Bancários de SP encerram eleição e ressaltam organização e negociação coletiva
Sindicato faz seu primeiro processo eleitoral virtual, com a maior parte da categoria em “home office” e direitos preservados
Publicado: 05 Junho, 2020 - 17h12
Escrito por: Vitor Nuzzi, da RBA
As “urnas” virtuais foram fechadas às 16h desta sexta-feira (5), completando mais um processo eleitoral do Sindicato dos Bancários de São Paulo, o primeiro feito de forma remota na história da entidade, que completou 97 anos em abril. É uma categoria já habituada ao trabalho diante da tela, mas o momento reforçou a importância da atuação sindical, enfatiza a presidenta da entidade, Ivone Silva. Além do desafio imposto pela pandemia, desde o ano passado os bancários enfrentaram ameaças de alteração de direitos, como foi o caso da Medida Provisória 905.
De uma categoria formada por aproximadamente 460 mil trabalhadores no país, Ivone estima que 300 mil estão em home office. Na base do sindicato, que inclui ainda Osasco e região, pelo menos 60% dos 130 mil bancários permanecem em casa. Na Cidade de Deus, sede do Bradesco, de 5 mil funcionários, o número de presentes no local está em torno de 80. Acordos negociados após a pandemia garantiram a manutenção dos direitos previstos na convenção coletiva.
“Foi uma negociação muito importante”, diz Ivone. “Conseguimos lidar primeiro com a saúde. Nas agências em que precisa ir trabalhar, vários bancos têm rodízio. E estão com seus salários, todas as nossas conquistas”, lembra.
Convenção coletiva
Editada em novembro, a MP 905 mexia com a jornada da categoria. “No outro dia, nós já estávamos em negociação com a Fenaban (Federação Nacional dos Bancos)”, recorda Ivone, acrescentando que foi firmado um aditivo à convenção coletiva, que vai até o próximo mês de dezembro. A MP caducou em abril, mas é preciso ficar atento: “A gente acha pedaços dela (905) em tudo que é lugar”, observa. Também foram feitas negociações específicas, casos de Itaú e Santander, entre outros.
Segundo ela, apesar do ineditismo, o processo eleitoral virtual não chega a ser uma novidade para a categoria. “Os bancários já estão familiarizados com esse tipo de comunicação”, afirma. Além disso, com a pandemia, vários procedimentos que eram feitos de forma presencial agora estão no formato remoto.
Desde segunda-feira (1º), quando começou a eleição, os bancários podiam votar usando computador, celular ou tablet. Havia ainda três computadores disponíveis, na sede – no Edifício Martinelli, centro de São Paulo – e nas subsedes Paulista e Osasco. “O sindicato já estava organizado para atender, nosso trabalho não parou.” Foi feito uso intenso de redes sociais, chats, WhatsApp, e-mails. A categoria se espalha em 3 mil locais de trabalho. Foi inscrita uma chapa. O mandato é de três anos.
Filas na Caixa
Outro desafio foi a negociação com a Caixa Econômica Federal, especialmente devido às filas que se formaram para recebimento do auxílio emergencial aprovado para o período de pandemia, pondo em risco a saúde tanto de funcionários como do público. “A gente quer que o benefício seja pago em vários bancos. Tinha de ser em todos os bancos, principalmente os públicos.” O Comando Nacional dos Bancários também firmou protocolo com o Ministério Público do Trabalho.
Ivone considera um risco flexibilizar as medidas de isolamento, como se discute em alguns estados e municípios. “A curva (de contaminação) está subindo. Os governadores, prefeitos estão com medo de decretar lockdown. A gente está brincando de isolamento social. Nunca chegamos a 60%, e nós sabemos que com isso não achata a curva. E o nível de contágio está muito alto”, alerta a dirigente bancária, que escreveu artigo sobre o tema, defendendo uma “retomada consciente”. Além disso, ela considera que as autoridades fizeram muitas “trapalhadas”, como a mudança no rodízio em São Paulo.
A categoria registrou alguns casos de coronavírus no início da crise, mas Ivone considera que a situação agora está controlada. “Mas porque nós agimos muito rápido”, ressalva Ivone.