Escrito por: Érica Aragão

Caixa e Santander mudam protocolo e vidas estão ainda mais ameaçadas por Covid-19

Em Pernambuco, os dois bancos lideram em casos confirmados da doença, com 56% dos casos e, no Brasil, 3 bancários já morreram

Sindicato dos Bancários de Pernambuco

Desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou a pandemia do novo coronavírus, o Comando Nacional dos Bancários - entidade que congrega representantes de sindicatos da categoria de todo o país - tem negociado com a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) medidas preventivas de saúde e segurança para combater a proliferação da Covid-19, doença causada pelo vírus, entre trabalhadores e trabalhadoras dos bancos e a população geral.

Tudo dia bem até que, esta semana, representantes de sindicatos e trabalhadores da Caixa, que vem atendendo milhares de trabalhadores e trabalhadoras informais em busca do auxilio emergencial de R$ 600, aglomerações que são um risco para bancários e para a população, e do Santander começaram a denunciar mudanças no protocolo de prevenção e cuidados com os bancários que havia sido negociado e vinha sendo cumprido. [Veja detalhes do protocolo no final do texto].

Segundo os sindicalistas, os bancos têm forçado o trabalhador, mesmo com caso confirmado de Covid-19 leve a continuar atendendo e, além disso, não estão dispensando os trabalhadores e trabalhadoras que tiveram contato com os que se contaminaram, o que tem ameaçado a vida dos trabalhadores, de suas famílias e da população em geral. 

A situação é bastante crítica em Pernambuco. Segundo  levantamento do Sindicato dos Bancários de estado, 175 bancários estão contaminados pelo novo coronavírus. A Caixa, com 32%, e o Santander, com 24%, lideram o ranking, com 56% dos casos, seguidos por Bradesco (21%), Itaú (10%), Banco do Brasil (8%) e Banco do Nordeste (5%).

O levantamento foi feito a partir de denúncias recebidas na entidade, todas checadas com cada gestor e superintendências das agências.

“A Caixa e o Santander querem matar os funcionários e seus clientes porque só querem afastar para quarentena, e ainda mais curta, os casos positivos e ignora os colegas que tiveram contato de alguma forma com quem adoeceu. E ainda estão exigindo que os empregados continuem trabalhando sem higienização na agência”, disse a presidenta do Sindicato dos Bancários de Pernambuco, Suzineide Rodrigues.

“Como os bancos não nos informam de forma proativa e ainda estão intimidando os trabalhadores e as trabalhadoras para não denunciarem ao sindicato, esse número pode ser ainda maior”, diz a dirigente.

Sindicato dos Bancários de Pernabuco

Não se cale, denuncie!

Para estimular a categoria a denunciar os bancos não estão adotando os protocolos de prevenção, o Sindicato dos Bancários de Pernambuco lançou na última terça-feira (19), a campanha de conscientização "Não se cale, denuncie!".

“Os bancos não podem continuar brincando com a vida das pessoas, e o trabalhador precisa denunciar. Tem locais de trabalho que estão pedindo para que o bancário ou bancária troque o atestado de Covid-19 por um outro qualquer para que continue trabalhando. Só com a ajuda da categoria é que conseguiremos mudar esta realidade”, disse Suzineide.

A presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira, ressalta que o Comando Nacional dos Bancários “continua nas mesas de negociação cobrando o cumprimento dos protocolos de proteção de saúde e de segurança de forma igual para todos os bancos”.

“É fundamental que afastem os casos suspeitos e confirmados e atenda nossas reivindicações do atendimento porque o lucro não pode estar acima das vidas”, exige a dirigente.

Problema começou com o pagamento do auxílio emergencial

Durante o pagamento da primeira parcela do auxílio emergencial, filas e filas dobraram o quarteirão das agências da Caixa para receber o benefício, o que aumentou a possibilidade da proliferação do vírus entre a categoria e a população.

Com o número de casos aumentando e a Caixa se recusando a informar os números de trabalhadores e trabalhadoras contaminadas, é difícil fazer um balanço nacional da situação, reclama o presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae), secretário de Finanças da Contraf-CUT e trabalhador da Caixa, Sérgio Takemoto.

Ele lamentou que a Caixa, de forma unilateral, reduziu as medidas de segurança sem se preocupar com a vida dos brasileiros e brasileiras, já que a população continua procurando o banco e está correndo risco de contaminação.

Segundo ele, o número de relatos que a entidade recebe sobre o descumprimento do acordo são muitos, mas não tem estes dados sistematizados.

