Bolsonaro e Mourão ignoram racismo e desrespeitam população negra no Brasil
Afirmação é da secretária do Combate ao Racismo da CUT, que criticou falas do presidente e do vice sobre a morte do homem negro no Carrefour de Porto Alegre
Publicado: 23 Novembro, 2020 - 11h18 | Última modificação: 23 Novembro, 2020 - 11h38
Escrito por: Andre Accarini
A morte de José Alberto Silveira Freitas, espancado por seguranças do Carrefour em Porto Alegre, na quinta-feira (19), prova que o preconceito e a violência contra os negros são reais. Mas, a dupla Jair Bolsonaro (presidente) e o general Hamilton Mourão (vice), insiste em minimizar o racismo no país, negando a realidade e perpetuando o discurso que inflama ânimos de parte barulhenta da sociedade que ainda apoia o desgoverno do ódio, da intoletância e da pior gestão da história do Brasil.
A avaliação é da secretária nacional de Combate ao Racismo da CUT, Anatalina Lourenço, após analisar as falas da dupla.
Após o assassinato de José Alberto, o primeiro a se pronunciar foi o vice-presidente Mourão. Em entrevista à imprensa, na sexta-feira (20), Mourão afirmou ser lamentável o fato e completou dizendo que, para ele, “no Brasil, não existe racismo”.
“Isso é uma coisa que querem importar aqui para o Brasil. Isso não existe aqui’, disse o general.
Bolsonaro veio a público um dia depois de Mourão para “assinar em baixo”. Em reunião virtual do G-20, o presidente disse que “querem colocar a divisão de raças no Brasil”.
“Aqueles que instigam o povo à discórdia, fabricando e provocando conflitos atentam contra a nação e contra a nossa própria história [...] há quem queira destruir a essência do povo colocar em seu lugar o conflito, o ressentimento, o ódio e a divisão entre raças, sempre mascarados de luta por igualdade ou justiça social”, disse o presidente que ainda fez piada, dizendo que é daltônico e que e enxerga todos com as mesmas cores – verde e amarelo.
Presidente e vice ignoram dados de institutos de pesquisa sérios, que mostram exatamente o contrário. Os estudos apontam que a desigualdade brasileira se concentra na questão racial. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos 10% mais pobres da população brasileira, 75% são negros. Os dados do último do Atlas Brasileiro da Violência, de 2018, mostram que 75,7% das vítimas de homicídios, inclusive cometidos pela polícia, eram negras.
E para desmentir ainda mais Bolsonaro e Mourão, recente pesquisa do PoderData, realizado pelo Poder 360, mostra que 81% dos brasileiros afirmam que existe preconceito no Brasil.
“Mais do que infames, são declarações de que quem parece viver em um mundo paralelo que não sabemos qual é”, diz Anatalina.
Para a dirigente, Bolsonaro e Mourão, demonstram ignorância, descaso e indiferença com parte significativa da população brasileira. “Não somos 10%. Somos 54% e essas pessoas que estão no poder negam a realidade que vivemos”.
Se Bolsonaro e Mourão lessem as pesquisas que o próprio IBGE faz, seriam um pouco mais informados sobre qual é a realidade social do país
Racismo autodeclarado – a geração criada por Bolsonaro
A mesma pesquisa PoderData que perguntou aos brasileiros se existe racismo no Brasil, também questionou os entrevistados se eles eram racistas: 34% disseram SIM. Em 1995, esse índice era de 10%, segundo uma pesquisa feita à época por outro instituto, o Datafolha.
Para Anatalina Lourenço, o aumento significativo no número de pessoas que assumem ser racistas é reflexo dos governantes do país. “O discurso de ódio de Bolsonaro incentivou o crescimento da violência e dos ataques contra populações historicamente perseguidas. Não só os negros, lembra a dirigente, mas também LGBT´s e mulheres”, afirma a dirigente.
Para ela, é um reflexo da conduta de Bolsonaro que empodera seus seguidores que se sentem legitimados a praticar essas violências e considerar que são superiores a quaisquer outras pessoas.
E o resultado, ela conclui, é o caos e a violência crescente contra a população negra.
“O que vemos hoje por parte desse governo é não somente a negação do racismo, da homofobia, mas a criminalização dessas pessoas e de suas culturas. A arte, a cultura presente nas periferias, bem como as religiões de matriz africana sofrem cerceamento e criminalização”.
Esse quadro caótico demonstra cabalmente o despreparo de quem hoje está no poder no Brasil