Bancos comunitários transformam vidas e comunidades no Brasil e no mundo
O Brasil já possui 150 bancos comunitários, que atuam como instrumentos de desenvolvimento das economias locais, gerando renda e transformando vidas e comunidades
Publicado: 05 Agosto, 2022 - 12h48 | Última modificação: 05 Agosto, 2022 - 18h32
Escrito por: CUT-RS
O Brasil já possui 150 bancos comunitários, que atuam como instrumentos de desenvolvimento das economias locais, gerando renda e transformando vidas e comunidades. Foi o que revelou o painel de debates realizado no início da noite desta quinta-feira (4), no auditório da CUT-RS, em Porto Alegre.
O evento foi promovido em parceria com a Unisol-RS e contou com a presença do Banco Mumbuca, de Maricá, no Rio de Janeiro, e dos bancos comunitários Justa Troca e Cascata e dos futuros bancos da Colina e Asa Branca, de Porto Alegre. A atividade foi transmitida ao vivo pelo Facebook da CUT-RS e da Unisol-RS.
O secretário de Comunicação da CUT-RS, Ademir Wiederkehr, destacou que “os bancos comunitários integram o projeto da Economia Solidária, onde a organização popular cria seus próprios mecanismos para melhorar a vida das pessoas”. Para ele, “é muito importante essa experiência dos bancos comunitários e das cooperativas de crédito, que são boas alternativas ao sistema financeiro, sobretudo aos bancos privados que visam apenas o lucro”.
Para a coordenadora da Unisol-RS, Nelsa Nespolo, o evento teve uma potencialidade muito grande. “Nós somos uma fonte de muita esperança. O que estamos fazendo e desenvolvendo nos faz acreditar que nós estamos no caminho certo”.
“Vemos as mudanças acontecendo. Emociona essa realidade que vivemos. Sabemos o quanto é dura, mas nesse momento estamos desvendando ela. Infelizmente estamos numa cidade, num estado e num país que não tem políticas públicas e isso reflete na realidade do povo”, ressaltou Nelsa.
O evento contou com a presença internacional do Conosud (Cooperação Internacional Norte Americana) e CERAI (Centro de Estudos Rurais e de Agricultura Internacional), da Catalunha, na Espanha, através da integrante do Conselho de Administração, Begoña Fernández Lorenzo. Ela falou sobre a perspectiva que tem do Brasil.
Segundo ela, “vemos os bancos comunitários com muita força. Os agentes sociais de cada comunidade estão muito envolvidos e comprometidos. Vejo que o Brasil está muito forte e vai chegar a algo grande: a solidariedade que existe aqui entre as pessoas, entre as comunidades, entre as vilas. Me chama atenção também a enorme desigualdade social. Mas sempre fico muito esperançada porque vejo que há muita gente disposta a mudar isso”, pontuou.
Estratégia dos bancos comunitários
A atividade buscou compartilhar experiências nacionais e internacionais sobre a alternativa dos bancos comunitários que buscam ser “serviços financeiros solidários, em rede, de natureza associativa e comunitária, voltados para a geração de trabalho e renda na perspectiva de reorganização das economias locais, tendo por base os princípios da Economia Solidária”. Essa foi a definição feita pelo II Encontro da Rede Brasileira de Bancos Comunitários, realizado em 2007, em Iparana (CE), que permanece atual.
Um banco comunitário tem como objetivo “promover o desenvolvimento de territórios de baixa renda, através do fomento à criação de redes locais de produção e consumo, baseado no apoio às iniciativas de economia solidária em seus diversos âmbitos, como: empreendimentos socioprodutivos, de prestação de serviços, de apoio à comercialização, organizações de consumidores e produtores”, enfatizou o encontro.
No Brasil, o primeiro banco comunitário foi o Banco Palmas, inaugurado em janeiro de 1998 no Conjunto Palmeira, um bairro pobre situado na periferia de Fortaleza (CE). Em 2008, o Brasil registrou 37 bancos comunitários em funcionamento. Atualmente, segundo dados da Unisol-RS, já são 150 instituições operando no país.
“Não existe território pobre, existe território empobrecido”
O painel contou com a participação da presidente do Banco Mumbuca, Manuela Melo. A jovem, de 22 anos, que está à frente da iniciativa, destacou o papel da gestão municipal no fortalecimento de políticas de combate à fome.
“Temos toda uma continuidade de governo que é voltada para a construção da vida das pessoas na cidade. Isso torna a existência do banco fundamental para toda essa política, porque estão sendo pensadas políticas de distribuição de riqueza que vão passar pelo Banco Mumbuca. Não existe território pobre, existe território empobrecido, e é papel do estado tornar esse território rico, porque temos condições humanas e tecnológicas para isso”, expôs Manuela.
Em Porto Alegre existem várias iniciativas de bancos comunitários. Um dele é o banco Cascata, onde Jocelaine Santos da Silva é uma das idealizadoras. “No momento ele é um banco de ideias. É um banco com a comunidade. Trabalhamos junto com as mulheres que é o nosso foco maior. Com a pandemia, muitas delas perderam empregos e ficaram perdidas. Estamos fazendo cursos de capacitação, cursos profissionalizantes. E estamos na corrida para dar novas oportunidades dentro da comunidade”, contou.
Transformar a realidade das pessoas
Outra experiência na capital gaúcha é Justa Troca, experiência vinculada à Cooperativa de Costureiras Justa Trama e que a mobilizadora Eni Vargas descreveu como um espaço que fortalece os vínculos comunitários.
“A nossa comunidade já tem uma característica de ter muitas conquistas da organização popular, principalmente das mulheres. Fomos fortalecendo a comunidade com o banco. Conseguimos fortalecer o vínculo. A comunidade começou a procurar o banco. Hoje temos em torno de 20 parceiros que já aceitam nossa moeda, o Justo, dentre farmácias, mercados, ferragens. Poder trabalhar e poder contribuir para mudar a realidade para melhor não tem preço”, falou.
Além de experiências consolidadas, há comunidades que estudam a implementação dos bancos. A facilitadora Elisabete Machado conta como é o processo de apresentação dessa estratégia na comunidade.
“Nós usamos a palavra que o banco comunitário é um banco de autogestão, onde a comunidade gera uma moeda, que se torna valor para dentro da comunidade. O banco comunitário traz estrutura. O que precisa mudar? O que falta? A gente já diz que não estamos vendendo sonhos, mas estamos tentando”, compartilhou.
O agente local Fabrício Rocha, do Observatório de Empregabilidade e Geração de Renda da Economia Solidária, que realiza pesquisas para a implementação de bancos comunitários, comentou que a realidade das comunidades é muito dinâmica.
“Partimos do pressuposto de que temos que ter uma ferramenta e que, a partir dela, colhemos as informações das comunidades. Temos que trabalhar para que tenhamos políticas públicas. O banco constitui uma estratégia de fomento e desenvolvimento comunitário. O processo de mobilização e construção permite caminhar na comunidade e entender qual é a potência daquele território”, explicou.
Confira vídeo e fotos do evento no site da CUT-RS.