Escrito por: Maurício Thuswohl RBA
“Esse ato é um marco. A democracia só avança quando aprendemos a falar das divergências na unidade”, disse Lula. Partidos, movimentos sociais artistas e intelectuais destacam repúdio contra o fascismo
Sob os gritos de “Lula livre!”, em seu último pronunciamento público antes de o Supremo Tribunal Federal (STF) deliberar sobre a possibilidade de prisão para réus condenados em segunda instância, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi a principal atração de um ato político que reuniu milhares de pessoas no centro do Rio de Janeiro. Diante de um público que transbordou dos limites do Circo Voador e que, mesmo debaixo de chuva, tomou boa parte do largo próximo aos Arcos da Lapa pedindo justiça para a vereadora assassinada Marielle Franco e o fim da escalada reacionária no Brasil, representantes de sindicatos e movimentos sociais e dos partidos PT, Psol, PCdoB, PDT, PSB e PCO pregaram a unidade da esquerda nas próximas eleições presidenciais como melhor estratégia para mudar novamente os rumos do país.
“Esse ato é um marco. A democracia só avança quando aprendemos a falar das divergências na unidade”, disse Lula. Pré-candidata do PCdoB à Presidência da República, a deputada estadual Manuela D’Ávila (RS) afirmou que Brasil parece hoje ter somente dois partidos: “Temos aqueles que são do partido de Tiradentes e querem a liberdade do Brasil e aqueles do partido de Silvério dos Reis, que querem submeter o país ao interesse de outras nações. O que nos une na esquerda é a luta pela liberdade do Brasil, travamos a mesma luta em defesa da democracia”, disse, acrescentando que “a luta pela democracia passa pelo direito de Lula concorrer”.
Falando em nome do pré-candidato do Psol à Presidência, Guilherme Boulos, que não pôde comparecer ao ato, o deputado estadual Marcelo Freixo (RJ) também afirmou que “o direito de Lula concorrer é uma luta pela democracia”. Ele admitiu que existem diferenças programáticas entre os partidos de esquerda, mas afirmou que a defesa da democracia está acima de qualquer diferença: “Seja ela qual for, a diferença política é menor do que a luta de classes. Não estamos aqui por questão eleitoral, precisamos de muitos encontros como este para travar um debate profundo. Vamos nos encontrar nos principais temas. Os golpistas serão derrotados nas ruas e nas urnas”, disse.
Participaram do ato os pré-candidatos do PT ao Governo do Rio, Celso Amorim, e ao Senado, Lindbergh Farias, além de diversos parlamentares do partido. Pelo Psol, estiveram presentes o pré-candidato ao governo estadual, Tarcísio Mota, e o deputado federal Jean Willys (RJ). Pelo PCdoB, falaram o pré-candidato ao governo, Léo Giordano, e a deputada federal Jandira Feghali (RJ). Recém-chegado ao PSB, o deputado estadual Carlos Minc (RJ) também saudou a unidade da esquerda: “Desta vez, os partidos estão com muita vontade de construir a unidade para impedir que o fascismo cresça no Brasil. Os vis e covardes não nos calarão”, disse.
Também estiveram no Circo Voador o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad; artistas como Chico Buarque, Osmar Prado e Wagner Tiso, entre outros; representantes da academia como Márcia Tiburi, Emir Sader e Luiz Pinguelli Rosa, entre outros; líderes sindicais como Vagner Freitas, presidente da CUT, e José Maria Rangel, presidente da Federação Única dos Petroleiros (FUP); além de dirigentes dos movimentos sem-terra, sem-teto, negro e de mulheres, entre outros.
Escalada fascista
As referências a uma possível escalada fascista no Brasil deram o tom de várias intervenções. Falando como representante dos intelectuais, Márcia Tiburi disse que é preciso construir a unidade no dissenso: “A luta antifascista se coroa com a unidade da esquerda”, disse. Léo Giordano seguiu na mesma linha: “Os partidos de esquerda fizeram algo digno de nota, um programa coletivo contra o fascismo e o atraso. Respeitamos a nossa diversidade de opiniões e não nos anulamos em nome dessa unidade. Estamos mais fortes e vigorosos”, disse.
O ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, alertou sobre o “ovo de serpente” representado pelos grupos de extrema-direita que parecem cada vez mais à vontade no Brasil: “Os partidos de esquerda querem as mesmas coisas. Querem dizer não à subserviência a interesses externos, querem defender o pão do povo”, disse. Já Jean Willys propôs a criação de um movimento antifascista e defendeu o direito de Lula ser candidato: “A democracia no Brasil está golpeada e esgarçada. Que se exijam provas para prender Lula! Nós não vamos deixar”, disse.
Mídia
Menos descontraído do que de costume, Lula afirmou não temer a prisão: “Não vão prender meus pensamentos. Se não me deixarem andar, eu andarei pela perna de vocês. Se não me deixarem falar, eu falarei pela boca de vocês. Se meu coração não estiver mais batendo, baterá pelo coração de vocês. O problema deles não sou eu. O problema deles são vocês.”, disse.
Mônica Benício, companheira da vereadora do Rio pelo Psol do Rio Marielle Franco, morta a tiros em uma emboscada no centro carioca, dia 14 de março, afirmou que o assassinato de Marielle “é só mais um ataque à democracia que estamos vivendo”. Em seu discurso, Lula responsabilizou indiretamente a TV Globo pela morte da ativista. “Certamente, se a Globo tivesse falado da Marielle em vida meio por cento do que ela falou depois da morte, quem sabe o assassinato não teria acontecido.”
Dirigindo-se a Freixo e Manuela, Lula falou sobre algumas medidas que, segundo ele, um presidente de esquerda não poderá adiar: “Quem de nós ganhar em 2018 tem que fazer a regulamentação dos meios de comunicação e repartir verba da comunicação. Tem também que derrubar a PEC que congela os gastos do Orçamento por 20 anos”, disse.