Escrito por: CUT-RS
Por unanimidade a Câmara de Vereadores de Caxias do Sul abriu processo de cassação contra Sandro Fantinel, que ofendeu o povo baiano após descoberta de trabalho escravo na região
Fantinel, que foi expulso do Patriota, é acusado de quebra de decoro após o discurso feito na tribuna na terça-feira (28) com falas preconceituosas, racistas e xenófobas contra 207 trabalhadores, quase todos baianos, que foram resgatados da situação análoga à escravidão em Bento Gonçalves.
Vereador do Patriota
Vereador Sandro Fantinel (ex-Patriota), durante o discurso repugnante
Os trabalhadores haviam sido contratados por uma empresa terceirizada para atuar na colheita da safra da uva para as vinícolas Aurora, Salton e Garibaldi e para 23 proprietários rurais,
No discurso, o vereador sugeriu aos produtores e empresários da região que "não contratem mais aquela gente lá de cima" e ofendeu a dignidade do povo baiano ao dizer que "a única cultura que eles têm é viver na praia tocando tambor".
Ele também disse que "todos os agricultores que têm argentinos, só batem palma, porque são limpos, trabalhadores, corretos, cumprem horário, mantêm a casa limpa e, no dia de ir embora, ainda agradecem o patrão".
O plenário está lotado de trabalhadores e trabalhadoras, sindicalistas e representantes de movimentos sociais, que protestaram com veemência contra o pronunciamento do vereador que repercutiu em todo o Brasil. “É desumano, vergonhoso e inadmissível ver que há brasileiros capazes de defender a crueldade humana”, postou no Twitter o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT).
Integrantes do movimento negro entraram no recinto tocando os seus tambores para expressar a sua indignação diante dos ataques descabidos de Fantinel ao baianos.
Tambores (2)
Foto: Bianca Prezzi / Câmara de Caxias do Sul
Não é de hoje que o vereador comete desaforos. Ele já atacou a memória de Ulysses Guimarães, fez insinuações homofóbicas contra o governador Eduardo Leite (PSDB) e desestimulou a vacinação contra a Covid-19.
Comissão Processante
Com a admissibilidade do pedido, o processo segue a tramitação no Legislativo. Já foi formada uma Comissão Processante, integrada por três vereadores escolhidos por meio de sorteio: Tatiane Frizzo (PSDB), Felipe Gremelmaier (MDB) e Edi Carlos Pereira de Souza (PSB).
A sessão foi suspensa por quase uma hora para a eleição entre eles para as funções de presidente (Tatiane Frizzo), relator (Edi Carlos) e participante (Felipe Gremelmaier).
O grupo tem até 90 dias para coletar subsídios materiais e ouvir a defesa de Fantinel. Depois será divulgado um parecer e, então, irá à votação em plenário. Para a cassação, é preciso dos votos favoráveis de dois terços dos vereadores.
Mobilização não vai parar
A secretária de Movimentos Sociais da CUT-RS e presidente do Sindicato dos Servidores Municipais de Caxias do Sul, Silvana Piroli, acompanhou os debates na Câmara e a votação dos vereadores e destacou que a mobilização por trabalho decente e pela cassação do vereador não vai parar.
Pressão Caxias (2)
Silvana Piroli (ao centro), dirigente da DUT-RS e do Sindiserv Caxias do Sul
“É preciso que tenhamos vigilância, estejamos atentos e organizados para lutar contra qualquer tipo de ódio, seja nas redes sociais, seja nos pronunciamentos, para que a gente não propague nenhuma questão que envolva o ódio, o racismo, qualquer tipo de preconceito”, destacou.
Para Silvana, “a luta é pelo trabalho decente já, pelas condições dignas de trabalho, pela revogação da lei das terceirizações que tanto mal fazem aos trabalhadores. Para que a gente possa construir um Brasil mais igual, justo e solidário”.