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Belluzzo: 'Quiseram encurtar caminho com impeachment e se atolaram no pântano'

Para economista, próximo governo terá difícil tarefa de conceber medidas para tirar país da crise e “enfrentar o consenso convencional e liberalóide”. A certeza é que a receita neoliberal não funciona

Publicado: 27 Setembro, 2018 - 09h38 | Última modificação: 27 Setembro, 2018 - 15h05

Escrito por: Eduardo Maretti, da RBA

Divulgação
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Para o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, a chamada “polarização” na disputa eleitoral deste ano é consequência do impeachment que tirou a ex-presidente Dilma Rousseff do Palácio do Planalto em 2016. “Os que se autoconsideram centro puxaram o tapete das regras que sustentam o regime democrático, com o impeachment. E a coisa foi degringolando. É exatamente disso que decorre o que o pessoal chama de polarização.”

Em entrevista à Rádio Brasil Atual, Belluzzo disse que acredita que o cenário eleitoral começa a se configurar com um segundo turno entre os candidatos Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL).

"Agora, eles estão se dando conta de que cometeram um erro grave ao propor o impeachment da Dilma. Deixaram essa máquina de fazer doido, como dizia o Stanislaw Ponte Preta, que é a Justiça brasileira, cometer todas as arbitrariedades e, é claro, terminou nisso, nessa polarização.”

Na opinião de Belluzzo, o caminho escolhido pelos grupos que optaram pela quebra da via democrática acabou não levando a lugar algum. “Eles quiseram encurtar o caminho e se atolaram no pântano. Cortar o caminho não deu certo. Mas não é surpreendente. Isso já ocorreu em outros países e outras épocas. E a isso foi adicionado o tempero da recessão.”

A tentativa de desqualificar a eleição democrática, porém, continua. “É o que já estamos assistindo de novo. O pessoal do Bolsonaro dizendo que as eleições são fraudadas.”

Apesar do cenário diante do qual boa parte do campo progressista está ansioso, com a ameaça representada pelo candidato do PSL, o economista acredita num desfecho eleitoral em que a centro-esquerda chegará ao Palácio do Planalto.

“Acho que Haddad vai ganhar no segundo turno, porque o outro candidato é, digamos, um sujeito primário, para dizer o mínimo, que comete uma gafe atrás da outra e fala bobagem. Um sujeito sem nenhuma condição de ser presidente da República. Aliás, o mundo inteiro está assustado com essa possibilidade”, diz.

Ele cita a revista inglesa The Economist, que, na semana passada, publicou matéria dizendo que o atual líder nas pesquisas é uma ameaça ao Brasil e à América Latina. “É uma revista conservadora, mas também está temerosa. Ela é liberal, mas não é e nunca foi autoritária.”

"Consenso liberalóide"

Seja como for, diz Belluzzo, quem assumir o Planalto “vai ter um trabalho danado” para governar o país, debelar a crise e com o cenário de recessão pela frente.

“O próximo governo está diante de uma situação muito difícil, porque vai ter que batalhar não só do ponto de vista da concepção das medidas, mas terá que enfrentar o consenso convencional e liberalóide de que basta fazer as reformas que eles propõem.”

A certeza é de que a velha receita neoliberal não vai funcionar, caso seja a opção de um próximo governo. “A economia precisa recuperar o crescimento, criar receita pública, avançar na questão do emprego, senão não funciona. Não é difícil entender isso”, diz Belluzzo.

“Fico impressionado como eles repetem essas baboseiras sem pensar em como funciona uma economia capitalista. É assustador. O Pérsio Arida, por exemplo. Ele diz coisas improváveis, para não falar do Paulo Guedes. Aí já é a caricatura da caricatura. Mas eles não vão ganhar”, prevê Belluzzo.

Coordenador do programa de governo de Geraldo Alckmin (PSDB), o economista Pérsio Arida já dizia, em março de 2018, que, eleito, o tucano implementaria nos primeiros seis meses de governo um pacote de reformas da Previdência e tributária, privatizações e reformas do Estado, para superar a crise econômica.

Principal candidato dos grupos que patrocinaram o impeachment, Geraldo Alckmin até agora não decolou. Segundo pesquisa CNI/Ibope divulgada nesta quarta-feira, a 11 dias do pleito, Haddad tem 21% das intenções de voto, enquanto Bolsonaro lidera com 27%.