Escrito por: Luiz Carvalho e André Accarini
Criadores de aves e trabalhadores protestarão dia 13 de outubro contra companhia que monopoliza mercado, rebaixa pagamento e promove assédio moral
Por trás de marcas como Friboi e Seara há histórias de produtores rurais endividados e trabalhadores multilados em nome do lucro da multinacional brasileira JBS, maior produtora de carnes do mundo e primeira em faturamento do Brasil.
Para denunciar os abusos que a empresa pratica, no dia 13 de outubro, a partir das 14 horas, produtores, empregados da JBS-Friboi e representantes da CUT e do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) ocuparão a Avenida Paulista para revelar um cenário que envolve até mesmo suicídio de agricultores incapazes de pagar as contas por não receberem o suficiente para custear a produção.
“A JBS é uma das piores empresas da indústria da alimentação para se tratar e esse ato será uma forma de pressionar os patrões a estabelecerem uma mesa de negociação tanto com os trabalhadores quanto com os produtores. O que temos é um monopólio em que a companhia dita as regras, demite e desfaz contratos com quem não se submete às condições precárias”, critica o presidente da Contac (Confederação Brasileira Democrática dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação), Siderlei Oliveira.
A relação entre trabalhadores, fornecedores e a JBS-Friboi já rendeu uma ação civil do Ministério Público do Trabalho de Criciúma (MPT) para assegurar direitos trabalhistas e revisar o contrato com o frigorífico, chamado de integração.
A “parceria” com o fornecedor determina que o produtor seja responsável por criar e cuidar das aves para a empresa, sem que o vínculo trabalhista seja reconhecido.
Para piorar, os agricultores recebem uma média entre R$ 0,30 e R$ 0,40 por ave, apesar de um estudo realizado pela Unesc (Universidade do Extremo Sul Catarinense) comprovar que o preço de produção do frango é de R$ 1,41.
Recentemente, no Paraná, o MPT também processou a JBS-Friboi em R$ 73 milhões por danos morais coletivos em decorrência de irregularidades como desrespeito às jornadas de trabalho, falta de depósito de FGTS e de pagamento de férias.
Em 2014, segundo dados divulgados pela própria empresa, a receita líquida foi de R$ 120,5 bilhões, 30% a mais em relação a 2013.
“A JBS recebeu R$ 8 bilhões do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), para responder com desemprego, fechamento de unidades, achatamento de salários e piora nas condições de trabalho por onde passa”, ressalta o Secretário de Saúde da Contac, Célio Elias.
O custo de uma vida
O agricultor Emir Teeza, da região de Criciúma (SC), onde há 783 produtores que dependem da JBS-Friboi, aponta que as famílias se tornam reféns da empresa por conta das dívidas adquiridas por meio de empréstimos impossíveis de serem pagos, porque não recebem sequer o valor equivalente ao custo da produção. Segundo ele, a companhia cobra investimento para aumentar a produção, mas negocia o pagamento num parâmetro em que o custo é a vida.
“Na região da Criciúma foram dois casos de suicídio por conta do endividamento. Só temos de cumprir ordens e obedecer o que eles impõem. Inclusive, somos alertados para não falar mal da empresa, senão sofremos retaliações e corremos o risco de termos o contrato suspenso. E muitos seguem isso, porque há um monopólio na região e fica difícil vender para outras empresas”, explicou o também presidente da Associação dos Avicultores do Sul Catarinense.