Escrito por: FUP

BA: Um ano após privatização, refinaria tem o combustível mais caro do Brasil

Além de pagar mais caro, população sobre com desabastecimento de gás de cozinha

Reprodução/FUP

Nesta quinta-feira (1º), a privatização da Refinaria Landulpho Alves (RLAM), na Bahia,  completa um ano com prejuízo para a população que está pagando o combustível mais  caro do Brasil e ainda sofre com desabastecimento

Vendida pela Petrobrás para o grupo Mubadala Capital, fundos dos Emirados Árabes Unidos, a agora chamada Refinaria Mataripe, que é operada pela Acelen, ganhou manchetes de jornais durante todo o ano por vender o gás de cozinha a R$ 140 ou mais em algumas cidades, e o litro da gasolina a mais de R$ 8,00.   Em novembro, voltou às manchetes, desta vez por causa do desabastecoimento de gás de cozinha na região.

As más notícias não são surpresa, pelo menos para os dirigentes sindicai. Em 4 de dezembro de 2021, o Sindicato dos Petroleiros da Bahia (Sindipetro-BA) publicou em seu site e redes sociais matéria alertando sobre o que aconteceria no estado com a venda da RLAM, primeira refinaria da Petrobrás privatizada. Com o título, “Venda da RLAM vai gerar monopólio privado e aumento ainda maior dos preços dos combustíveis”, a matéria mostrava um estudo da PUC Rio, que analisou os efeitos da privatização de seis das oito refinarias que haviam sido colocadas à venda pela direção da Petrobrás, entre elas a RLAM.

Os pesquisadores avisaram que a Landulpho Alves era uma das refinarias com potencial mais elevado para formação de monopólios regionais, o que poderia aumentar ainda mais os preços da gasolina, diesel e gás de cozinha, além do risco de desabastecimento. O Sindipetro Bahia e a Federação Única dos Petroleiros (FUP) também fizeram reiterados alertas, entraram com ações na justiça, denúncias no Tribunal de Contas da União (TCU) e chamaram a atenção dos governantes e do Congresso Nacional para os prejuízos que viriam.

Segundo texto publicado no site da FUP, os soteropolitanos reprovam a privatização porque, como alertado, sentiram no bolso o peso da venda da Rlam. Mesmo com a redução do preço da gasolina nacionalmente em função da redução do cálculo do ICMS, a gasolina da Bahia continua sendo a mais cara do Brasil. Os baianos pagam R$ 0,50 por litro a mais do que o restante do país.

Prejuízos atingiram consumidores e empresários

Avisos não faltaram e era fácil prever o que aconteceria. Ao longo do ano, a Acelen efetuou vários aumentos dos derivados de petróleo, o que levou a Bahia a ter os combustíveis mais caros do Brasil. Mas o que pouca gente sabe é que a Acelen vende o mesmo combustível para outros estados, como Pernambuco, por exemplo, por preços mais baixos dos que são praticados na Bahia. Isto porque lá fora ela tem a concorrência da Petrobrás, que mesmo com o PPI (Preço de Paridade de Importação), vende combustíveis mais baratos do que a refinaria privatizada.

Mas o combustível caro não foi o único prejuízo provocado pela privatização da RLAM. Houve também uma grande mudança de comportamento na economia baiana. Grandes empresários passaram a comprar a gasolina e, principalmente o óleo diesel, em outros estados para fugir dos preços altos. Com isso, a Bahia deixou de arrecadar impostos, afetando, inclusive, a contratação de novos trabalhadores. Além disso, a Acelen deixou os navios de grande porte sem combustível por pelo menos seis meses.

Outro segmento prejudicado foi o de postos de combustíveis, o que levou o Sindicombustivel (sindicato patronal) a tomar a decisão de entrar com uma representação no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para que o órgão informasse qual é o limite que uma indústria privada tem na precificação quando atua em um monopólio regional.

Por fim, como já havia sido alertado pelo Sindipetro e pela FUP, a privatização da RLAM levou ao desabastecimento do gás de cozinha na Bahia. Diversas revendedoras de GLP tiveram que fechar as portas e os consumidores ficaram sem o produto, que é essencial.

Para o diretor de comunicação do Sindipetro, Radiovaldo Costa, “o que já era ruim com a Petrobrás devido à política do Preço de Paridade de Importação (PPI), adotada nos governos de Bolsonaro e Temer – que atrela os preços dos combustíveis no Brasil ao mercado internacional, aos custos de importação e ao dólar -, ficou pior com a Acelen. A empresa privada aplicou um PPI ainda mais intenso e perverso”, afirma.

O coordenador do Sindipetro, Jairo Batista, lamenta o que considera também um grande dano para a Bahia que é “a perda da referência desta grande empresa que é a Petrobrás para o nosso estado”.

A conclusão do Sindipetro Bahia, feita a partir de provas robustas, é que a privatização da RLAM não surtiu nenhum efeito positivo. Pelo contrário. Além do desabastecimento do gás de cozinha, não houve redução de preços dos combustíveis porque não há competitividade, não há concorrência, o que desmonta um dos argumentos usados pelo governo Bolsonaro para justificar a venda da RLAM.