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Bolsonaro mente em pronunciamento e população responde com panelaço pelo país

Presidente espalha fake news sobre vacinação e prejuízos de estatais, ataca medidas de isolamento decretadas por governadores e tenta convencer população de que economia está se recuperando

Publicado: 03 Junho, 2021 - 07h44 | Última modificação: 03 Junho, 2021 - 08h33

Escrito por: RBA

Roberto Parizotti (Sapão)
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Manifestação contra Bolsonaro na Avenida Paulista, o último sábado (29/05)

Para tentar reverter o derretimento de sua popularidade e os efeitos políticos da CPI da Covid, em pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão na noite desta quarta-feira (2), Jair Bolsonaro (ex-PSL)) falou de vacinas, pandemia, economia e manteve o discurso negacionista contra o isolamento e social. “Sinto profundamente cada vida perdida em nosso pais”, começou. “Hoje alcançamos a marca de 100 milhões de doses de vacinas distribuídas a estados e municípios”, afirmou o presidente , enquanto um panelaço histórico tomava várias cidades do país.

O mandatário não falou, porém, que, segundo apurado na CPI do Senado, até maio o país já poderia ter recebido pelo menos 150 milhões de doses, o que não aconteceu por rejeição dele próprio e seu governo, que recusaram ofertas da Pfizer e CoronaVac em 2020. Ainda no ano passado o país poderia ter recebido 60 milhões de doses.

O presidente mentiu, ao dizer que o Brasil “é o quarto país que mais vacina no planeta”. Ele se referiu a números absolutos de doses aplicadas. Mas o Brasil é, hoje, o 64º no ranking de aplicação de vacinas contra a covid-19 na relação com o número de habitantes. Em velocidade de doses aplicadas por dia por milhão de habitantes, o Brasil é apenas o 89º no mundo e 13º na América.

Contra governadores

Bolsonaro afirmou no pronunciamento que seu governo vai garantir a opção de todos que quiserem se imunizar: “Todos os brasileiros que desejarem, serão vacinados”. Porém, fiel à sua luta contra a autonomia de governadores e prefeitos para adotar medidas contra a pandemia, Bolsonaro afirmou que seu governo “não obrigou ninguém a ficar em casa, não fechou o comércio, não fechou igrejas ou escolas, não tirou o sustento de milhões de trabalhadores informais”. Declarou ainda sempre ter dito que o país enfrentava “dois problemas, o vírus e o desemprego, que deveriam ser tratados com a mesma responsabilidade e de forma simultânea”.

Na verdade, Bolsonaro é considerado por cientistas do Brasil e do mundo como um incentivador da disseminação do coronavírus, ao promover aglomerações, se pronunciar contra instituições e protocolos científicos e combater as vacinas, como fez até recentemente.

Economia

Também é criticado por, inicialmente, negar a concessão de um auxílio emergencial às populações mais vulneráveis e aos trabalhadores informais do país. Desta forma, teria contribuído para que maciça parcela dos brasileiros pudessem ficar em casa, nos primeiros meses de pandemia, no ano passado, o que teria resultado em menos contaminações e mortes por covid.

Também em seu pronunciamento de hoje, Bolsonaro, destacou as reformas neoliberais dizendo que com o Congresso “estamos avançando”. E para citaras privatizações como exemplo de “avanço”, disse mais uma mentira à nação, ao afirmar que, “as estatais do passado davam prejuízo devido à corrupção sistêmica”. A alegação é falsa e já foi desmentida diversas vezes. Apenas para ficar no governo Lula, do primeiro (2003) ao último de seu segundo mandato, em 2010, o lucro da Caixa não parou de crescer.                                 

Membros da CPI da Covid no Senado reagem

Os senadores que compõem a CPI da Covid no Senado reagiram às mentiras de Bolsonaro e em nota pública criticam a posição do presidente. Confira o teor:

"A inflexão do Presidente da República celebrando vacinas contra a Covid-19 vem com um atraso fatal e doloroso. O Brasil esperava esse tom em 24 de março de 2020, quando inaugurou-se o negacionismo minimizando a doença, qualificando-a de ‘gripezinha’.

Um atraso de 432 dias e a morte de quase 470 mil brasileiros, desumano e indefensável. A fala deveria ser materializada na aceitação das vacinas do Butantan e da Pfizer no meio do ano passado, quando o governo deixou de comprar 130 milhões de doses, suficientes para metade da população brasileira. Optou-se por desqualificar vacinas, sabotar a ciência, estimular aglomerações, conspirar contra o isolamento e prescrever medicamentos ineficazes para a Covid-19.

A reação é consequência do trabalho desta CPI e da pressão da sociedade brasileira que ocupou as ruas contra o obscurantismo. Embora sinalize com recuo no negacionismo, esse reposicionamento vem tarde demais. A CPI volta a lamentar a perda de tantas vidas e dores que poderiam ter sido evitadas".

Assinam a nota: Omar Aziz- Presidente CPI; Randolfe Rodrigues – Vice Presidente CPI; Renan Calheiros – Relator e em apoio os membros efetivos:Tasso Jereissati; Otto Alencar; Humberto Costa; Eduardo Braga e os suplentes:Alessandro Vieira e Rogério Carvalho. 

Panelaço

Durante pronunciamento de Bolsonaro, foi registrado um panelaço histórico contra ele e seu governo em vários locais e cidades do Brasil. “Caramba! Vou ter de fazer o sacrifício profissional de ler a íntegra do pronunciamento de Bolsonaro. Tentei ouvir, mas o panelaço não deixou. Aqui na minha região, o maior da história”, escreveu o jornalista Reinaldo Azevedo no Twitter.