Ato em defesa dos empregos na Ford é marcado por solidariedade e unidade
CUT, demais centrais e sindicatos defendem nacionalização da Ford e criticam ausência de política industrial no Brasil
Publicado: 21 Janeiro, 2021 - 15h39 | Última modificação: 21 Janeiro, 2021 - 20h53
Escrito por: Érica Aragão e Vanessa Ramos
A CUT e demais centrais sindicais, lideranças de movimentos sociais e sindicalistas de diferentes ramos realizaram na manhã desta quinta-feira (21) ato em solidariedade aos trabalhadores e trabalhadoras da Ford de todo país.
Sem diálogo prévio e negociação, a categoria viu seus sonhos e projetos irem por água abaixo na última semana, diante do anúncio de encerramento das três fábricas da multinacional norte-americana no país.
A mobilização na cidade de São Paulo ocorreu em frente à Sonnervig, concessionária da Ford no bairro do Ipiranga, na zona sul da capital, como parte de uma ação nacional com manifestações em frente a lojas oficiais da marca dos veículos. O protesto com início chegou a ocupar uma via da Avenida Doutor Ricardo Jafet, 1259.
A tônica dos trabalhadores foi a construção de unidade para barrar o fechamento de plantas pelo Brasil e frear o desemprego. Com faixas e bandeiras, eles entoaram gritos de ordem exigindo que o emprego seja mantido.
O vice-presidente da CUT, Vagner Freitas, falou sobre as famílias desamparadas neste momento e a irresponsabilidade do governo para responder a mais esta crise no país.
“Queremos que o governo estabeleça alguma forma de manutenção da produção e dos empregos com a nacionalização da empresa, com cooperativa de trabalhadores ou outra solução neste sentido. Não podemos deixar os trabalhadores abandonados e assistir calados o aumento da miséria, do desemprego e da morte, principalmente num momento de pandemia”, afirmou Vagner.
O dirigente ainda enfatizou que o governo Bolsonaro deveria atuar como em outros momentos fizeram governos que estabeleciam políticas sociais e mantinham o diálogo com as entidades sindicais.
Posteriormente, exemplificou o caso da GM nos Estados Unidos, quando diante de uma crise, o governo daquele país nacionalizou a empresa e tornou a patrimônio do povo norte-americano até construir uma solução para a vida dos trabalhadores e da economia.
Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC), Wagner Santana, o Wagnão, a categoria está revivendo 2019, quando houve o fechamento da Ford em São Bernardo do Campo, na grande São Paulo, impactando cerca de 100 mil trabalhadores.
A crise atual reforça, segundo o dirigente, a necessidade de discutir nacionalmente a desindustrialização no país.
“A Ford construiu riquezas e agora diz que o Brasil não serve mais? É como se eles dissessem que só o dinheiro dos brasileiros é que importa para a compra de veículos produzidos fora do país. A gente precisa de um debate nacional porque são 17 empresas por dia que saem do país e milhares de desempregados diariamente”, disse o dirigente.
Para o secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, a unidade entre as centrais é fundamental para ampliar o debate em sociedade e junto a parlamentares.
“A unidade é o mais importante porque a gente garante não só as reivindicações econômicas e trabalhistas, que são importantes também, mas colocamos o debate político e a responsabilidade do presidente nesta situação que estamos vivendo”, disse.
Ausência de governo e de política industrial
O secretário-geral da CUT São Paulo, João Cayres, criticou igualmente a ausência de uma política industrial no Brasil.
"Não se trata só da Ford e de seus milhares de empregos perdidos, trata-se também de toda uma cadeia produtiva que será afetada, dos impactos à economia local nas cidades, de novas fábricas que podem ser fechadas com esse desgoverno de Bolsonaro que não tem preocupação alguma com o setor e com políticas de manutenção do emprego e da renda no país", ressaltou.
Liderança do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MST) e da Frente Povo Sem Medo, Guilherme Boulos disse que se o país tivesse governo, não seria permitido que uma empresa que usufruiu de bilhões de reais em incentivos saísse do país no meio de uma segunda onda da pandemia de covid-19 deixando milhares de famílias desamparadas.
Destacou também a importância da luta e colocou o MTST e a Frente Povo sem Medo à disposição dos trabalhadores.
“Não temos governo, não temos política industrial, tecnologia, ciência e inovação. Os empregos qualificados estão indo embora. Este governo quer fazer do Brasil uma fazenda só para produzir soja e exportar. É momento da gente lutar, com responsabilidade e não promovendo, como eles, a expansão do vírus”, afirmou.
Pautas fundamentais
O ‘Fora Bolsonaro’ foi uma das principais bandeiras da mobilização em São Paulo.
O vice-presidente da CUT, Vagner Freitas, pediu para que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), saia de cima dos mais de 400 pedidos de impeachment e coloque para votação imediata.
Lideranças e dirigentes presentes também ressaltaram as dificuldades quanto à vacinação gratuita e ampla no país e a retirada do auxílio emergencial como exemplos trágicos do governo atual, intitulado pelos movimentos como “genocida”.
*Edição: Rosely Rocha