“Brasil vive Estado de Exceção”, diz Prêmio Nobel da Paz
Após ter negado o direito de visitar Lula, Esquivel criticou as arbitrariedades da Justiça brasileira e denunciou a prisão política do maior líder popular do país, indicado por ele ao Prêmio Nobel em 2018
Publicado: 19 Abril, 2018 - 19h24 | Última modificação: 19 Abril, 2018 - 22h58
Escrito por: Tatiana Melim
O Estado de Exceção avança no Brasil, denuncia o ativista argentino, Adolfo Pérez Esquivel, Prêmio Nobel da Paz em 1980, após aguardar o dia inteiro uma resposta da Justiça para visitar o ex-presidente Lula. Ele disse à militância do Acampamento Lula Livre, no final da tarde desta quinta-feira (19), que não foi respeitado pelas autoridades brasileiras o direito de Lula receber sua visita.
“Tenho esperado muitos dias até hoje. Estivemos com o superintendente, tratando da visita ao ex-presidente Lula, e a informação que temos é de que foi negado”, explicou Esquivel à militância e à imprensa.
“Isso é grave! Primeiro porque está sendo restringido o direito de Lula receber visitas. E segundo porque evidentemente o Brasil está vivendo um Estado de Exceção”, denunciou o Nobel da Paz.
“Há de pensar que tipo de democracia temos e queremos não somente aqui no Brasil, mas em toda América Latina”, completou.
Esquivel, o teólogo Leonardo Boff e advogados negociaram ao longo de todo o dia a liberação para realizar uma visita de caráter humanitário e de assistência religiosa a Lula. “Mas não permitiram nem a mim nem ao Leonardo Boff”.
Como embarca nesta sexta-feira (20) para Argentina, devido a compromissos, Esquivel fazia questão de visitar Lula ainda hoje. Só não esperava se deparar com as arbitrariedades da Justiça brasileira.
“Não permitirem a nossa entrada foi um desrespeito ao direito de Lula”, criticou o ativista argentino, ao alertar que não é somente ele que vem de fora para visitar Lula, mas que delegações de diversas partes do mundo se organizam para vir ao Brasil.
“Por isso eu peço que pensem que a Justiça é para buscar a verdade, que a Justiça deve buscar o direito e o respeito à pessoa e ao povo, isso é fundamental”, disse o Nobel da Paz.
Segundo ele, mesmo da Argentina, seguirá acompanhando a luta em defesa da liberdade de Lula, preso político na sede da Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, no Paraná, desde o dia 7 de abril.
“Vamos seguir desenvolvendo uma campanha internacional até que Lula tenha a sua liberdade de volta. Lula livre! Muita força, esperança e unidade”, disse, ao encerrar com a leitura da carta que escreveu para ser entregue ao ex-presidente.
“Um forte abraço, irmão Lula.
Tentamos fazer uma visita (junto com Leonardo Boff), porém a Justiça negou a autorização. Apesar dessa atitude discriminatória e violadora de seus direitos, quero dizer que o mundo sabe a verdade e se mobiliza por sua liberdade.
Um forte abraço, muita força e esperança!
Conte com a nossa solidariedade e apoio”
Prêmio Nobel para Lula
No acampamento, Esquivel reafirmou mais uma vez para a militância que Lula preenche todos os requisitos para ser premiado com o Nobel da Paz deste ano.
Ele disse que Lula tirou mais de 30 milhões de brasileiros da fome e da miséria, além de ter criado políticas públicas que promoveram dignidade e cidadania ao povo mais vulnerável do Brasil.
O ativista argentino, segundo a receber o prêmio na América Latina, encabeça campanha para indicar o ex-presidente Lula, maior líder popular vivo do continente, ao Nobel da Paz.
Mais de 230 mil pessoas já assinaram o abaixo-assinado que Esquivel encabeçou nos últimos dias. A meta é chegar a 300 mil assinaturas para encaminhar ao comitê do Nobel, que fica na Noruega.