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Bolsonaro chama de idiota quem quer comprar feijão e não um fuzil

Com milhões de pessoas desempregadas e passando fome, presidente zomba do desespero do povo para defender sua agenda armamentista

Publicado: 27 Agosto, 2021 - 16h33 | Última modificação: 27 Agosto, 2021 - 17h38

Escrito por: Andre Accarini

Reprodução/Redes Sociais
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Para o presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL) quem acha os preços de um fuzil caro e diz que é melhor comprar feijão, que também está caro e inacessível para os mais pobres, é idiota.

Declarações absurdas, desrespeitosas - falas descabidas e fora de hora – são a especialidade de Bolsonaro e de alguns dos seus ministros. É o ‘novo’ modo de governar o país.

E tudo é dito no cercadinho do Palácio da Alvorada, onde apoiadores se expremem diariamente para ouvir ‘o mito’ vomitar seus destemperos diários.

Na manhã desta sexta-feira (27), Bolsonaro parou no cercadinho e falou a um apoiador sobre compra de armas. Questionado se “havia alguma novidade para caçadores, atiradores e colecionadores (conhecidos como CAC´s), o Presidente da República, sem nenhum decoro ou respeito ao povo, vociferou:

"O CAC está podendo comprar fuzil. O CAC que é fazendeiro compra fuzil 762. Tem que todo mundo comprar fuzil, pô”.

E acrescentou: “Povo armado jamais será escravizado. Eu sei que custa caro. Tem um idiota: 'Ah, tem que comprar é feijão'. Cara, se não quer comprar fuzil, não enche o saco de quem quer comprar."

A Secretária-Geral da CUT Nacional, Carmen Foro, reagiu indignada com o desrespeito aos mais pobres que nem dinheiro para comprar feijão têm e com a vida de milhões de brasileiros, vítimas de fazendeiros armados.

As armas que os fazendeiros compram são as mesmas armas que nos matam - os trabalhadores e trabalhadoras do campo que lutam por justiça social, por dignidade e por sobrevivência, um povo que luta pelo direito a terra
- Carmen Foro


Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o número de conflitos envolvendo especificamente a disputa de terras em 2020 cresceu 25% em relação a 2019. Foram 2054 ocorrências. O relatório divulgado em maio deste ano ainda mostra que mais de 81 mil famílias tiveram suas terras ou territórios invadidos no ano passado. A maioria delas (71,8%) são indígenas.

“A gente que conhece a realidade do campo, sabe para que os fazendeiros se amam. É para tomar o que é nosso, para nos violentar, para nos assassinar”, pontua Carmen.

“Bolsonaro diz que povo armado jamais será escravizado, mas o que seu governo vem fazendo é justamente isso - é nos escravizar, atacando nossos direitos trabalhistas e sociais, nossos direitos de manifestação. A fala dele é típica de um ditador, de um fascista”, acrescenta a Secretária-Geral da CUT Nacional.

A quem interessa?

Os alvos dos ataques do presidente são sempre os mesmos. São os trabalhadores e as trabalhadoras mais pobres que, no dia a dia, sentem na pele a falta de perspectiva para continuar sobrevivendo, sem emprego, sem renda e consequentemente sem comida.

”A maiora dos brasileiros e brasileiras não está preocupada em ter uma arma em casa e, sim, dar o que comer para seus filhos. O presidente faria melhor se se preocupasse em resolver a situação econômica do país ao invés de se preocupar com pautas como o armamento, ou o voto impresso, defendido por ele como prioridade nos últimos tempos”, diz Carmen Foro.

Enquanto Bolsonaro replica seus discursos extremistas, o Brasil mergulha em retrocessos. A insegurança alimentar voltou a ser uma realidade no país, como mostra pesquisa realizada em dezembro de 2020 pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN).

Enquanto os fazendeiros do agronegócio colhem a safra, recebem em dólar e colocam o Brasil na segunda posição entre os que mais exportam grãos no mundo, ficando atrás apenas dos EUA, 43,3 milhões de pessoas não têm acesso aos alimentos em quantidade suficiente e 19 milhões literalmente não têm o que comer.

Ao citar “povo armado”, Bolsonaro, como fica claro, não se refere a esses brasileiros, mas sim à elite brasileira, setor que provavelmente tem condições de adquirir esses ‘bens’.

Com a declaração desta sexta-feira, Bolsonaro também ultrapassa o limite do conceito de caça e tiro como modalidade esportiva e, de forma subliminar, avisa que latifundiário se arma para se proteger de quem ruralistas costumam chamar de “invasores de terras”, mas que na verdade, são trabalhadores tentando ganhar seu sustento, geralmente em terras improdutivas e griladas por fazendeiros.

CAC´s são fazendeiros

Em sua declaração Bolsonaro associou o grupo aos fazendeiros. E cumpriu sua promessa de campanha sobre o armamento. Em 2019, sancionou uma lei que ampliou a posse de arma dentro de propriedades rurais.

Antes, de acordo com o Estatuto do Desarmamento, o dono de uma fazenda só poderia manter uma arma dentro da sede de sua propriedade. Com a lei, pode estar armado em toda a extensão de sua propriedade rural.

Descontrolados

Bolsonaro, como de praxe, perde o equilíbrio com quem discorda de seus ideais. Ao chamar de “idiota” alguém que afirmou que a prioridade deveria ser comprar alimentos, uma vez que o país enfrenta uma crise que vem aumentando a pobreza e a fome, o presidente repete outras dezenas de situações em que foi questionado sobre assuntos e ou encerrou entrevistas ou destratou jornalistas, em especial, mulheres, como a jornalista Laurene Santos, da TV Vanguarda, em junho deste ano, ao ser questionado sobre não estar usando máscara.

No mesmo tom de Bolsonaro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, também deu declarações polêmicas esta semana ao afirmar que “a conta de luz vai aumentar, e não adianta ficar sentado chorando”, se referindo à crise hídrica que tem ocasionando aumentos nas contas de luz.

Guedes assim como Bolsonaro, também ignora a realidade dos milhões de brasileiros que ou não têm renda ou a renda é insuficiente para ter o que comer e pagar suas contas.

 

Edição: Marize Muniz