pública ouve funcionários da Embrapa

A Embrapa e seus graves problemas atuais foram tema de uma Audiência Pública na Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados.

O encontro, na última quinta-feira (23/11), debateu o assédio moral na Embrapa, o trabalho análogo a condições de escravo de faxineiras e demais empregados terceirizados, o assédio contra jornalistas, além da falta de disponibilidade dos gestores da Embrapa para discutir temas relevantes pertinentes à organização.

Deputados da Comissão e representantes do MPT (Ministério Público do Trabalho)solicitaram audiência ao  presidente da Embrapa, Maurício Lopes, para debater as questões surgidas na audiência, mas Lopes recusou-se a recebê-los . Seguem abaixo os vídeos de alguns depoimentos ocorridos na audiência pública.

Assédio Moral 

Indramara lobo de Araújo, analista de transferência de tecnologia e comunicação empresarial da Embrapa Amazônia Ocidental, fez um longo relato sobre o assédio moral e as violências vividas na empresa. “A Embrapa faz a gestão do medo com o funcionário. A gente já entra sabendo que a qualquer momento e por qualquer coisa a gente pode ser demitido por justa causa”, disse elaq, ao revelar que atualmente sofre de depressão, transtorno de ansiedade e pânico, doenças causadas advindas do trabalho.

“Estamos sempre sendo ameaçados por demissão por justa casa. O que acontece com gestores que ameaçam, perseguem e assediam constantemente os empregados sem que haja razão para isso. No meu caso, inauguraram a agressão física. Um chefe, um superior da empresa chegou a me agredir fisicamente”, relatou.

“Não vim para a Embrapa com o propósito de adoecer dentro dela. Estou de licença médica há oito meses. Estou tendo picos de pressão, transtorno de ansiedade e uma série de problemas de saúde que tem prejudicado meu trabalho e minha família”, lamentou Indramara.

Vários presidentes estaduais das sessões do Sinpaf (Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário)  denunciaram retaliações por protestarem irregularidades cometidas em campos experimentais da empresa.

Segundo eles, a Embrapa tem se preocupado mais com sua imagem institucional e de agir contra quem denuncia eventuais irregularidades, do que solucionar os problemas trabalhistas, de saúde e de segurança do trabalho apontados pelo sindicato dos trabalhadores.

“A vítima fica no receio de apresentar tais fatos, porque acaba como vilã na história. Falta um olhar interno para ver situações que ocorrem, muitas vezes, escondidas, e que estão sendo trazidas nesse Plenário. Não somos inimigos da empresa, somos construtores dos resultados históricos conquistados”, diz Antônio Aparecido, do SINPAF-Cerrados.

“A Embrapa tem muitos gestores competentes tecnicamente, mas que não sabem tratar dos conflitos, não há humanização. Falta habilidade para tratar com pessoas”, critica Eraldo Rodrigues, do SINPAF-Pará.

De acordo com Rodrigo Brito, presidente da Central Única dos Trabalhadores do Distrito Federal (CUT-Brasília), vários casos simples, que poderiam ser resolvidos no diálogo, acabaram gerando conflitos judiciais em que a empresa perdeu.

“É necessário uma política institucional para coibir o assédio moral e os maus-tratos contra trabalhadores e trabalhadoras. Há anos tentamos dialogar sobre os conflitos trabalhistas e não somos ouvidos”, reforçou Brito.

Manoel Jorge Silva Neto, representante do Ministério Público do Trabalho (MPT), disse que o Brasil tem uma dívida histórica com a valorização do trabalho humano. “Nós no Brasil convivemos e subsistimos ainda com uma democracia jovem, que promove, por resultado da junção dessas circunstâncias, o uso desmedido do poder de forma generalizada”, explicou.

“O assédio moral existe nas relações de trabalho e a forma mais eficaz de combate-lo é reconhecer a sua existência e buscar os instrumentos para o seu banimento”, completou Manoel.

O presidente da Embrapa, Maurício Lopes, não compareceu à audiência. Muito antes de propor a realização do debate no âmbito da CTASP, a parlamentar solicitou reunião com a presidência do órgão por diversas vezes para tratar do assunto, porém, jamais foi recebida pelo gestor.