Bancários param nesta terça contra abertura de capital da Caixa Seguridade
Mobilização de 24 horas é parte de resistência contra a iniciativa da gestão Bolsonaro de abrir o capital da Caixa Seguridade, o que causará prejuízos a toda sociedade
Publicado: 27 Abril, 2021 - 09h11 | Última modificação: 27 Abril, 2021 - 09h57
Escrito por: Redação RBA
Os trabalhadores da Caixa Econômica Federal realizam nesta terça-feira (27) paralisação em protesto contra sucessivos ataques da gestão Bolsonaro e do presidente da Caixa, Pedro Guimarães, ao banco público. O motivo da mobilização é a abertura de capital da Caixa Seguridade, uma das operações mais rentáveis do banco, marcada para a próxima quinta-feira (29) na Bolsa de Valores.
Além disso, eles reivindicam a contratação dos aprovados no concurso de 2014, maior proteção contra a covid-19 nas agências e pagamento integral da PLR Social. A paralisação foi deliberada em assembleias com votação eletrônica realizadas na quinta-feira (22) por todo o país.
Sobre a abertura de capital da Caixa Seguridade, a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvadia Moreira, e o presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae), Sergio Takemoto, detalharam em artigo publicado no site da Contraf-CUT os prejuízos para o banco e consequentemente para a sociedade. E afirmam que a medda “significa o primeiro passo para a privatização do banco”.
“A subsidiária é uma das áreas mais lucrativas e estratégicas da Caixa. Para se ter uma ideia, os três grandes bancos privados – Bradesco, Itaú e Santander – não têm as ações de suas subsidiárias de seguros listadas em bolsa de valores. No Bradesco, por exemplo, o braço de seguros corresponde a quase metade do resultado do banco”, explicam. “A venda de parte das ações da BB Seguridade, em 2013, fez o banco perder rentabilidade. Num primeiro momento, levou dinheiro ao banco, mas estancou a possibilidade de receitas e resultados futuros.”
Arte/Seeb-SP
Descapitalização
Além do despropósito de se desfazer de uma área estratégia e rentável, Juvandia e Takemoto afirmam que o que for arrecadado não irá alavancar o desenvolvimento do país. “Grande parte do valor será usada para antecipar a devolução dos Instrumentos Híbridos de Capital e Dívida (IHCD)”, dizem.
“Estes recursos não têm prazo para devolução, mas o presidente do banco já anunciou que vai devolver aproximadamente R$ 35 bilhões em onze anos”. A consequência será a descapitalização. “Estima-se que em poucos anos a Caixa devolverá um terço de seu capital para o Tesouro Nacional”, acrescentam. “O governo vai utilizar este valor para pagar juros da dívida pública, ou seja, para enriquecer ainda mais os bancos e investidores privados.”
Pressão nos empregados
Outro ponto destacado pelos dois representantes dos bancários para a paralisação na Caixa é que a gestão Bolsonaro e Pedro Guimarães teve de suspender a abertura de capital (IPO) da Caixa Seguridade em setembro do ano passado em razão da instabilidade do mercado provocada pela pandemia. Na ocasião, a operação estava avaliada em R$ 60 bilhões. Agora, com o agravamento da crise sanitária, o valor estimado despencou: R$ 36 bilhões. “O momento é inoportuno e de perdas, mas o que importa é ‘abrir a porteira para passar a boiada’.”
“Pedro Guimarães aposta no sucesso dos negócios pressionando e assediando os empregados a comprar as ações”, afirmam ainda os sindicalistas. “As metas estabelecidas são desumanas, o que obriga os trabalhadores praticamente a serem cúmplices da privatização da própria empresa e, consequentemente, da destruição dos seus empregos. Pois no Brasil, historicamente, não existe garantia de manutenção dos postos de trabalho após passarem para as mãos de empresas privadas.”
“Há 160 anos a Caixa Econômica Federal é o banco de todos os brasileiros, mas pode deixar de ser no próximo dia 29 de abril. A Caixa é hoje responsável pelas principais políticas públicas e de desenvolvimento do país. É nesse banco público que a população encontra parceria e facilidade para realizar o sonho de comprar a casa própria, de cursar uma faculdade, de fazer seu pequeno negócio crescer, de ter a esperança de um futuro melhor”, argumentam Juvandia e Takemoto. “A Caixa 100% pública é a garantia do Bolsa Família, do Auxílio Emergencial, do apoio às micro e pequenas empresas, do financiamento habitacional, do Fies e de tantos programas e projetos de investimento no país. Enquanto existir desigualdade no Brasil, empresas públicas como a Caixa são essenciais.”
Denúncia na CVM
Além da paralisação na Caixa desta terça-feira, o Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região protocolou denúncias na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) contra a venda de ações na IPO da Caixa Seguridade. Alegam descumprimento de duas das instruções da Comissão (539 e 400).
“A Caixa Econômica Federal comete um crime quando, primeiro, cobra de forma abusiva de seus funcionários a venda de ações da IPO sem uma preparação e determinação de quem efetivamente poderia vender os papéis. Outro crime colocado também é oferecer as ações para 100% dos seus clientes, quando apenas 10% estariam qualificados para a compra, seja pela sua condição financeira, seja por sua perspectiva de investimento de médio e longo prazo. Existe um processo de má fé da Caixa Econômica Federal. Tanto que nas nossas denúncias estamos responsabilizando o presidente da Caixa [Pedro Guimarães] por esse desrespeito aos trabalhadores e às normas da CVM”, explica Luiz Claudio Marcolino. Diretor e ex-presidente do sindicato, além de vice-presidente da CUT em São Paulo, ele é o responsável por protocolar as denúncias.