Campanha #PadreAmaroLivre denuncia criminalização da luta pela terra
Padre Amaro está preso há mais de um mês por perseguição política dos latifundiários da região, denuncia a Comissão Pastoral da Terra
Publicado: 04 Maio, 2018 - 07h09 | Última modificação: 04 Maio, 2018 - 09h53
Escrito por: Érica Aragão
A Comissão Pastoral da Terra (CPT) lançou uma campanha para exigir a liberdade imediata do padre José Amaro Lopes, preso desde o dia 27 de março, e denunciar o intenso processo de criminalização contra o religioso.
A campanha “queremos #PadreAmaroLivre” pretende sensibilizar a desembargadora Vânia Lúcia Carvalho da Silveira, do Tribunal de Justiça do Pará, para que se faça justiça no julgamento do habeas corpus impetrado para libertar o padre, condenado por esbulho, organização criminosa e extorsão, entre outros crimes que não cometeu.
Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), a prisão do padre Amaro, sucessor da Irmã Doroty Stang na luta pelo acesso à terra e respeito aos direitos humanos em Anapu, no Pará, satisfaz a sanha dos latifundiários da região que pretendem de toda forma destruir o trabalho realizado pela CPT e desmoralizar os que lutam ao lado dos pequenos para ver garantidos os seus direitos.
Sobre o inquérito que motivou a prisão do padre, segundo a análise da CPT, as denúncias contra o religioso, que é ameaçado de morte desde 2001, foram feitas pelos mesmos fazendeiros ligados diretamente ou indiretamente ao assassinato da Irmã Dorothy.
“Mas os fazendeiros mudaram de estratégia em relação ao padre Amaro. Ao invés de assassiná-lo, encontraram uma forma de desmoralizá-lo, atacando sua imagem e criminalizando-o. Assim, conseguiram retirá-lo do município de Anapu”, diz trecho do documento.
O advogado da CPT, José Batista, explica que a prisão do padre Amaro é política e tem a expectativa de que ele possa responder ao processo em liberdade, uma vez que não representa qualquer ameaça ao andamento do processo.
“A justa liberdade de padre Amaro não representa risco para as testemunhas do Ministério Público e muito menos para a ordem pública de Anapu, razão pela qual ele reúne todas as condições para responder às falsas acusações em liberdade”, explica, ao ressaltar que uma das denúncias teve de ser retirada por falta de provas.
Para Geuza da Cunha Morgado, da Comissão Pastoral da Terra de Marabá, padre Amaro foi vítima da armação de grileiros da região, “que se dizem proprietário de terras públicas de Anapu”.
“O padre Amaro precisa voltar e continuar sua luta em defesa dos direitos humanos, especialmente dos mais carentes. O crime dele foi ajudar as pessoas a saírem da condição de extrema pobreza nas periferias de Anapu”, disse.
Geuza, que acompanha o trabalho do religioso há 20 anos, diz que foi uma das últimas pessoas que tentou visitá-lo na prisão, em Altamira, onde estão presos também os mandantes do crime da irmã Dorothy.
Junto a outros companheiros que temem por sua vida na prisão, Geuza viajou mais de 600 km para prestar solidariedade, mas não conseguiu entrar.
Carta do padre Amaro
Em carta, o religioso agradeceu a solidariedade de todos desde que foi preso, em março, e disse que o apoio daqueles que acreditam na sua inocência é o que o fortalece em sua missão.
“Aqui vivi o Evangelho na prática, no meio desses irmãos. O presídio tem capacidade para 190 detentos, e aqui tem 400.”
“Dorothy vive, sempre, sempre. E o Amaro também ainda vive”, finalizou.
Mobilização Popular
Lideranças da luta pela terra, representantes religiosos, apoiadores, membros do Conselho Nacional dos Direitos Humanos estão mobilizados na luta pela libertação de padre Amaro. Eles estão dialogando com as autoridades e a população de Anapu e Altamira para sensibilizar todos sobre a situação injusta do padre.
Artistas também estão gravando e enviando para a CPT vídeos de apoio e solidariedade, como é o caso da atriz e membro MHuD - Movimento Humanos Direitos, Bete Mendes, que mostra preocupação por mais esse ato de criminalização das lutas sociais.
Várias notas e mensagens de solidariedades não param de chegar à CPT, todas no mesmo tom: solidariedade e indignação com a injustiça que estão cometendo contra o padre Amaro.