Escrito por: Sul 21

Ativistas no Rio Grande do sul lutam contra exportação de gado vivo para Egito

Preocupadas com o bem-estar dos animais, organizações vêm monitorando a movimentação de navios que transportam animais vivos e pedem para suspender os embarques já há algum tempo

CUT RS

Ativistas que lutam pela defesa dos direitos animais realizaram, nesta terça-feira (28), em Porto Alegre e em Rio Grande, atos públicos em protesto contra o embarque de pelo menos 12 mil bezerros vivos, em um navio no porto de Rio Grande, de onde seguirão para o Egito em uma viagem de aproximadamente 20 dias.

A prática de embarque de animais vivos para exportação vem sendo denunciada internacionalmente há vários anos pelas condições degradantes a que os animais são submetidos até a chegada ao seu destino final, quando são abatidos em frigoríficos.

Em Porto Alegre, o ato foi realizado às 11h, em frente ao Palácio Piratini. Em Rio Grande, os ativistas estão desde ontem no Porto de Rio Grande e, na manhã desta terça se concentraram no centro da cidade, no Largo Dr Pio para conversar com a população.

Um novo ato foi marcado para as 17h, em frente ao Porto, na área onde os animais, que chegam em caminhões lotados, estão sendo embarcados.

No final da tarde, um grupo de ativistas se reuniu em frente ao portão 2 do porto de Rio Grande, onde os caminhões transportando os bezerros chegavam sem parar. Em um vídeo ao vivo transmitido pelo Instagram, uma das ativistas registrou a manifestação de um motorista de um dos caminhões que falou, se dirigindo a elas: ‘vão lavar uma louça’.

“Como vocês estão vendo, o machismo, a misoginia e a opressão contra os animais estão conectadas”, comentou Vanessa Negrini, coordenadora nacional da setorial de Direitos Animais do PT.

Além das denúncias, esse tipo de operação vem sendo objeto de muitas ações judiciais também. A ação relativa ao embarque dos bezerros no navio Elevation, que chegou ao Porto de Rio Grande, foi ajuizada pelas ONGs Princípio Animal e Mercy For Animals.

Preocupadas com o bem-estar dos animais, as duas organizações, bem como o Fórum Animal, vêm monitorando a movimentação de navios que transportam animais vivos e acionando o poder judiciário com o objetivo de suspender os embarques já há algum tempo.

Outros grupos de ativistas também vêm atuando na causa. Desde 2012, quando o ritmo das exportações acelerou, o Brasil exportou em média 400 mil bois vivos por ano. O principal destino dos animais é o Oriente Médio, onde, denunciam essas organizações, eles costumam ser abatidos de forma brutal após uma longa e árdua viagem de mais de 20 dias em meio a fezes, urina e temperaturas elevadas. No Congresso Nacional, tramitam três projetos de lei que pedem a proibição dessa atividade.

Na segunda-feira (27), o Serviço de Fiscalização de Insumos e Serviços Pecuários e Saúde Animal (Sisa/DDA), da Superintendência Federal no RS, do Ministério da Agricultura, deu a autorização para a emissão das guias de trânsito animal (GTA) para o transporte de 11.987 animais.

Segundo a Estância Del Sur, empresa que realiza essa parte da operação, serão necessárias entre 250 e 300 viagens para que todos os animais possam ser levados do município de Cristal ao terminal do Porto de Rio Grande (uma distância de aproximadamente 120 quilômetros).

A luta contra o embarque de gado vivo não começou agora no Porto de Rio Grande. Katia Moreira, que participa de um grupo de ativistas que luta contra essa prática desde 2010, conta que naquele ano foi realizada uma mobilização junto à população de Rio Grande, com a elaboração de um abaixo assinado que foi encaminhado ao Ministério Público. O MP entrou, então, com uma ação civil pública visando parar o embarque de animais por irregularidades relativas a licenças e ao meio ambiente.

“Essa ação do Ministério Público foi frutífera e o embarque foi suspenso. Os animais nem chegaram a ser embarcados pois estavam em situação irregular no local onde aguardavam. Ficou um tempo sem embarque aqui até que retomaram e de novo o Ministério Público entrou com uma ação civil pública em função de problemas ambientais envolvidos na operação", disse.

"No ano passado, a organização não-governamental Princípio Animal entrou com uma ação civil pública tentando garantir a entrada de uma ativista no navio para averiguar as condições dos animais. Como estávamos em pleno distanciamento social causado pela pandemia e acho que nem vacina havia ainda, era necessário um teste covid e acabamos não conseguindo. Como esse tema tomou uma dimensão maior em nível nacional, quando soubemos que esse navio ia chegar para embarcar os bezerros, começamos a nos mobilizar”, relata Katia.

Projeto de Sofia Cavedon pedirá fim da exportação de gado vivo no RS

A deputada estadual Sofia Cavedon (PT-RS) anunciou, nesta quarta-feira (28), que vai protocolar um projeto de lei para banir essa prática no Estado, e buscará assinatura dos demais deputados e deputadas em apoio à proposta. Nas últimas semanas, destacou a deputada, sociedade intensificou uma campanha nas redes sociais exigindo o fim exportação de gado vivo, por violar os direitos animais, além de representar riscos para a saúde humana e para o meio ambiente.

“Sujeitar animais a uma viagem de 20 dias em alto mar, sem qualquer conforto térmico, em local insalubre, fétido, sem espaço para locomoção, é uma tortura que fere os animais não humanos e a Constituição brasileira, que proíbe o maus-tratos aos animais. Estamos num patamar civilizatório em que o sofrimento animal injustificado não é mais tolerado pela sociedade”, justificou a parlamentar.

Na avaliação de Vanessa Negrini, exportar animais vivos, além de cruel, é um péssimo negócio para o Brasil. “Na contramão de boa parte do mundo, o Brasil segue exportando gado vivo, para atender a interesses de pequena parcela de pecuaristas que deseja lucrar com base na tortura e sofrimento animal. No entanto, é o país quem perde empregos, arrecadação de impostos e arca com os prejuízos ambientais e riscos pandêmicos. ”, afirmou.

Vanessa Negrini viajou de Brasília a Rio Grande para acompanhar a mobilização contra o embarque dos bezerros e para tentar registrar imagens dos animais ainda dentro dos caminhões.

O presidente do PT-RS, deputado federal federal Paulo Pimenta, afirmou que o partido vai trabalhar para aprovação deste projeto no Estado. A preocupação com o potencial pandêmico da atividade está entre as preocupações do PT, destacou.

“Com a COVID-19 um número crescente de países está limitando ou eliminando totalmente a prática do transporte de animais vivos. Não podemos brincar com a vida das pessoas e dos animais. Os epidemiologistas da Organização para Alimentos e Agricultura da ONU estão entre os maiores críticos da exportação de animais vivos por favorecer a propagação de doenças”, justificou o parlamentar.

Para mais informações sobre o tema, acesse o relatório investigativo Exportação de Animais Vivos no Brasil 2021

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