Escrito por: Redação RBA
Estudo aponta mortes pela covid que poderiam ter sido evitadas nos primeiros meses de 2021. Lentidão agora atrasa vacinas mais modernas
O atraso na vacinação contra a covid-19 provocou a morte de ao menos 47 mil idosos no Brasil. A conclusão está em estudo publicado nesta segunda-feira (21) na revista científica Lancet Regional Health Americas. Os cientistas ainda afirmam que as vacinas salvaram mais de 58 mil pessoas com mais de 60 anos apenas entre janeiro e agosto de 2021 no país. O governo Bolsonaro ignorou uma série de propostas para aquisição de imunizantes. Ao contrário, fez campanha aberta contra as vacinas, máscaras e isolamento social em benefício de medicamentos ineficientes como a cloroquina.
A ciência sustenta que o negacionismo bolsonarista é responsável direto por mortes evitáveis pela covid-19. A CPI da Covid também responsabiliza o governo por suas ações. Essa responsabilização ainda deve tramitar na Justiça, apesar das tentativas da Procuradoria-Geral da República (PGR) de blindar o presidente e seus apoiadores mais próximos. “O que limitou nossa capacidade de vacinação foi a pouca procura de vacinas por parte do governo federal”, afirma Leonardo Ferreira, co-autor do artigo e pesquisador do Instituto de Física Teórica (IFT) da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Mesmo com o início da vacinação em janeiro, ela teve ritmo lento nos primeiros meses. De fato, a imunização só não atrasou ainda mais por conta das ações do governo do estado de São Paulo. O Instituto Butantã, ligado ao estado, produziu doses do imunizante Coronavac de forma autônoma, sob críticas e à revelia da gestão Bolsonaro. Os pesquisadores argumentam que, naquele momento, um início forte evitaria muitas mortes. Isso porque os primeiros meses de 2021 foram os mais letais no país, quando as mortes por covid-19 superaram 3 mil por dia.
O negacionismo marcou a gestão Bolsonaro durante os piores dias da pandemia. Agora, a covid-19 volta a crescer em nova onda de contágios e internações. Embora em alta, os números não refletem um aumento significativo de mortes, graças à vacinação. Contudo, existem vacinas mais modernas que poderiam ajudar a evitar a atual explosão de casos. Eses imunizantes, chamados bivalentes, são feitos especificamente para combater a variante ômicron, que domina o cenário epidemiológico do mundo com suas diferentes subvariantes. Elas já estão nos braços de cidadãos da Europa, China e Estados Unidos.
No entanto, mesmo após meses de tentativas de acordos da farmacêutica Pfizer, que produz as vacinas mais modernas, o governo ainda não se manifestou. A presidenta do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), afirma que a conduta do presidente é repetida, e lamenta. “O governo se nega a comprar a bivalente que protege das variantes e não há campanha de conscientização. Casos crescem e tendem a piorar com Copa e festas de fim de ano. Bolsonaro reincidente no crime contra a saúde do povo.”
Por outro lado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou hoje a venda do medicamento Paxlovid, da Pfizer. O medicamento é uma combinação de dois antivirais, o nirmatrelvir e o ritonavir. Ele apresenta bons resultados contra o vírus ao bloquear a replicação do vírus no corpo do doente. Diferentes países já utilizam o produto, como Estados Unidos e Europa. Contudo, sua utilização só é autorizada em adultos com prescrição médica. Inicialmente, ele é indicado para pacientes que não estão internados com necessidade de oxigênio e que apresentam possibilidade de agravamento no quadro.