Bolsonaro aproveita tragédia em Recife para fazer campanha
Em campanha, Bolsonaro sobrevoou regiões alagadas, acenando do helicóptero. Depois de ignorar outras tragédias, tenta mostrar a cara onde sua rejeição é maior
O pré-candidato à reeleição Jair Bolsonaro sobrevoou nesta segunda-feira (30) a região da Grande Recife, que tem diversos pontos alagados. As chuvas já deixaram um saldo de 91 mortos e 26 desaparecidos devido a deslizamentos que castigam Pernambuco há uma semana. O número de desabrigados passa de 5 mil, em especial na região metropolitana. Do alto do helicóptero, o candidato acenava, em sinal típico de políticos em campanha, esquecendo-se, porém, da altura em que estava, o que impedia que fosse visto por eventuais apoiadores lá de baixo.
“Tivemos problemas semelhantes em Petrópoles, sul da Bahia, mais ao norte de Minas. Estive no ano passado no Acre também. Infelizmente essas catástrofes acontecem. Um país continental tem seus problemas”, disse Bolsonaro após o sobrevoo, ao lado de ministros. “O governo federal não é que sai na frente: está sempre alerta para atender a população em qualquer situação independente de pedido de autoridades locais.”
Mas não é bem assim
No final de dezembro, quando 166 dos 417 municípios baianos haviam sido atingidos pelas enchentes causadas pelas fortes chuvas, deixando 100 cidades em estado de emergência, 31.405 desabrigados e 31.391 desalojados, Bolsonaro estava de férias. Passou dias no Guarujá, em São Paulo, e partiu para São Francisco do Sul, em Santa Catarina. Ali concluiu seus 13 dias de folga passeando de jet ski enquanto o número de vítimas aumentava e pontes e estradas ruíam.
Sem ajuda da União até para recuperação de estradas da malha federal, o governador Rui Costa (PT) recorreu a outros governadores e até a ajuda estrangeira, além de recursos próprios. A repercussão negativa foi enorme e Bolsonaro não quer repetir, ainda mais agora, a poucos meses da eleição.
Junte-se a isso o fato de a região Nordeste – Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe – compor o segundo maior colégio eleitoral do país, com 39,8 milhões de eleitores, ou seja, 26,8% do total. Segundo pesquisas, Bolsonaro tem 22% de intenções de votos na média dos estados nordestinos. Já o pré-candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, tem 57%.