Bolsonaro aproveita ‘sofrimento coletivo’ para abrir mão da soberania, diz Lula
Em pronunciamento no Sete de Setembro, ex-presidente condenou a subserviência do atual governo aos interesses estadunidenses
Publicado: 08 Setembro, 2020 - 09h26 | Última modificação: 08 Setembro, 2020 - 09h55
Escrito por: Redação RBA
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um pronunciamento por meio de suas redes sociais, também transmitido pela TVT e Rádio Brasil Atual, na tarde desta segunda-feira (7). Em sua fala, ele justificou o fato de ter escolhido o dia da Independência pelo fato de avaliar que o governo Bolsonaro “aproveita o sofrimento coletivo para sorrateiramente cometer um crime de lesa-pátria”, o que considera ser “um crime politicamente imprescritível”.
“O maior crime que um governo pode cometer contra o seu país e o seu povo: abrir mão da soberania nacional. Não foi por acaso que escolhi para falar com vocês nesse 7 de Setembro, dia da Independência do Brasil, quando celebramos o nascimento de nosso país como nação soberana. Soberania significa independência, autonomia, liberdade. O contrário disso é dependência, servidão e submissão”, disse Lula.
O ex-presidente relacionou a luta por liberdades como a de imprensa, de opinião, de manifestação, de organização e sindical à soberania do país. “A garantia da soberania nacional não se resume à importantíssima missão de resguardar a segurança de nossas fronteiras terrestres, marítimas e nosso espaço aéreo. Supõe também defender nosso povo, nossas riquezas minerais, nossas florestas, nossos rios, nossa água”, defendeu.
No pronunciamento, Lula ainda condenou a subserviência aos interesses estadunidenses. “O governo atual subordina o Brasil aos Estados Unidos de forma humilhante e submete nossos soldados e nossos diplomatas a situações vexatórias. E ainda ameaça envolver o nosso país em aventuras militares contra os nossos vizinhos, contrariando a própria Constituição, para atender aos interesses econômicos, estratégicos e militares norte-americanos”, apontou. “A submissão do Brasil aos interesses militares de Washington foi escancarada pelo próprio presidente ao nomear um oficial-general das forças armadas brasileiras para servir no comando militar sul dos Estados Unidos, sob as ordens de um oficial americano.”
Desmanche e privatizações
O pronunciamento também contou com críticas às políticas privatistas impostas pelo governo. “Quem quiser saber os verdadeiros objetivos do governo não precisa consultar manuais secretos da Abin ou do serviço de inteligência do Exército. A resposta está todos os dias no Diário Oficial, em cada ato, em cada decisão, em cada iniciativa do presidente e seus assessores, banqueiros e especuladores que ele chamou para dirigir nossa economia”, afirmou.
Ele criticou em especial o desmonte em curso dos bancos públicos. “Instituições centenárias como o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e o BNDES, que se confundem com a história do desenvolvimento do país, estão sendo fatiadas e esquartejadas, ou simplesmente vendidas a preço vil. Bancos públicos não foram criados para enriquecer famílias, eles são instrumentos do progresso, financiam a casa do pobre, a agricultura familiar, as obras de saneamento e a infraestrutura essencial ao desenvolvimento.”
“Todos os avanços que fizemos sofreram encarniçada oposição das forças conservadoras, aliadas aos interesses de outras potências. eles nunca se conformaram em ver o Brasil como um país independente e solidário com seus vizinhos latino-americanos e caribenhos, com os países africanos, com as nações em desenvolvimento”, assinalou Lula.
Segundo o ex-presidente, sua gestão fez uma “revolução pacífica” ao tirar 40 milhões de brasileiros da miséria, fato que estaria no centro das insatisfações de parte da elite brasileira. ” Ao ver que esse processo de ascensão dos pobres iria continuar, que a afirmação da nossa soberania não iria ter volta, os que se julgam donos do Brasil, aqui dentro e lá fora, resolveram dar um basta. Nasce aí o apoio dado pelas elites conservadoras a Bolsonaro”, disse.
” Aceitaram como natural sua fuga dos debates, derramaram rios de dinheiro na indústria de fake news, fecharam os olhos para seu passado aterrador, fingiram ignorar seu discurso em defesa da tortura e a apologia pública que ele fez do estupro.”
Oligarquias criaram um ‘monstrengo’
De acordo com Lula, as eleições de 2018 “jogaram o Brasil em um pesadelo que parece não ter fim”. “Como num filme de terror, as oligarquias brasileiras pariram um monstrengo que agora não conseguem controlar, mas que continuarão a sustentar enquanto seus interesses estiverem sendo atendidos.”
Como exemplo dessa aliança entre capital e governo, ele citou o fato de os mais pobres terem sofrido os maiores impactos decorrentes da pandemia de covid-19. “Um dado escandaloso ilustra essa conivência. Nos quatro primeiros meses da pandemia, 40 bilionários brasileiros aumentaram suas fortunas em 170 bilhões de reais. Enquanto isso, a massa salarial dos empregados caiu 15% em um ano, o maior tombo já registrado pelo IBGE. Para impedir que os trabalhadores possam se defender dessa pilhagem, o governo asfixia os sindicatos, enfraquece as centrais sindicais e ameaça fechar as portas da Justiça do Trabalho. Querem quebrar a coluna vertebral do movimento sindical, o que nem a ditadura conseguiu.”
“É inaceitável que 10% da população viva às custas da miséria de 90% do povo. Jamais haverá crescimento e paz social em nosso país enquanto a riqueza produzida por todos for parar nas contas bancárias de meia dúzia de privilegiados. Jamais haverá crescimento e paz social se as políticas públicas e as instituições não tratarem com equidade a todos os brasileiros.”