Escrito por: Redação RBA
Comando da Câmara é fundamental para barrar pedidos de impeachment, no momento em que a pandemia se agrava e os protestos aumentam
O presidente Jair Bolsonaro abriu o cofre das emendas parlamentares para tentar garantir o deputado Arthur Lira (PP-AL) na presidência da Câmara. Sua provável vitória também deve representar a consolidação da aliança do governo com os partidos do Centrão. Além das emendas, Bolsonaro chegou a falar até mesmo na recriação de ministérios. Depois voltou atrás, em função da repercussão negativa junto à ala liberal.
Para o Professor do departamento de Ciência Política da Universidade de Campinas (Unicamp) Wagner Romão, Bolsonaro joga a sua sobrevivência política nessa disputa.
“É uma luta política do Bolsonaro pela sua sobrevivência. O clima político pelo impeachment começa a tomar um pouco mais de força. E Bolsonaro percebe que não pode governar apenas com os militares, embora sejam uma base de apoio muito importante”, afirmou ele, em entrevista ao Jornal Brasil Atual, nesta segunda-feira (1º).
De acordo com o professor, Bolsonaro é “expert” na “velha política”. Por isso, busca atrair os parlamentares do Centrão. “Na verdade, são partidos de direita que se acomodam muito bem nesse governo com feição conservadora e autoritária”.
O cargo de presidente da Câmara é fundamental para o governo, porque é ele que tem a prerrogativa de decidir sobre o andamento de pedidos de impeachment contra o chefe do Executivo. Bolsonaro acumula, até o momento, 64 pedidos de afastamento.
Romão afirma que o combate à pandemia é o principal desafio para os novos presidentes da Câmara e do Senado, que serão eleitos nesta segunda. Independentemente de quem vença cada disputa, ele diz que a situação do governo deve piorar. A prioridade é o retorno do auxílio emergencial. Em meio ao “caos social”, o impeachment de Bolsonaro poderia avançar mesmo com Lira.
“É difícil falar que não estamos em meio ao caos social, quando já batemos mais de 220 mil mortes, com a quantidade de pessoas que estão desempregadas e que voltaram a passar fome. Independentemente de quem vença, o quadro colocado é muito grave para o país. Podemos ter um processo de esquentamento dessa fervura social que pode desaguar no campo político”.
Apesar de aventar a possibilidade de afastamento, no entanto, Romão não vê mudanças significativas em um eventual governo do vice, Hamilton Mourão. Pelo contrário, e ele prevê um aprofundamento da participação do militares e uma “profissionalização” da relação com os partidos do Centrão.