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Ataque com agrotóxicos cresce em comunidades rurais e deixa moradores em alerta

Para dirigentes da CUT, os disparos crescentes de agrotóxicos em comunidades tradicionais e indígenas estão ligados aos problemas fundiários e de disputa pela terra

Publicado: 04 Dezembro, 2024 - 15h57 | Última modificação: 05 Dezembro, 2024 - 09h15

Escrito por: Walber Pinto | Editado por: Rosely Rocha

Agência Brasil
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Os ataques contínuos de fazendeiros com o uso indiscriminado de agrotóxicos vêm deixando as comunidades rurais e quilombolas preocupadas no Brasil. De acordo com o relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT), órgão ligado à Igreja Católica, divulgado nesta segunda-feira (3), cresceu os disparos de veneno lançado por aviões para atingir moradores em áreas tradicionais de regiões de conflito.

Segundo o levantamento, foram 182 registros em seis meses, o que dá uma média de um ataque por dia. Dez vezes a mais do que no ano passado que somaram 19. Os números também ultrapassam os ataques dos primeiros semestres dos anos de 2015 a 2023, quando foram registrados 122 casos.

Os agrotóxicos de uso agrícola ou veterinário são venenos que causam intoxicação e doenças e é usado especialmente pelo agronegócio, em grandes áreas de monocultura.

Rosalina Amorim, secretária nacional de Meio Ambiente da CUT, critica os ataques de agrotóxicos na agricultura, o que vem tornando as comunidades mais suscetíveis a uma série de problemas de saúde.

“Isso causa intoxicação, que pode se manifestar de maneira imediata ou ao longo da vida, inclusive afetando outras gerações. Além disso, os aumentos dos casos de câncer estão intimamente relacionados ao uso indiscriminado de agrotóxicos”, alerta a dirigente.

A CUT, que faz parte da "Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida”, atua com diversos movimentos sociais em defesa da reforma agrária e de um modo de produção de alimentos que garanta a segurança e soberania alimentar, com respeito a população e ao meio ambiente, como por exemplo a agroecologia.

Para a dirigente, os disparos crescentes de agrotóxico em comunidades rurais e indígenas estão ligados aos problemas fundiários e de disputa pela terra. Ela alerta ainda que é preciso proteger essa população de ameaças e intimidações de fazendeiros.

É uma forma violenta de tentar expulsar e intimidar as populações e comunidades para que deixem suas terras. Para proteger as populações rurais e indígenas dos efeitos dos agrotóxicos e das agressões relacionadas à disputa fundiária, o governo em suas diversas esferas, municipal, federal e estadual
- Rosalina

Guerra química

A chamada "guerra química", que é lançada por aviões é usada para atingir moradores de áreas tradicionais em regiões de conflito, traz impactos danosos à sociedade e ao meio ambiente.

Rosalina cita ainda que é preciso adotar uma série de medidas integradas, como: fortalecer a fiscalização e regulamentação do uso de agrotóxicos; promoção de alternativas agrícolas sustentáveis; fortalecer a proteção fundiária e a demarcação de terras; criação de políticas públicas para a proteção da saúde; garantir a segurança e o direito à terra das comunidades rurais e indígenas; diálogo entre as esferas de governo; e apoio a movimentos sociais e organizações da sociedade civil.

Violação de direitos humanos

A pulverização aérea por agrotóxicos causa também as violações de direitos humanos, à saúde, alimentação e meio ambiente. Há várias denúncias sobre o efeito dos agrotóxicos sobre famílias camponesas e trabalhadores rurais. Muitos desses trabalhadores e trabalhadoras são obrigados pelo modelo de produção em que estão inseridos a utilizar agrotóxicos em suas roças ou nas de seus patrões.

“Assassinatos, disputas de terras principalmente com o agronegócio, poluição da água e do solo. Esses são só alguns dos direitos dessa população que estão sendo violados”, comenta Jandyra Uehara, secretária nacional de Políticas Sociais e Direitos Humanos da CUT.

Para ela, é preciso pensar políticas estratégicas voltadas para os quilombos, além da demarcação de terras para os moradores de comunidades tradicionais. “Precisamos garantir segurança, acesso a financiamento para melhorias, plantio, construção de habitações, educação, saúde da população negra”.

“A CUT vem denunciando que esse modelo de produção é principalmente destinado à exportação, e não para garantir a segurança alimentar de nossa população. Além disso, geram consequências ao meio ambiente e à saúde como a contaminação dos rios, lençóis freáticos e do ar”, finaliza Rosalina Amorim.

Violência cai

No geral, segundo o relatório, o primeiro semestre de 2024 apresentou menos vítimas da violência no campo no Brasil, em relação ao mesmo período de 2023: foram 417 pessoas (sendo 65 mulheres) em 216 ocorrências.

Já os casos de ameaças de morte (114 casos), intimidação (112) e criminalização (70) lideram a lista