Bilionários lucram R$ 34 bi por dia, mas pobreza global segue intocada desde 1990
Relatório Oxfam diz que conta dos mais ricos cresceu quase R$ 12 trilhões em 2024, três vezes mais rápido que no ano anterior
Publicado: 20 Janeiro, 2025 - 15h59 | Última modificação: 20 Janeiro, 2025 - 16h08
Escrito por: Brasil de Fato | Editado por: Nathallia Fonseca, BdF
A riqueza somada dos bilionários do mundo aumentou US$ 2 trilhões (cerca de R$ 12 trilhões) em 2024. Isso representa crescimento três vezes maior do que o registrado no ano anterior. Ocorreu enquanto o número de pessoas pobres quase não muda desde 1990.
De acordo com a Oxfam, mesmo que essas dez pessoas perdessem 99% de sua riqueza, eles ainda permaneceriam bilionárias.
Trilionários em 2035
A Oxfam dedica-se a monitorar a desigualdade social no mundo há anos. Ela denuncia por meio de estudos o crescimento vertiginoso da concentração de renda.
Por conta dessa concentração, em 2023, a Oxfam previu o surgimento do primeiro trilionário dentro de uma década. Neste ano, porém, por conta do aumento do ritmo de acumulação dos bilionários, ela alertou que em dez anos o mundo deve ter pelo menos cinco trilionários.
“Essa crescente concentração de riqueza é possibilitada por uma concentração monopolista de poder, com os bilionários exercendo cada vez mais influência”, declarou a organização.
Riqueza não merecida
De acordo com a Oxfam, boa parte da riqueza dos mais ricos não é fruto do trabalho deles. É imerecida. “60% da riqueza dos bilionários de hoje vem de herança, monopólio ou conexões com poderosos”.
Uma pesquisa da revista Forbes citada pela Oxfam aponta que todos os bilionários com menos de 30 anos herdaram sua riqueza. Outro levantamento, este do banco UBS, mil bilionários deixarão 5,2 trilhões de dólares (mais de R$ 30 trilhões) para seus herdeiros.
“Os super-ricos gostam de nos dizer que ficar rico exige habilidade, determinação e trabalho árduo. Mas a verdade é que a maioria da riqueza é tomada, não criada. Muitos dos chamados ‘autodidatas’ na verdade são herdeiros de vastas fortunas, passadas por gerações de privilégio imerecido”, disse Behar.
“Muitos dos super-ricos, particularmente na Europa, devem parte de sua riqueza ao colonialismo histórico e à exploração de países mais pobres”, acrescenta a Oxfam, que denuncia que tal exploração existe ainda hoje.
De acordo com a organização, o 1% mais rico em países do Norte Global, como EUA, Reino Unido e França, extraiu 30 milhões de dólares (cerca de R$ 180 milhões) por hora de países de baixa e média renda em 2023. “O Norte Global controla 69% da riqueza global, 77% da riqueza dos bilionários e abrigam 68% dos bilionários, apesar de representarem apenas 21% da população global.”
“O dinheiro desesperadamente necessário em todos os países para investir em professores, comprar remédios e criar bons empregos está sendo desviado para as contas bancárias dos super-ricos", disse Behar.
Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) citados pela Oxfam indicam que países de baixa e média renda gastam em média quase metade de seus orçamentos para pagar dívidas com credores ricos. Isso supera em muito o investimento combinado em educação e saúde. Entre 1970 e 2023, os governos do Sul Global pagaram 3,3 trilhões de dólares (cerca de R$ 20 trilhões) em juros para credores do Norte.
A Oxfam recomenda que governo taxem os mais ricos, acabem paraísos fiscais e com o fluxo de riqueza do Sul para o Norte. “Isso significa desmontar monopólios, democratizar patentes e regular as corporações para garantir que paguem salários dignos, como limite aos [salários] dos CEOs.”
“Os governos precisam se comprometer a garantir que as rendas dos 10% mais ricos não sejam mais altas do que as dos 40% mais pobres”, pediu a entidade. “Reduzir a desigualdade poderia acabar com a pobreza três vezes mais rápido".