Escrito por: Rosely Rocha, especial para Portal CUT

Brasil é recordista mundial em assassinatos no Campo

A cada seis dias um ativista que lutava por terra ou em defesa do meio ambiente foi assassinado no País

Brasil de Fato

No Dia do Agricultor Familiar, data celebrada nesta quarta-feira (25), o Brasil não tem o que comemorar. O país é líder no número de assassinatos de pessoas que lutavam por terra ou defesa do meio ambiente, segundo dados divulgados na última terça-feira (24), pela organização internacional Global Witness.

Foram 57 vítimas em 2017, o que representa uma média de um ativista do campo assassinado a cada seis dias no Brasil.

Na última década, o Brasil “tem sido o país mais perigoso para quem defende o meio ambiente e vive da terra, com uma média de 42 mortes por ano desde 2012”, afirma a Global Witness.

É o maior número já registrado pela organização. O maior massacre ocorreu em Pau D'Arco (PA), com dez vítimas, 17 policiais militares e civis foram denunciados. A maioria deles foi presa em julho de 2017, mas foi solta pelo Supremo Tribunal Federal (STF), um ano depois.  

Para a secretária de Saúde do Trabalhador da CUT, Madalena Margarida da Silva, esses números de mortes no campo revelam que o modelo de desenvolvimento que temos hoje é concentrador de terras e de renda, que promove apenas o agronegócio e inviabiliza políticas de reforma agrária, o que só tende a aumentar esses conflitos.

 “Basta olhar a representatividade do agronegócio no Congresso e as conseqüências que o golpe de 2016 trouxe para os agricultores e os defensores do meio ambiente”, diz a dirigente.

A crítica ao atual governo também é feita pela Global Witness. Segundo a entidade, Michel Temer (MDB-SP) “sistematicamente enfraqueceu a legislação, as instituições e os orçamentos que poderiam apoiar os povos indígenas, prevenir conflitos de terra e proteger os defensores dos direitos humanos”, como no caso do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) que teve seu orçamento reduzido em 30% e a Fundação Nacional do Índio (Funai) em quase 50%. 

“A luta do movimento sindical nos anos 1990 e 2000 era o de construção de um projeto de desenvolvimento rural sustentável, que foram duramente conquistadas. Hoje, as políticas públicas retrocederam em dois anos, pós golpe. A PEC dos gastos agrava essa situação. O Estado que deveria ser indutor de políticas de segurança, saúde e educação não o faz, e assim dificilmente as pessoas permanecerão no campo. Os pobres estão cada vez mais pobres,com dificuldades de acessar os benefícios a que têm direito como aposentadoria, auxílio maternidade e, principalmente acesso a crédito”, denuncia Madalena.

Segundo a Global Witness, em anos anteriores, o número de brasileiros assassinados no campo foi menor: 29 vítimas em 2014, 50 em 2015 e 49 em 2016.

 A entidade pesquisa anualmente mais de 20 países com conflitos no campo. Em todo o mundo, no ano passado, foram 207 vítimas.