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'Balanço da Petrobras espelha companhia cada vez menor', diz Zé Maria Rangel

Para coordenador da FUP, números do balanço trimestral divulgado pela estatal refletem política de Pedro Parente, que leva estatal à lógica perversa de ser uma grande exportadora de petróleo cru

Publicado: 09 Maio, 2018 - 09h29

Escrito por: Eduardo Maretti, da RBA

Divulgação
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O destaque sobre o balanço da Petrobras, divulgado nesta terça-feira (8), é o de que a companhia registrou lucro de quase R$ 7 bilhões no primeiro trimestre de 2018. O número representa alta de 56,4% em relação a igual período do ano anterior. “Estamos cumprindo à risca o que prometemos no nosso plano de negócios anunciado em 2016 e o resultado do primeiro trimestre mostra que as escolhas têm sido acertadas”, afirmou o presidente da estatal, Pedro Parente.

Mas, para o coordenador da Frente Única dos Petroleiros (FUP), José Maria Rangel, a avaliação e o clima positivo que se viu na mídia está muito longe do seu real significado. “Essa afirmação do Pedro Parente é verdadeira. Ele está cumprindo à risca, está vendendo a empresa. Ele foi colocado na companhia para vender a Petrobras.”

Quando ao lucro anunciado, o dirigente destaca que ele não inspira otimismo. “Esse resultado positivo espelha uma companhia cada vez menor. Parte desse lucro vem da venda de ativos da Petrobras. Estamos falando de quase 3,5 bilhões, um volume significativo”, diz.

Além do fator venda de ativos, o aumento do preço do barril de petróleo no mercado internacional também influenciou de maneira importante o balanço positivo, fato que a própria estatal reconhece. “A principal explicação para o aumento de 56% no lucro líquido do primeiro trimestre de 2018 é o aumento nas cotações internacionais do petróleo”, diz a empresa. O preço saiu de US$ 53,8 (em média) no primeiro trimestre de 2017 para US$ 66,8 neste ano.

“A Petrobras está se transformando em exportadora de petróleo cru e abrindo mão do mercado interno de derivados. Quem vai pagar o preço final é o consumidor”, diz Zé Maria.

A área de refino, responsável pela venda de combustíveis, que agrega valor ao óleo e se transforma na gasolina que o consumidor compra na bomba, apresentou lucro 25% inferior a 2017, de R$ 3 bilhões. A produção de derivados no Brasil caiu 7%, de 1.811 mil barris por dia para 1.679 mil bpd.

A política da Petrobras quanto ao refino é clara. Tanto que a companhia já anunciou, em abril, que pretende vender 50% do capital das refinarias Abreu e Lima (Pernambuco), Landulpho Alves (na Bahia), Alberto Pasqualini (Rio Grande do Sul) e Presidente Getúlio Vargas (Repar, no Paraná). Landulpho Alves, conhecida como RLAM, é a mais antiga refinaria brasileira, criada em 1950.

Como você avalia o balanço da Petrobras divulgado hoje?

Posso dizer a você que esse resultado positivo espelha uma companhia cada vez menor.

Por quê?

Parte desse lucro vem da venda de ativos da Petrobras. Estamos falando de quase R$ 3,5 bilhões, um volume significativo. Você tem uma redução de quase R$ 5 bilhões em investimentos. A Petrobras reduziu praticamente metade dos investimentos na área de refino e um quarto dos investimentos na área de campos de produção.

A produção, que nos últimos quatro ou cinco anos, praticamente vinha estabilizada, está em queda, fruto também de venda de alguns campos de produção. Estamos perdendo mercado interno de derivados e criando uma lógica perversa de a Petrobras ser uma grande exportadora de petróleo cru.

Ou seja, o resultado positivo é consequência também do aumento do preço do barril...

