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“Beto Richa transformou o Paraná em um estado de propaganda”

Para Requião Filho, a Assembleia Legislativa virou uma casa de carimbos do governador

Publicado: 02 Fevereiro, 2018 - 11h18 | Última modificação: 27 Fevereiro, 2018 - 10h32

Escrito por: Porem.net

Reprodução
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A Assembleia Legislativa do Paraná abre os trabalhos em um ano decisivo para os deputados estaduais e para o governo Beto Richa (PSDB). Em ano eleitoral, os tucanos que comandam o estado há sete anos pretendem mostrar seus feitos. Dominando a Prefeitura de Curitiba com Rafael Greca (PMN) e aliado do presidente Michel Temer, o governador deve enfrentar uma oposição com “a faca entre os dentes”.

Um desses opositores é o deputado estadual Requião Filho (MBD). Herdeiro político do senador e ex-governador Roberto Requião, ele parte para cima da corrupção no estado, denuncia as relações pouco republicanas entre o executivo e o judiciário paranaense e ainda critica seus colegas de parlamento que apenas “carimbam” as vontades do governador.

Para Requião Filho, em entrevista exclusiva ao Porém.net, dois grupos buscam o comando do estado: os dos trabalhadores que querem o desenvolvimento das pessoas e do Paraná, que defendem a escola pública, as empresas locais, saúde de qualidade e mais segurança; contra aqueles que lucram com o aumento de impostos, da divisão de lucros e contratos lesivos ao povo. Confira.

Porém: O senhor foi candidato a prefeito de Curitiba. Durante a campanha, questionou as diversas promessas feitas pelo atual prefeito, Rafael Greca (PMN). Qual é sua avaliação a respeito do primeiro ano de gestão?

Requião Filho: O Rafael vendeu uma ideia de que ele sabia fazer, que ele havia sido um bom prefeito e que as pessoas tinham saudades de uma “Curitiba que funcionasse”. Mas ele esqueceu que foi prefeito há algumas décadas e que as coisas mudaram. Ao assumir a prefeitura, o Rafael que tinha sido candidato com nosso apoio (em 2012), ele apresenta um plano de governo completamente diferente. Ele adotou corte de direitos, aumento de impostos, negociata com as empresas de ônibus. O interesse público fica em segundo plano. Já o tal do arrocho fiscal corta gastos apenas em cima do funcionalismo e do atendimento ao público. A gente não vê esses governos neoliberais cortarem gastos com propaganda ou com supérfluos. Rafael Greca, portanto, reza pela mesma cartilha do governo estadual.

Porém: Apesar da crise financeira que o poder público relata, o que poderia estar sendo feito diferente além de tanto foco em asfalto, por exemplo?

RF: Poderia estar sendo bem diferente. A gente observa, por exemplo, que o dinheiro para o asfalto surge como benesse do governo estadual. Um governo que ignorou a cidade de Curitiba durante alguns anos porque o prefeito da cidade (Gustavo Fruet, entre 2012 e 2016) não era amigo do governador Beto Richa (PSDB) e não deixava a esposa dele, Fernanda Richa, subir no palanque. Agora que ela pode subir em qualquer palanque, inauguração municipal, passa a ter dinheiro. Isso demonstra que não é um governo de diálogo, mas de politicagem, que só ajuda quem promete devolver a ajuda.  E onde está sendo aplicado o asfalto? Não é nos bairros, mas nas ruas de grande movimentação do centro e dos bairros mais chiques de Curitiba.

Porém: Curitiba vira um espelho do governo estadual. Beto Richa entra no seu último ano com uma avaliação negativa e com a chance de sequer se eleger para senador. Sendo da oposição, qual é a sua avaliação dessa gestão? Pra quem ele governou?

RF: Beto Richa governou para um grupo de interesses próprios. Pessoas que trabalhavam no mercado de ações, com especulação imobiliária. Um grupo que foi delatado na Lava Jato, como o pessoal da Odebrecht e OAS. Inclusive o governador é investigado na Lava Jato por ter sido citado como receptor de caixa 2 de campanha por uma obra de duplicação de uma rodovia no Paraná.

A gente tem um governo que não atendeu aos paranaenses, mas um governo que gasta mais em propaganda do que o estado de São Paulo. É um governo de propaganda. Quem vive no Paraná, sabe que é isso. Nós temos hospitais regionais prontos há sete anos, mas que não funcionam com toda sua capacidade. As penitenciárias estão dominadas por facções criminosas. Superlotadas e com quase uma rebelião por mês. Por outro lado, temos um governador que diz ir bem as penitenciárias. Assim tem sido o Paraná: propaganda na televisão com asfalto e estradas maravilhosas. Mas se você viajar pelo estado, pelo interior, a realidade é de estradas abandonadas. Enquanto isso, o pedágio sobe acima da inflação sem nenhuma discussão. Qual é o equilíbrio econômico que a Agepar (Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados de Infraestrutura do Paraná) utiliza para dar esses aumentos. Essa empresa deu também autorização para o aumento de água absurdo e ainda redução do consumo da taxa mínima que, na verdade é um aumento, pois se diminuiu a quantidade de metros cúbicos e se aumentou o preço.

Porém: Mas nada cola no governador Beto Richa. Ele sempre teve casos de corrupção colados, mas sempre disse que não era com ele.

