Brasileiros machistas na Copa da Rússia são reconhecidos e penalizados
Advogada russa denunciou os atos como violência e humilhação pública e a secretária da Mulher Trabalhadora da CUT diz que as punições devem acontecer para aprenderem a respeitar as mulheres
Publicado: 20 Junho, 2018 - 17h32 | Última modificação: 20 Junho, 2018 - 17h57
Escrito por: Redação CUT
O machismo de alguns torcedores brasileiros, que assediaram sexualmente mulheres russas, começa a receber faturas, que vão de desmoralização em suas cidades e locais de trabalho a demissão, processo administrativo disciplinar e até uma ação criminal na Rússia.
A Copa do Mundo pode terminar mais cedo para os brasileiros que aparecem em vídeos gravados induzindo mulheres que não falam a língua portuguesa a falar palavras de baixo calão e ou se referir aos seus próprios órgãos genitais com extremo mau gosto.
A jurista russa Alyona Popova fez uma denúncia e escreveu uma petição contra os atos machistas por violência e humilhação pública à honra e à dignidade de outra pessoa. Segundo ela, as punições para os ofensores podem variar de multa a restrições na Rússia.
No documento, Alyona, que é ativista feminista e umas das maiores referências no país em defesa dos direitos da mulher, cita a repercussão do caso entre imprensa, autoridades e celebridades no Brasil.
Alyona se refere aos vários vídeos de brasileiros assediando estrangeiras durante a Copa do Mundo da Rússia que se espalharam rapidamente nas redes sociais e provocaram indignação e revolta de mulheres e homens em todo o mundo.
Em suas páginas nas redes sociais, artistas se pronunciaram repudiando o conteúdo do vídeo. “Achar graça nisso é ser cúmplice de um mau gosto sem perdão e uma atitude criminosa inclusive”, afirmou a cantora Zélia Duncan. Já Ivete Sangalo disse em sua conta no Instagram que se sentia envergonhada. “Lamentável que muitos de um mesmo grupo participem deste papelão machista. Falta de lisura, de educação, de hombridade. Sinto vergonha por vocês, garotos.”
A reação de militantes das causas feministas, artistas e da sociedade em geral nas redes sociais estimulou os jornais a fazer reportagens sobre os assediadores que começaram a ser rapidamente identificados e penalizados.
Nesta quarta-feira (20) o funcionário de uma empresa aérea, Felipe Wilson, que aparece em um dos vídeos pedindo para três russas repetirem uma frase baixo calão em português, foi demitido. O tenente Eduardo Nunes, policial militar em Lages (SC), que está em férias na Rússia e aparece no primeiro vídeo onde uma russa é abordada por sete brasileiros que “brincaram” com a cor do seu órgão genital, vai responder a processo administrativo disciplinar que vai apurar sua condução.
Outro identificado, também do primeiro vídeo, é Diego Valença Jatobá, ex-secretário de Turismo, Cultura e Esportes de Ipojuca (PE), condenado por falta de pagamento de pensão alimentícia à ex-mulher e também por mau uso do dinheiro público pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) de Pernambuco.
O site The Intercept Brasil trocou mensagem por aplicativo de celular com o terceiro homem identificado, o empresário piauiense Luciano Gil Mendes Coelho. Nascido na cidade de Jaicós, a 364 quilômetros de Teresina, ele aparece no vídeo vestindo uma camiseta preta e segurando o telefone celular.
Segundo o veículo, Luciano Coelho é ex-inspetor do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Piauí (Crea-PI) e "foi preso em uma operação que desarticulou esquema de desvio de dinheiro público por meio da fraude em licitações na prefeitura de Araripina", Pernambuco, em maio de 2015.
A secretária da Mulher Trabalhadora da CUT, Junéia Batista, afirma que a Central se soma aos movimentos sociais e feministas no repúdio e exigência de punições a esses atos covardes que atacaram as mulheres russas.
“Mexeu com uma, mexeu com todas”.
Segundo ela, “o comportamento misógino e antiético de alguns torcedores brasileiros e também de outros homens da América do Sul, Peru, Colômbia e Argentina que estão na Copa do Mundo, só nos faz ter a certeza de que a perspectiva de gênero é urgente, mas antes disso que sejam exemplarmente punidos para aprenderem a respeitar as mulheres”.
Repúdio das entidades
Em nota, a diretoria do Conselho Federal da OAB, o Conselho Federal e a Comissão Nacional da Mulher Advogada do CFOAB e todas as presidentes das Comissões da Mulher Advogada e das Comissões de Defesa dos Direitos da Mulher das Seccionais da OAB repudiaram as cenas grotescas e vergonhosas e afirmaram estar indignadas e envergonhadas. “Fomos todas assediadas, agredidas, constrangidas e humilhadas”.
As conselheiras do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), formada por diversos ministérios e entidades também repudiou o comportamento intolerável dos brasileiros e disse esperar que os órgãos competentes adotem providências contra os agressores.