Escrito por: Redação RBA
Artistas e entidades vão ao Congresso denunciar PLs em tramitação que facilitam o desmatamento, a mineração e o garimpo em terras indígenas, além de desproteger a floresta da ação de grileiros e criminosos
Enquanto artistas, ambientalistas, movimentos sociais e estudantes faziam ato público em frente ao Congresso Nacional nesta quarta (9), o cantor e compositor Caetano Veloso foi recebido pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). A razão para ambas as mobilizações foi protestar contra o chamado “Pacote da Destruição“. Se aprovado, o conjunto de projetos de lei em tramitação vai facilitar o desmatamento, a mineração e o garimpo em terras indígenas, além de deixar a floresta à mercê da ação de grileiros e criminosos e até descontrolar completamente o uso de agrotóxicos no país. A transmissão do ato cultural (acima) é do Mídia Ninja.
A concentração para o Ato pela Terra começou por volta das 14h na avenida das Bandeiras, em frente ao Congresso Nacional. O grupo protestou especialmente contra seis projetos de lei (PL):
Antes do grande cultural, às 15h ambientalistas e representantes de organizações sociais participaram de uma audiência pública no Senado. Eles conversaram com o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Na oportunidade, Caetano Veloso entregou uma carta ao chefe do Senado e chegou a cantar o refrão da música Terra, no Salão Negro do Congresso.
Dirigindo-se ao senador, o artista lembrou o sofrimento humano provocado por tragédias climáticas e ambientais como Mariana, Brumadinho, as chuvas recentes em regiões dos estados de Minas Gerais, Bahia e Rio de Janeiro, onde a cidade de Petrópolis ainda recolhe vitimas entre destroços. E advertiu que tudo pode piorar. “O Brasil vive hoje sua maior encruzilhada ambiental desde a democratização. O desmatamento saindo do controle. A violência contra indígenas e povos tradicionais e a nossa credibilidade internacional arrasada”.
Caetano Veloso apelou a Rodrigo Pacheco: “O simples fato de o senhor nos receber aqui é sinal de que tem preocupação com essa agenda, que é central no presente e futuro do Brasil. E nós dois temos motivos de sobra para estarmos preocupados com a questão ambiental”.
Por sua vez, Pacheco afirmou que embora o agronegócio brasileiro tenha a sua importância econômica na pauta de exportações – o setor é o principal interessado na aprovação desses projetos de lei – não pode ser o único contemplado. E disse concordar que os impactos dessas propostas são graves para o meio ambiente, afirmando em público que o Senado vai analisar todas as questões “com zelo, cautela e responsabilidade”. “O Brasil não pode ser pária ambiental”, disse.
Em seguida, por volta das 17h30, o grupo voltou para a área externa do Congresso, onde artistas e ativistas fizeram discursos. Entre os artistas presentes, estavam Maria Gadú, Seu Jorge, Nando Reis, Bela Gil, Cristiane Torloni, Letícia Sabatella, Bruno Gagliasso e Lázaro Ramos. Entre os movimentos e organizações, estiveram representantes da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Greenpeace Brasil, Observatório do Clima, ClimaInfo e Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).
“Eu estou aqui para que a gente possa frear esses projetos de lei. É um pacote de destruição. Eu só queria trazer essa reflexão, que a gente precisa cuidar e olhar para a mãe terra e cuidá-la para que a gente possa regenerá-la, e quem coloca comida no nosso prato são mulheres que plantam sem veneno” – Bela Gil, ativista.
“As mulheres defendem a terra, as mulheres são contra o veneno, as mulheres são pela saúde e pela alimentação saudável. A gente tem muita luta este ano, a gente precisa converter principalmente quem é isento, quem não se aprofunda e quem não entende o que é o agronegócio. Quem alimenta o brasil é a agricultura familiar” – Bel Coelho, chefe de cozinha.
“O nosso país é fruto de uma história perversa de muita violência, mas também de muita resistência, porque, ao contrário do que eles queriam, nós estamos aqui e vamos superar este momento bárbaro da história brasileira. E nós já superamos momentos piores, de 400 anos de escravidão. Os povos indígenas precisam e terão a demarcação de territórios indígenas, o povo quilombola terá seus territórios titulados, o povo ribeirinho, os povos da floresta terão seus direitos!” – Douglas Belchior, historiador e ativista da Coalizão Negra por Direitos.
“A gestão branca deu ruim. Não sabem fazer, saem matando. Eu olho praquele Congresso [Nacional] e só vejo branco fazendo a mesma coisa, o mesmo genocídio. Eu não me vejo ali. Não vamos arredar o pé, não vamos dar mole, não vamos recuar, temos obrigação cívica de impedir o pacote do veneno” – Elisa Lucinda, atriz e escritora.