RF: Na verdade, tudo cola nele. O que nós temos é o Ministério Público do Paraná na mão do procurador geral de Justiça Ivonei Sfoggia que afasta um promotor que queria dar sequência a uma ação de improbidade contra Beto Richa. Por coincidência, o MP conseguiu mais de 200 cargos novos em comissão aprovados em lei na Assembleia Legislativa sem discussão ou explicação. Por coincidência, o Ministério Público consegue uma ajuda de custo, um extra no orçamento do estado, para fazer obras faraônicas na sua sede. As coincidências são muitas e eu já denunciei o promotor Ivonei no CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) e pedi que a PGR (Procuradoria Geral da República) questione a blindagem, por que os processos de corrupção que envolve a cúpula do governo não andam? Por que após o bom trabalho que o Gaeco faz, esses processos param? Há também blindagem da grande mídia, que se beneficia desse mar de dinheiro dispensado para propagandas.

Porém: A população consegue fazer a conexão do dinheiro desviado na educação com  a falta de serviços? E como a oposição deve trabalhar esse tema em 2018.

RF: Consegue sim. Em Curitiba, a rejeição a Beto Richa passa dos 70%. Em algumas cidades do Paraná ela é maior do que 85%.

Porém: A crise na segurança do estado é grave?

RF: O Paraná perdeu recursos federais. Ele estava aqui para a construção de novos presídios e não foi realizado. Há ainda muita dúvida sobre algumas reformas em presídios que se equiparam ao caso da operação Quadro Negro: escolas pagas e não construídas. Nós estamos levantando informações de que algumas obras em presídios seguem esse mesmo caminho.

Porém: Como o senhor avalia as gestões da Sanepar e da Copel, que dão prioridade para os acionistas privados?

RF: São empresas que perderam o foco. A Copel e a Sanepar tinham as tarifas mais baixas do Brasil. A vantagem disso é que atraia empresas. Se a água e luz são baratas, alivia-se os custos. Na criação de frangos, suinocultura, tecelagem, o valor da água faz muita diferença no orçamento. Logo, a Copel e a Sanepar eram utilizadas com lucro social e como um fator de geração de emprego. Agora, elas focam no lucro monetário. E isso ocorre porque o estado também é sócio dessas empresas. Então, quando aumentam o lucro e a divisão desse lucro, diminuindo o investimento, os acionistas privados que, em geral, são os financiadores de campanha desse governo, recebem mais dinheiro. Mas o estado recebe mais dinheiro porque ele participa da divisão desse lucro. O estado, devido a péssima gestão, tem problema de caixa. Para manter a folha de pagamento em dia, eles utilizam esse dinheiro. Usam o dinheiro da previdência, que já são mais de cinco bilhões de reais de furo.

Porém: O senhor também apresentou projeto para microempresários, mas que não avançou.

RF: Todos os projetos que eu apresentei em defesa da micro e pequena empresa não avançaram. Por outro lado, estará no nosso plano de governo a ser apresentado a proibição de ST (substituição tributária) para micro e pequenas empresas. Porque o atual modelo é um jeito de boicotar o “simples”. Nós dobramos a isenção no estado (quando Roberto Requião era governador). Nossa ideia era reduzir impostos e gerar empregos. Se você ainda aumenta o salário mínimo regional, podemos aumentar a arrecadação, pois esquenta a economia. Você tendo emprego, acaba comprando televisão, ferro, liquidificador, geladeira, vai ao mercado, almoça fora, enfim, gira a economia.

Porém: Que programa será apresentado ao paranaense e com que grupos?

RF: Sem querer ser maniqueísta, no Paraná tem dois grupos: somos nós contra eles. Os paranaenses que dependem do transporte público, a mãe que precisa do posto de saúde, o trabalhador, contra o grupo que está no poder. O grupo da OAS, da Odebrecht, do grande capital da venda de ações. É o grupo da continuidade, com dois candidatos ao governo, o que é uma piada, pois um candidato tem todo o apoio do governo para absorver toda a rejeição e o outro sem o apoio oficial, mas com todo apoio da máquina e do interesse econômico. É uma desfaçatez. Contra a gente que quer fazer um governo para o pequeno agricultor e para o grande agronegócio. Governo da pequena empresa à grande empresa. O que nós queremos para educação, para os professores? Qual é o tratamento que o estado deve dispensar ao educador? Tudo isso será discutido.

Porém: Mas não ficou claro que grupos e partidos são esses.

RF: São dois grupos, independente das siglas. Um que cuida do povo, essencial, mas não inchado, usado como cabide de emprego de cabos eleitorais e de políticos falidos. É ir contra essa ideia de estado mínimo que eles vendem, mas acabam usando as empresas para empregar cabos eleitorais com salários de 30 mil reais. Tem autarquias contratando filhos de importantes figuras do judiciário que depois garantem vitória no Tribunal de Justiça. Então, nós temos que saber: nós queremos o pessoal da entrega, do fim da previdência, dos direitos trabalhistas ou o grupo que vê o estado como uma ferramenta para melhorar a vida dos trabalhadores e criar sua família.

Porém: Ao que o senhor vai concorrer: estadual ou federal?

RF: Eu pretendo a reeleição. Acho que a Assembleia Legislativa sofre uma crise de identidade. Temos um grupo de deputados que não entende o papel do legislativo. Os pesos e contrapesos não existem.

Criar novas leis entre milhares já existentes acaba, às vezes, sendo secundário. Com a crise, é necessário debater e fiscalizar. Mas o legislativo do Paraná não faz nenhum dos dois.