Brasil bate recorde no número de mortos por Covid-19 e Bolsonaro diz: “E daí?”
País já tem mais mortes pelo novo coronavírus do que a China, onde a pandemia começou em janeiro deste ano. Mas Bolsonaro continua incentivando o fim da quarentena e tratando a doença com descaso
Publicado: 29 Abril, 2020 - 11h40
Escrito por: Redação CUT
No dia em que o Brasil bateu um novo recorde e ultrapassou a China em número de mortos por coronavírus (Covid-19), ao ser questionado por uma jornalista sobre os óbitos provocados pela doença no país Jair Bolsonaro disse rindo: "E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre”.
Não é milagre que os brasileiros querem. É respeito, gestão, responsabilidade e seriedade com a emergência sanitária que está lotando as Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) e os cemitérios em todos os estados.
Nesta terça-feira (28), segundo o Ministério da Saúde, 5.017 pessoas já haviam morrido vítima das Covid-19 no país, 474 óbitos foram registrados em apenas 24 horas. A China registrava 4.643 mortes desde o início da pandemia em janeiro até ontem.
Nesta quarta-feira (29), segundo dados atualizados pelas secretarias estaduais de Saúde, o total de mortes no Brasil é de mais de 5.083 e mais de 73.235 pessoas estão contaminadas pelo novo coronavírus. Na China, país onde surgiu o primeiro caso da doença, foram registradas até ontem 83.940 pessoas infectadas e 4.637 mortas, segundo levantamento da Universidade Johns Hopkins, dos EUA.
No estado de São Paulo, um dos mais atingidos pela Covid-19 no país, já são 24.041 casos confirmados e 2.049 mortes - 224 mortes em apenas 24 horas. O Rio de Janeiro vem na sequência com 8,5 mil infectados e 738 mortos. O Ceará é o terceiro colocado neste trágico ranking do novo coronavírus, tem 7.029 casos confirmados e 422 mortes registradas.
Apesar desses números assustadores e do fato de que não tem UTI para todo mundo que está com Covid-19 ou vier a se infectar com a forma mais grave do vírus, estimulados pelas falas de Bolsonaro, para quem a economia é mais importante do que a saúde, vem caindo a taxa de apoio ao isolamento social, única maneira de conter a disseminação da doença, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Vamos aos números. Levantamento feito pela Folha de S Paulo mostra que, nos últimos dez dias, apesar da abertura de pelo menos 776 leitos de UTI nas redes estaduais para o tratamento de Covid-19 em 12 estados e no Distrito Federal, ainda faltam muitos leitos no Amazonas, Pará, Rio de Janeiro e Pernambuco – todos já estão com mais de 90% dos leitos ocupados. Já Ceará, Goiás, Espírito Santo, Maranhão e Rio Grande do Sul ultrapassam a barreira dos 60%. São Paulo registra 59,8%.
Menos apoio ao isolamento social
Pesquisa Datafolha divulgada nesta terça-feira (28) mostra que aumentou a proporção de brasileiros que defendem a ideia de Bolsonaro de manter em quarentena apenas os idosos e pessoas com doenças que podem agravar casos de coronavírus. Essa ideia é criticada por autoridades da área da saúde em todo o mundo.
O percentual dos entrevistados que concorda que os jovens e pessoas sem comorbidades devem voltar a trabalhar, independentemente da velocidade do aumento dos casos de Covid-19 passou de 37%, no início de abril, para 41% em 17 de abril e para 46% na pesquisa realizada nesta segunda-feira (27).
Já os que apoiam o isolamento amplo, inclusive de quem está fora dos grupos de risco, passaram de 60% no início de abril para 56% no dia 17 e, agora, para 52%.