É consequência também do aumento do preço. A Petrobras está se aproveitando do aumento do preço do petróleo no mercado internacional, que chegou ontem a US$ 75 o barril, para aumentar a exportação de óleo cru. Passou a ser uma empresa que está exportando quase 500 mil barris por dia e abrindo mão de refinar esse petróleo aqui, transformar em combustível. Esse lucro está sendo feito basicamente em venda de ativos, e a Petrobras está se transformando em exportadora de petróleo e abrindo mão do mercado interno de derivados. Quem vai pagar o preço final é o consumidor.

A partir do momento em que a Petrobras sai desse mercado, como eles costumam dizer, deixa de “marcar preço”, quem vai marcar preço é a Shell, a Ipiranga e outras, e aí é o preço internacional. O Trump anunciou o rompimento do acordo da energia nuclear com o Irã, e os analistas indicam que o barril pode bater em US$ 90. É uma verdadeira loucura que você ainda leia aqui na imprensa golpista uma comemoração por esse resultado da Petrobras.

Pedro Parente não está fazendo nada para aumentar a produção, a capacidade de refino, mas está vendendo a empresa e escancarando para as importadoras de derivados.

O preço do barril caiu a valores muito baixos no governo Dilma, mas Pedro Parente tem esse vento favorável do preço, agora alto...

Com toda a dificuldade que a gente tinha, porque a imprensa batia muito, desde que começou essa crise dizíamos que o problema da Petrobras era a queda brutal do preço do preço do barril do petróleo e a disparada do dólar, e que não era só um problema da companhia, mas de todas as grandes empresas. E que a Petrobras não era uma empresa quebrada, como tentaram nos fazer acreditar o Serra e a sua turma.

Nos dois últimos trimestres, o primeiro deste ano e o último do ano passado, a Petrobras saltou de R$ 29 bilhões de pagamento de dívida e juros para quase R$ 50 bilhões. Ela está priorizando pagar dívida e juros ao invés de investir na produção. É uma loucura isso. Isso vai ter um custo alto para a sociedade brasileira em curto espaço de tempo.

Como avalia a análise de Pedro Parente sobre o balanço? “Estamos cumprindo à risca o que prometemos no nosso plano de negócios anunciado em 2016 e o resultado do primeiro trimestre mostra que as escolhas têm sido acertadas”, ele disse.  

Essa afirmação dele é verdadeira. Ele está cumprindo à risca, está vendendo a empresa. Ele foi colocado lá para vender a Petrobras. Anunciaram na semana passada a venda de quatro refinarias. A companhia está saindo do setor de venda e distribuição de derivados e escancarando para as grandes distribuidoras. Um site da mídia golpista fala que a Petrobras teve um grande resultado.

Os números do balanço mostram que a companhia vendeu R$ 7 bilhões em ativos. Se colocar tudo aquilo que foi vendido, dá o valor do lucro. Construir lucro assim, vendendo o patrimônio, é muito fácil. Cerca de R$ 3,2 bilhões foram o que ela vendeu só na área de campos de produção. Está abrindo mão da área produtiva para destinar recursos ao setor financeiro.

Mas o governo está no fim. O que espera de mudança no cenário político?

Note bem, esse processo de venda das refinarias eles anunciaram há duas semanas vai até 2019. Se jogaram para depois da eleição, é porque estão imaginando alguma coisa. A sequência do golpe é muito bem estruturada. Tem início, meio, e, pra mim, tem fim. A prisão do Lula é mais um episódio do golpe. O Lula não foi  preso por conta do tríplex. Foi preso por conta do pré-sal, porque olhava para os pobres, porque o Brasil deixou de priorizar os Estados Unidos nas suas relações comerciais. O Brasil era um fator catalisador da integração na América Latina, participou da criação dos Brics, olhou para a África.

O resultado da Petrobras não é por acaso. Se pegar todos os sites hoje da direita, eles comemoram. “Recuperamos a Petrobras da Lava Jato.” A narrativa é essa. O cidadão comum não vai olhar no balanço, ver que a Petrobras deu lucro praticamente no valor da venda de ativos, que reduziu o investimento e isso tem impacto direto no custo de vida dele, porque afeta o preço do derivado, e na geração de emprego. Ele vai olhar o número da forma como a grande mídia coloca. Nosso desafio é tentar furar essa bolha.