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Atual conjuntura torna campanha Lula Livre pauta inerente ao Brics Sindical

O assunto foi uma das pautas abordadas no VIII Fórum Brics Sindical, nesta quarta-feira (18)

Publicado: 18 Setembro, 2019 - 16h34 | Última modificação: 18 Setembro, 2019 - 16h40

Escrito por: Vanessa Galassi, da CUT Brasília

Divulgação
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A prisão injusta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, decretada há quase um ano e meio pelo então juiz Sérgio Moro − hoje ministro da Justiça − foi estratégica para que os interesses neoliberais e conservadores conseguissem se reinstalar no Brasil. Isso gerou graves reflexos em grande parte do mundo, principalmente nos países que compõem o Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). O assunto foi uma das pautas abordadas no VIII Fórum Brics Sindical, nesta quarta-feira (18).

“A liberdade do presidente Lula não é só necessária por ser uma questão de justiça social, humanitária e jurídica, já que ele é inocente. Mais do que isso: o presidente Lula está preso por que ele corrobora com a ideia de um Brics forte, de nações fortes, contra o interesse do mercado norte-americano, contra a ideia de que alguns países devem ser colônias; pela defesa do comércio mundial democratizado”, explica o presidente da CUT Nacional, Vagner Freitas, que compôs uma das mesas do Brics Sindical nesta quarta.

Para ele, “o mundo passa por um atentado extraordinário contra a democracia”, e a liberdade de Lula, que já tem respaldo jurídico mais que suficiente, é determinante para que os países do Brics possam se desenvolver economicamente, com justiça social, se contrapondo às políticas imperialistas. “Eu venho gritar Lula Livre não só pela injustiça, mas pelo fortalecimento da democracia mundial”, diz Vagner Freitas.

Simultaneamente à liberdade de Lula, o presidente da CUT Nacional indica algumas ações que podem ser tomadas pelos países do Brics, no sentido de retomar o crescimento econômico. Entre elas estão o consumo de produtos feitos nos próprios países, a criação de uma moeda internacional paralela ao dólar, a criação de um banco internacional favorável ao Brics e a retomada do controle e disputa sobre as organizações comerciais internacionais.

O representante dos sindicatos sul-africanos, Bheki Ntshalintshali, lembrou que o mundo passa por um momento de aumento do desemprego, impulsionado pelo uso conveniente do avanço tecnológico, que combina máquinas a processos digitais. “Governos estão usando o discurso da escolha entre emprego e direitos. Não podemos nos associar a esse discurso. Nossa associação deve ser sempre com o pleno emprego”, disse, lembrando que esse mesmo discurso foi feito pelo presidente Jair Bolsonaro.

Ele resgata que o Brics foi formado como alternativa ao Consenso de Whashington, que, em 1989, realizou uma série de recomendações para alcançar o desenvolvimento e a ampliação do neoliberalismo nos países da América Latina. “Temos que pensar como nós temos reagido a essa proposta (de criação do Brics). Parece que estamos fazendo o contrário. Estamos chegando mais perto dos EUA. Precisamos influenciar nossos ministros”, avaliou.

Representante da classe trabalhadora da Rússia, Mikhail Shmakov, disse que a “eleição de Bolsonaro fez questionar continuidade do Brics”, mas que os países conseguiram resistir. Assim como no Brasil, o sistema previdenciário russo também passou por alterações, impondo mais tempo de trabalho à população.

O passo a passo do retrocesso no Brasil

Ao contextualizar a conjuntura político-econômica do Brasil, durante o VIII Brics Sindical, o secretário de Relações Internacionais da CUT, Antônio Lisboa, resgatou o processo nefasto realizado por parte do parlamento, do Judiciário, da mídia e da sociedade mais abastada, iniciado em 2014, quando Aécio Neves (PSDB) perdeu as eleições presidenciais para Dilma Rousseff (PT).

Ele lembrou que a derrota do tucano desembocou em um golpe, realizado em 2016 e, posteriormente – e para poder se sustentar –, na prisão, também ilegal, de Lula.

Para ele, o cenário hoje vivido pelos brasileiros é resultado de um “consórcio”. “De um lado, foi entregue ao setor financeiro a parte da economia, gerando privatizações, reforma sindical, entrega do patrimônio e outras reformas neoliberais. Por outro lado, a perseguição política, comandada pelo ministro da Justiça junto com os militares, que fiscalizam e perseguem as oposições.”

Lisboa entende que o golpe que afastou da principal cadeira do Executivo federal a presidenta Dilma Rousseff teve como sustentação um tripé formado pelos interesses do capital financeiro, a elite financeira brasileira – que se sentiu prejudicada com a atuação dos governos de Lula e Dilma – e o Judiciário desprovido de justiça. Esse tripé contou com o apoio do que o dirigente CUTista chama de “feudo da idade média”, composto “pelo próprio presidente (Bolsonaro), pelos que acreditam que a Terra é plana, pelos que atacam direitos essenciais, pelos que contestam conhecimentos científicos, que atacam o direito do país ser independente, que acreditam que a ONU é um espaço comunista”.

O papel da juventude

Durante o VIII Fórum Brics Sindical, nesta quarta-feira (18), o técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) Clemente Ganz, lembrou que, no Brasil e no mundo, empresas vêm reorganizando o sistema produtivo. “Estamos e uma fase da humanidade em que a tecnologia permite rapidamente transformar atividades humanas em atividades econômicas”, disse.

Para ele, o nível de flexibilização atingido faz com que a insegurança seja parte da força de trabalho. “Isso significa subordinação da força de trabalho ao capital, insegurança, flexibilidade dos direitos trabalhistas. O trabalhador passa a ser uma unidade autônoma, sem sindicato, sem lei, sem direitos”, afirma.

Ganz acredita que a juventude que chega hoje ao mundo do trabalho e sofre suas consequências deve apontar suas expectativas e o tipo de atuação sindical que ela deseja. Segundo o técnico, pesquisas recentes desenvolvidas pelo Dieese mostram que a juventude espera das entidades sindicais proteção, diante de um cenário que registra 13 milhões de desempregados, 28 milhões de pessoas subocupadas e cerca de 5 milhões de desalentados (pessoas que precisam de emprego, mas não procuram diante de dificuldades financeiras e falta de crença de êxito na busca).

Clemente Ganz afirma ainda que o “resgate da utopia da juventude deve estar no centro do debate sindical”. “Uma juventude marcada por doenças psicossomáticas, que diz não ter visão de futuro, que pensa de forma recorrente em tirar a vida, não é uma juventude capaz de criar um novo país. Temos que mobilizar essa juventude. Caso contrário, esse novo modelo de país e de mundo gerará miséria, violência; uma sociedade muito distante da justa e igualitária.” Para ele, essa mesma juventude é fruto de uma ação brutal de ataques neoliberais.