Escrito por: Redação CUT
Ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo e da Fenaj morreu aos 88 anos, após lutar contra um câncer
Audálio Dantas tinha 46 anos quando assumiu a presidência do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo e, em seguida, entrou no olho do furacão causado pelo assassinato, no DOI-Codi, de Vladimir Herzog, o Vlado, em outubro de 1975.
A morte do diretor da TV Cultura, que a repressão tentou apresentar como suicídio, ficou definitivamente marcada na trajetória do alagoano Audálio, que morreu na tarde desta quarta-feira (30), aos 88 anos – completaria 89 em 8 de julho –, após lutar contra um câncer.
Segundo o Instituto Vladimir Herzog, o velório começa hoje, a partir das 22h, no Hospital Premier (Avenida Jurubatuba, 481, Vila Cordeiro), e prossegue amanhã, a partir das 10h, no Sindicato dos Jornalistas (Rua Rego Freitas, 530, Vila Buarque).
"Sertanejo valente dos sertões das Alagoas, este brasileiro de muito talento e firmeza foi um dos protagonistas da passagem da ditadura para a democracia quando falar a verdade era correr risco de vida", escreveu Ricardo Kotscho em seu blog.
"Audálio há tempos sofria de muitos achaques da saúde, um após outro, mas tenho certeza de que morreu foi mesmo de tristeza, ao ver o que fizeram do seu país, pelo qual sempre foi muito apaixonado. Nas nossas últimas conversas, ele já estava desesperançado de que a nossa geração ainda conseguisse ver o Brasil com que sonhamos a vida toda, mais justo, mais humano, mais decente", disse o jornalista, que, com outros amigos, visitou recentemente Audálio no Hospital Premier, onde ele estava internado.
Cadu Bazilevski"Quando o medo virava pânico, esteve sempre presente. Quando o Brasil precisava ser retratado, lá estava ele. E assim fez História", disse o jornalista Palmério Dória em rede social. "Todo repórter com vocação de repórter, paixão pela reportagem, talento para contar histórias pode até não saber, mas dentro dele mora um pouco ou muito da alma do Audálio Dantas", escreveu Mário Magalhães.
Nascido em Tanque D´Arca, no agreste de Alagoas, ele começou a trabalhar na Folha da Manhã, em São Paulo, em 1954. Passou por publicações como as revistas O Cruzeiro, Quatro Rodas, Veja e Realidade.
Algumas reportagens se tornaram clássicas, casos das que envolvem Carolina de Jesus na favela do Canindé, zona norte paulistana, em 1958, e a "não entrevista" de Guimarães Rosa – sem conseguir falar com o autor de Grande Sertão: Veredas, fez o texto com base em respostas aos leitores e dedicatórias no livro.
Audálio presidiu o Sindicato dos Jornalistas por três anos, até 1978, quando se elegeu deputado federal pelo MDB – em 2016, em evento ao lado de Fernando Morais, anunciou sua desfiliação. Ganhou prêmio de Defesa dos Direitos Humanos das Nações Unidas em 1981 e elegeu-se presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) em 1983.
É autor dos livros O circo de desespero (1976), Tempo de luta – Reportagem de uma atuação parlamentar (1981), O chão de Graciliano (2007), O menino Lula (2009), Tempo de reportagem (2012), As duas guerras de Vlado Herzog (2012).
O Instituto Vladimir Herzog divulgou nota em homenagem ao jornalista: "Em defesa do Estado de Direito, da verdade, da justiça e da memória do amigo que acabara de ter a vida interrompida, Audálio enfrentou os poderosos do momento e exigiu que a morte de Herzog fosse esclarecida. (...) Audálio foi testemunha e protagonista, escreveu a História e nela foi inscrito".