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Bolsonaristas voltam a atacar a única vereadora de Sinop, no Mato Grosso

Como no último dia 28, bolsonaristas golpistas ocuparam novamente a Câmara de Sinop nessa segunda (5) para intimidar a vereadora Graciele Marques

Publicado: 06 Dezembro, 2022 - 12h13 | Última modificação: 06 Dezembro, 2022 - 12h20

Escrito por: Redação RBA

Câmara Sinop/YouTube/Reprodução
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Única mulher e vereadora de esquerda na Câmara Municipal de Sinop, em Mato Grosso, a professora Graciele Marques dos Santos (PT) foi mais uma vez alvo de ataques antidrmocráticos de bolsonaristas, que ocuparam, novamente, a Casa Legislativa nesta segunda-feira (5) para hostilizar a parlamentar. 

Assim com no último dia 28, quando ela foi ofendida pelos manifestantes pró-golpe, os novos ataques foram também motivados pela fake news, divulgada nos grupos bolsonaristas, de que Graciele estaria protocolando um projeto de lei para a retirada dos acampamentos antidemocráticos no município que contestam o resultados das eleições presidenciais e pedem intervenção militar. 

As imagens da sessão, divulgadas pela própria Câmara, mostram que, em todas as vezes que Graciele começa a discursar, o grupo golpista vira de costas para ela. Em um desses momentos, um dos bolsonaristas chega a mostrar o dedo do meio para a vereadora. Formado majoritariamente por homens, o grupo é identificado por usar as cores da bandeira do Brasil. A estratégia foi a mesma usada no ataque há uma semana. 

Cenário de pânico e medo

Na ocasião, os bolsonaristas também dispararam ofensas contra Graciele, xingada de “vagabunda”, “ratazana” e “filha da p***”, pelos golpistas. Vídeos da sessão do dia 28 também mostram que durante a fala da vereadora no púlpito, os bolsonaristas ficaram de costas para ela, mas seguiram a ofendendo. O mandato da petista, que vinha acompanhando com preocupação a escalada da violência, recebeu ainda no domingo mensagens divulgando o ato. Os manifestantes antidemocráticos chegaram a incluir a foto do filho de Graciele. 

A Polícia Militar e o presidente da Câmara, Elbio Volkweis (Patriotas), foram acionados por conta das ameaças. Mas, de acordo com a vereadora, “infelizmente essa segurança foi negligenciada”, conforme denunciou em entrevista nesta terça (6) a Rafael Garcia do Jornal Brasil Atual. “Os manifestantes foram para a Câmara para proferir todo o tipo de xingamento, impedir a minha fala e a minha atuação parlamentar. Foi um cenário de muito pânico e medo porque nós sabemos de outros acontecimentos das manifestações que tiveram inclusive arma de fogo envolvida”, observa Graciele.

Embora dessa vez não tenha recebido ameaça de morte como das outras vezes, a vereadora confessou, porém, “que essa foi a situação que me deixou com mais medo porque nós sabemos o que esses manifestantes têm feito aqui no Mato Grosso e em outros lugares do Brasil. No período da eleição houve assassinatos por motivação política, então é uma situação muito difícil”, advertiu. 

Histórico de violência política

O número de manifestantes que tumultuaram a sessão desta segunda também só foi menor porque a Câmara solicitou a apresentação do CPF na entrada da Casa, o que inibiu parte dos bolsonaristas. O mandato da petista também registrou boletim de ocorrência e buscou pelo diretório do partido em nível municipal e estadual. Mas mesmo assim, de acordo com Graciele, a situação é preocupante. 

Distante 503 quilômetros de Cuiabá, Sinop é conhecida como o coração do agronegócio no estado. Assim como, em paralelo, é também um reduto bolsonarista. O presidente derrotado Jair Bolsonaro (PL) ganhou na cidade com 76,59% dos votos na corrida contra o candidato eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em outubro. Desde então, grupos golpistas realizam manifestações e acampam na cidade contra o resultado das urnas. 

Eleita em 2020 com 1.122 votos – a oitava maior votação da cidade – Graciele, por sua vez, em 22 meses de mandatos, já teve seu carro riscado duas vezes, precisou registrar boletins de ocorrência na delegacia em ao menos cinco ocasiões, além de já ter sofrido duas ameaças de morte. 

PGE cobra investigação

“Em todas essas atividades, sejam as mais vinculadas à militância externa (como filiada do Sindicato dos Profissionais da Educação Básica e do Coletivo Feminista Sinop Para Elas), ou na minha atuação parlamentar, por muitas vezes, as mesmas figuras, que se denominam como movimento conservador, foram à Câmara para me atacar, ofender e tumultuar. Isso é infelizmente constante e uma situação muito difícil, porque eu fui eleita na oitava colocação em número de votos e não consigo exercer minha função sem ter esse tipo de intervenção”, lamenta. 

Em resposta a essa violência, a Procuradoria Geral Eleitoral (PGE) pediu ao Ministério Público Eleitoral do Mato Grosso que investigue a violência política de gênero contra a parlamentar. O órgão também cobrou que sejam adotadas as devidas providências para garantir a segurança de Graciele e seus familiares. O diretório do PT no estado também vem cobrando da polícia suporte para atuação da vereadora que vem recebendo diversas manifestações de solidariedade pelo Brasil. 

O presidente eleito Lula também solicitou na semana passada o envio de materiais para que o PT também possa dar encaminhamentos à segurança da vereadora e professora. “Eu tenho alertado o partido de que precisamos enfrentar de forma mais firme isso porque a minha posição em Sinop é muito solitária. Eu estou em uma cidade que é o coração do agro. E sou a única mulher não só do Partido dos Trabalhadores, mas a única de esquerda na Câmara”, ressalta Graciele Marques. 

Confira a entrevista

Redação: Clara Assunção – Edição: Helder Lima