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Atos contra jogador Luighi expõe uma sociedade sem pudor de demonstrar que é racista

Para a Secretária da CUT, a luta contra o racismo precisa ser diária e nós não podemos nos calar

Publicado: 11 Março, 2025 - 17h49 | Última modificação: 11 Março, 2025 - 18h13

Escrito por: Luiz R Cabral | Editado por: Rosely Rocha

Instagram do jogador
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O jogador de futebol do Palmeiras sub-20 Luighi é mais um trabalhador vítima do hediondo crime de racismo cometido todos os dias, por uma sociedade cada vez mais cruel, individualista e pouco empática que está fazendo do racismo uma prática banal e comum. 

Segundo Julia Reis Nogueira, Secretária de Combate ao Racismo da CUT, "Infelizmente não só no Brasil, mas no mundo inteiro, o racismo cresce e parece que perdeu o pudor e a vergonha de se manifestar. O que a gente tem acompanhado infelizmente no futebol é uma prática comum nas empresas. A CUT tem uma campanha, basta de racismo no trabalho e na vida, exatamente para coibir, todos os dias, que o trabalhador e a trabalhadora não sejam mais vítimas de racismo, não sejam discriminadas em razão da cor da pele", diz. 

O que aconteceu

Luighi reagiu às provocações e insultos que recebeu, no último dia 6 de março, de torcedores do time paraguaio, Cerro Porteño, que se dirigiram ao atacante brasileiro com gestos que imitavam macaco e cuspes. O time paraguaio perdia o jogo por três a zero, numa partida válida pela Libertadores da América Sub-20.

Ao final do jogou, o atacante reagiu a uma pergunta de um repórter sobre o jogo e não sobre os atos de racismo da torcida paraguaia. Em lágrimas ele respondeu: É sério isso? Você não vai perguntar sobre o ato de racismo? É sério? Até quando a gente vai passar por isso? Até quando? Me fala até quando a gente vai passar por isso. O que fizeram comigo foi um crime. Você (entrevistador) vai perguntar sobre o jogo? É sério? A CONMEBOL vai fazer o que sobre isso? A CBF? Não vai perguntar sobre isso? Não ia, né? O que fizeram foi um crime. Aqui é formação, estamos aprendendo”.

O racismo que ele sofreu repercutiu internacionalmente, mas teve pouca, ou quase nenhuma, ação efetiva que penalizasse os responsáveis por tamanha barbaridade. Aconteceram, sim, comunicados protocolares de diversas entidades ligados ao mundo futebolista, multas e punições insignificantes.

“O que o jogador fez foi, num ato heroico e corajoso, denunciar. Demonstrando a sua revolta, a sua rebeldia e a sua não aceitação pelo que aconteceu. A luta contra o racismo precisa ser cotidiana, ela tem que ser diária e nós não podemos nos calar”, ressalta Julia.

Violações de racismo e injúria racial

No último dia Nacional de Zumbi e da consciência Negra, 20 de novembro de 2024, o governo federal divulgou uma pesquisa que revela que mais de 5,2 mil violações de racismo e injúria racial foram registradas pelo disque 100 em 2024.

O levantamento do Observatório Nacional dos Direitos Humanos (ObservaDH), iniciativa do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), evidenciou que o racismo aprofunda desigualdades e expõe a população negra a maior vulnerabilidade e exclusão social. Crianças e adolescentes negros estão entre os mais afetados: em 2022, 67% das crianças e 85% dos adolescentes assassinados no Brasil pertenciam a esse grupo. Eles também compõem a maioria da população em situação de rua, representando 68% do total em 2023.

A desigualdade racial também impacta a população idosa. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2022 indicam que mais da metade das pessoas idosas no Brasil são brancas (50,6%) e que essa população atinge idades mais avançadas em comparação às pessoas negras. Além disso, a taxa de analfabetismo entre idosos negros (23,3%) é mais que o dobro da observada entre idosos brancos (9,3%).

No mercado de trabalho, a interseccionalidade entre raça e deficiência também se reflete em desigualdade salarial. Pessoas negras com deficiência recebem em média 36% a menos do que as brancas com deficiência e 44% menos do que as brancas sem deficiência. A informalidade também é mais acentuada entre trabalhadores negros, sejam ou não portadores de deficiência.

Os dados reforçam a necessidade de políticas públicas voltadas à equidade racial e à promoção de direitos, garantindo condições dignas de vida para toda a população brasileira.

A Constituição Federal de 1988 estabelece, no Artigo 5º, inciso XLII, que o racismo é crime inafiançável e imprescritível. Em 2023, a Lei nº 14.532 ampliou essa definição ao equiparar a injúria racial ao crime de racismo, prevendo penas de dois a cinco anos de reclusão, além de multa. Enquanto o racismo afeta toda uma coletividade, a injúria racial se refere a ofensas contra indivíduos.

Qualquer ato de racismo é passível de denúncia, se você presenciar ou souber quem está cometendo esse crime disque 100, ele é gratuito a denúncia pode ser feita de forma é anônima