MENU

Boicote, Desinvestimento e Sanções contra Israel

Mustafa Barghouti: “A Palestina precisa do apoio do Brasil”

Publicado: 01 Abril, 2015 - 21h55 | Última modificação: 02 Abril, 2015 - 02h57

Escrito por: Leonardo Severo e Luiz Carvalho

Luiz Carvalho
notice
Grafite pede libertação de Mustafa Barghouti, que já foi preso pelo governo de Israel

Barghouti relatou os horrores do massacre de GazaBarghouti relatou os horrores do massacre de Gaza
Um dos fundadores do movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) contra Israel, o médico e deputado palestino Mustafa Barghouti acredita que é por meio do crescente isolamento internacional do sionismo, conjugado com a asfixia econômica das suas empresas, que seu país será livre. Na prática, algo semelhante ao que aconteceu na derrubada do apartheid na África do Sul.

Em reunião com a missão de solidariedade brasileira à Palestina, nesta quarta-feira, Barghouti condenou a política de terrorismo de Estado adotada pelos sionistas e sublinhou a relevância de iniciativas que deem maior visibilidade à realidade da agressão.

“Hoje temos a Cisjordânia dividida em áreas A, B e C. Na A, que compreende cerca de17%, supostamente a Autoridade Nacional Palestina teria controle total. Mas desde 2002, Israel passou a invadir, não existindo qualquer autonomia. Na B, equivalente a 20%, onde haveria o controle administrativo palestino e militar israelense são 225 ilhas, atravessadas por assentamentos e todo tipo de restrições. E na área C, que corresponde a 60% da Cisjordânia, Israel tem controle total, a Palestina não tem autoridade civil muito menos militar. Esta lógica serve apenas para a extensão dos assentamentos, a partir da fragmentação do território palestino”, declarou Barghoti.

Como se isso não bastasse, sublinhou o líder palestino, “Israel mantém 120 assentamentos ilegais” e “bases militares as quais ninguém tem acesso”, “além do muro da segregação, com 850 quilômetros, três vezes mais longo e duas vezes mais alto que o muro de Berlim”. Segundo Barghouti, o racismo fica evidenciado nas “estradas da segregação”, uma malha rodoviária exclusiva para os colonos – dentro do território palestino - nas quais os palestinos não podem circular, sob pena de seis meses de prisão. Para complicar ainda mais o trajeto dos não-israelenses, abundam os check points (mais de 500 fixos e outro tanto em pontos surpresa. Sentimos na pele o que isso significa ao não poder entrar em Ramalah, sendo obrigados a trocar um trajeto de cinco minutos por um outro de 45 minutos.

Os exemplos, infelizmente, são abundantes: “enquanto os palestinos consomem 50 metros cúbicos de água por mês, os israelenses consomem 2400 metros cúbicos de água por mês, 48 vezes mais! Enquanto o PIB per capita em Israel é de US$ 34 mil, na Palestina é de US$ 1.400 e em Gaza de apenas US$ 800. Além disso, os palestinos têm de pagar o dobro do preço pela água e pela eletricidade”.

O inferno de Gaza

Pequeno território de 360 quilômetros quadrados e 1,8 milhão de habitantes, uma das áreas mais densamente povoadas do mundo, Gaza teve seu território atacado no ano passado por terra, mar e ar. “Na terceira semana da guerra de 51 dias Israel já havia utilizado todas as bombas que tinha no estoque. Tiveram de recorrer ao estoque norte-americano para manter a guerra em dia. E Obama aumentou de US$ 200 milhões para US$ 1 bilhão o seu estoque de armamentos”.

Mostrando várias fotos que ele próprio tirou em Gaza durante a agressão, Barghouti lembrou que bairros inteiros foram devastados, “numa destruição sem precedentes”. “91 famílias desapareceram por completo, pai, avô, neto, bisneto, todas as gerações eliminadas”. Foram 2.273 mortos, 83% civis, 580 crianças, 271 mulheres, 101 idosos e mais de 11 mil feridos. “Isso equivaleria nos Estados Unidos a 400 mil mortes e a um milhão novecentos e trinta e quatro mil feridos”, ressaltou.

O uso por Israel de bombas de fragmentação condenadas pela ONU, jogadas a partir de tonéis, também serviu para amplificar o alcance dos mortos e a gravidade dos ferimentos. “Houve um caso de uma mulher refugiada que estava dentro da escola da ONU. Ouviu o barulho e tocou no filho que dormia a seu lado, quando percebeu que ele estava sem cabeça”, disse.

Para ter ideia do crime de guerra praticado, frisou, “no total, Israel utilizou 21 mil toneladas de explosivos, o equivalente a duas bombas nucleares ou a destruição de cinco Hiroshimas”.

Na avaliação de Barghouti, “a luta de resistência popular se .fortalece com o BDS” ao mesmo tempo em que estimula a unidade interna para ajudar as pessoas a permanecerem na terra – a fim de que não sejam apropriadas indevidamente pelo Estado sionista. “Temos claro que a Palestina não pode resistir sozinha e que países como o Brasil, a África do Sul e Índia são importantes. Não podemos aceitar que se fechem acordos de livre comércio com Israel, pois isso significa financiar a ocupação”, concluiu.  

Vigiar e punir

Em encontro na embaixada do Brasil no Estado da Palestina, a CUT e as demais organizações que compõem a missão humanitária brasileira em apoio à Palestina cobraram uma resposta sobre o desrespeito de Israel ao barrar dois membros na fronteira com a Cisjordânia.

Situação que torna-se ainda mais grave por conta do apoio formal do Itamaraty a essa missão e das negociações previamente acertadas com o governo israelense.

Do embaixador Paulo França ouviu que o órgão federal está ciente da situação constrangedora e acredita que o momento exige uma discussão ampla do Estado brasileiro sobre essa questão.

“A frustração e o desapontamento são muito grandes porque nós nos articulamos com a embaixada em Tel Aviv, que fez todos os trâmites no sentido de que a missão passasse e, certamente, faremos uma reclamação sobre isso”, disse.

Segundo o Portal da CUT apurou, a postura arrogante de Israel atinge até mesmo os embaixadores, que muitas vezes são notificados com negativas às vésperas de visitas a Gaza. E em muitos casos não conseguem sequer a liberação dos motoristas para entrarem na região.