Escrito por: Redação RBA
Compositor baiano lamenta assassinato de Moa do Catendê, esfaqueado em Salvador por eleitor de Bolsonaro. Gilberto Gil fala em "devastadora onda de ódio"
O cantor e compositor Caetano Veloso postou vídeo em que se mostra indignado com o assassinato do mestre de capoeira Moa do Catendê em Salvador. Ele já havia se declarado "de luto" pela morte de Moa, seu amigo, "uma das figuras centrais na história do crescimento dos blocos afro de Salvador".
No vídeo, Caetano lembra que Moa foi fundador do afoxé Badauê e cantarola música sobre o grupo, que gravou há décadas: "Misteriormente/ O Badauê surgiu/ Sua expressão cultural/ O povo aplaudiu". E lamenta o momento por que passa o país.
"Ele (Moa) foi assassinado por causa de uma discussão política", disse Caetano, lembrando que o mestre de capoeira havia declarado seu voto no PT e foi esfaqueado 12 vezes por um "bolsonarista fanático". Ele acabou sendo preso.
"Isso dá a impressão que a mente brasileira está num estado que precisa ser superado. É verdade que todo mundo precisa colocar pra fora um monte de coisa pra ver se muda o modo de ser da mente do brasileiro, do inconsciente coletivo. Pra isso acontecer, a gente tem de se reconhecer que a gente está maduro o suficiente para não se entregar a coisas como essa. porque isso é muito simbólico do que está se esboçando no Brasil", prossegue Caetano, cujo tom de voz vai aumentando na parte final da fala.
"A mente de todos os brasileiros que são capazes de pensar, acalmar a cabeça para receber as coisas, o coração para metabolizar os sentimentos humanos, precisa reconhecer que não pode reduzir o Brasil a essa coisa bárbara", diz, irritado. "O assassinato de Moa do Catendê é um sinal de que a gente não deve seguir com força no caminho que as pessoas ilusoriamente pensam que é superação, quando é atraso, é volta, é medo da responsabilidade da civilização."
Gilberto Gil também postou em rede social mensagem em que lamenta o episódio. "Mestre Moa do Catendê foi morto ontem, em Salvador, por um homem tomado de fúria assassina em meio a uma discussão sobre as eleições que acabavam de acontecer. (...) Ele, homem de dedicada atuação entre as comunidades da cultura popular da cidade, foi o idealizador do bloco Afoxé Badauê que encantou os carnavais de rua da Bahia, alguns anos atrás. Torna-se uma das primeiras vítimas fatais dessa devastadora onda de ódio e intolerância que nos assalta nesses dias de hoje", escreveu.
"Nosso luto e nossa esperança de que a sua imolação não tenho sido em vão e que nos ajude a encontrar a pacificação logo ali adiante!", acrescenta Gil.