“Estamos buscando medidas judiciais e conversando com o Ministério Público para buscar alternativas e garantir o mínimo de proteção para os bancários e bancárias, mas a falta de diálogo entre banco e comando e entre o governo e a direção da Caixa dificultam o avanço da segurança que queremos assegurar da população e dos trabalhadores”, afirma.

Tudo pode piorar com a segunda parcela do auxílio emergencial

Sérgio também ressalta que mesmo ainda nas negociações iniciais na parte do atendimento, a categoria não teve avanço, e as principais bandeiras não foram atendidas, como a descentralização do pagamento do auxílio emergencial, agendamento do pagamento via telefone, ampla campanha de esclarecimento sobre o benefício e a contratação de mais trabalhadores.

“A defasagem de pessoal já é um problema antigo, mas que tem se intensificado na pandemia, pela demanda e pelo afastamento de diversos trabalhadores, o que tem feito a categoria trabalhar de 12 a 15 horas diárias. E pode piorar se a doença entre a categoria continuar avançando e o número de pessoas aprovadas para receber o benefício continue crescendo”, disse.

Segundo a Fenae, até 2015 a Caixa tinha 101 mil empregados e hoje são 86 mil. E esse número ficou ainda menor quando o Congresso Nacional, pressionado pela CUT e demais centrais, conseguiu aprovar o auxílio emergencial de R$600 e o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) anunciou o pagamento do benefício pela Caixa, que superou as expectativas de entre 25 e 30 milhões de pessoas, chegando a 1/3 da população.

“É bom lembrar que além do auxílio emergencial, a Caixa continua pagando o Bolsa Família, FGTS, seguro desemprego, que inclusive houve aumento de pedido porque está tendo muitas demissões e o governo não está fazendo nada para impedir, pelo contrário, ainda está reduzindo salários e jogando a conta da pandemia nas costas do trabalhador”, destaca.

Mortes e desvalorização na categoria

O coordenador da Comissão de Executiva dos Empregados da Caixa (CEE/Caixa), Dionísio Reis, também destaca que o presidente do banco está rodando a mídia colocando os trabalhadores como heróis de crachás, como se fossem invencíveis e eternos como os que se vê na televisão, mas não abre o diálogo e nem valoriza a categoria.

“Reduziram os protocolos de saúde e segurança num momento em que no país tem aumentado o número de casos e mortes e depois que a categoria perdeu três trabalhadores e trabalhadoras pela doença, um em São Paulo, outro na Paraíba, inclusive com mais de 60 anos que estava trabalhando, e um advogado no Pará”, contou.

E Dionísio diz ainda que os protocolos estão sendo cada vez menores, inclusive o do retorno dos trabalhadores.

“Para voltar ao trabalho é preciso que o trabalhador ou trabalhadora contaminado ou com suspeita cumpra a quarentena de 14 a 28 dias e ainda seja testado antes e isso não tem acontecido. Muitos trabalhadores só fazem 7 dias de quarentena e não são testados e isso pode piorar ainda mais a situação”, comenta.

Dionízio também denuncia que os sindicatos e as entidades também estão recebendo denúncias em relação a pagamentos errados, falta de registro de ponto, entre outras, mas têm evitado várias outras tragédias para a categoria.

“Herói de verdade é valorizado e o banco fala de boca para fora, porque a gente acredita que poderia ser evitada com protocolos mais rigorosos, o que os bancos não estão cumprindo”, afirma.

Protocolo de proteção  negociado pelo Comando dos Bancários

No início das negociações, o movimento sindical até se surpreendeu com os bancos públicos e privados, que vinham respeitando o controle de aglomeração nas agências, o fornecimento obrigatório dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), a dispensa física dos trabalhadores e as trabalhadoras do grupo de risco sem comprovação de laudo para pessoas com idade superior a 60 anos, portadores de doenças crônicas, em tratamento de câncer, gestantes e lactantes, inclusive terceirizados e o respeito à negociação coletiva com a não implementação das medidas provisórias que aprovaram, entre outras coisas, a telemedicina.

A partir das negociações, foi criado um protocolo entre os bancos e o comando para preservar a saúde e a vida dos trabalhadores, que inclui: o afastamento imediato por até 14 dias das pessoas que apresentem sintomas, atestado ou exame de caso suspeito e de toda equipe de trabalho ao redor. Além disso, ficou acordado que a unidade devia ser fechada e higienizada e só poderia ser reaberta se todos trabalhadores e trabalhadoras da agência fossem trocados. E mais, toda equipe deve ser informada sobre os casos e casos de omissão seriam avaliados pelo Grupo de Trabalho (GT) de prevenção que tomaria as ações necessárias, inclusive o fechamento do banco.