Bolsonaro repassa apenas 3% das novas concessões do Bolsa Família para o Nordeste
A região, que concentra 36,8% das famílias em situação de pobreza ou extrema pobreza, reprovou Bolsonaro nas eleições de 2018. Já o Sul e Sudeste, que votaram mais dele, ficaram com 75% das concessões
Publicado: 05 Março, 2020 - 16h43 | Última modificação: 05 Março, 2020 - 17h02
Escrito por: Redação CUT
Apesar de ser a região que concentra 36,8% das famílias em situação de pobreza ou extrema pobreza na fila de espera do Bolsa Família, o Nordeste, que rejeitou Jair Bolsonaro nas eleições de 2018, recebeu menos novos benefícios do programa do que as regiões que deram mais votos para elegê-lo.
Em janeiro deste ano, a Região Nordeste recebeu apenas 3% dos novos benefícios do programa, contra 75% das novas concessões liberadas pelo governo para as Regiões Sul e Sudeste, de acordo com dados conseguidos pelo Estadão/Broadcast.
Para Santa Catarina, o governo federal repassou o dobro de benefícios liberados para a o Nordeste. O estado do Sul, governado por Carlos Moisés (PSL), tem 6,727 milhões de habitantes, oito vezes menos do que o Nordeste, que tem mais de 53 milhões e onde os governadores formaram uma frente de esquerda contra a política neoliberal de Bolsonaro e a pauta dos costumes.
O senador Rogério Carvalho (SE), líder do PT no Senado, acionou o Tribunal de Contas da União (TCU), nesta quinta-feira (5), para saber os motivos pelos quais o governo Bolsonaro destinou muito menos novos benefícios do Bolsa Família para a região Nordeste do que para o Sul e Sudeste.
“Queremos saber do TCU o porquê de privilegiar as regiões mais ricas do País e perseguir as regiões mais pobres. Vamos lutar para garantir comida na mesa do povo mais pobre do nosso Brasil. O que é preciso para garantir o mínimo de dignidade para nossa população”, disse Rogério Carvalho.
De acordo com a reportagem do Estadão, apesar do alcance do Bolsa Família ter diminuído em todo o Brasil - entre junho e dezembro do ano passado, a média de concessão de novos foi de 5,6 mil por mês, antes passava de 200 mil – o governo encontrou espaço em janeiro para incluir no programa famílias que estavam à espera do benefício, principalmente onde Bolsonaro teve mais votos nas eleições.
Foram 100 mil novas concessões – 45,7 mil para o Sudeste, 29,3 mil para o Sul, 15 mil para o Centro-Oeste e apenas 6,6 mil para o Norte. Já o Nordeste recebeu 3.035 novos benefícios e manteve a média mais magra de meses anteriores.
Em dezembro do ano passado, o Brasil tinha 2,39 milhões de famílias em situação de extrema pobreza (com renda familiar per capita abaixo dos R$ 89 mensais) sem acesso ao Bolsa Família. Deste total, 939,6 mil famílias vivem no Nordeste, 868,3 mil no Sudeste e 186,7 mil no Sul.
Vingança de Bolsonaro?
A população da Região Nordeste foi a única do país que votou majoritariamente no candidato do PT, Fernando Haddad, nas eleições de 2018. Haddad teve 69,7% dos votos válidos no segundo turno contra 30,3% de Bolsonaro. No Sul, que está sendo privilegiado, Bolsonaro conseguiu 68,3% dos votos contra 31,7% de Haddad.
À reportagem do Estadão/Broadcast, o senador Renan Calheiros (MDB-AL), criticou o governo dizendo que “os números mostram um favorecimento no pagamento do benefício aos eleitores de regiões fiéis ao presidente Bolsonaro”.
Segundo o senador, cabe aos presidentes da Câmara e do Senado pedir explicações para manter a eficácia do programa.
Fila de espera do Bolsa Família
Em dezembro, 1,18 milhão de famílias em condição de pobreza (com renda familiar per capita entre R$ 89 e R$ 178 mensais) não estavam recebendo auxílio do programa social. Ao todo, 3,6 milhões de famílias no País faziam jus ao benefício e estavam cadastradas em dezembro de 2019, mas não receberam nenhum valor.
Outro lado
Em nota enviada aos repórteres do Estadão/Broadcast, o Ministério da Cidadania disse que o processo de concessão de benefícios é “impessoal e realizado por meio de sistema automatizado que obedece ao teto das verbas orçamentárias destinadas ao programa”. O órgão não explicou o porquê da disparidade das concessões entre as regiões, mas afirmou que mais 185 mil famílias em todo o País passarão a receber o benefício em março.