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Cartel das Sete Irmãs tenta manter leilões

Mídia inventa risco para facilitar múltis no pré-sal

Publicado: 31 Julho, 2009 - 11h59

Escrito por: Carlos Lopes/HP

 

Manobra do cartel das Sete Irmãs visa manter lei atual dos leilões criada no governo de FHC

A melhor síntese da campanha dos últimos dias sobre o pré-sal foi a do jornalista Paulo Henrique Amorim: "eles querem meter a mão no pré-sal". E complementa: "querem tirar a Petrobrás do pré-sal".

Primeiro, há algumas semanas, a Esso (aliás, ExxonMobil) anunciou que não encontrou petróleo no pré-sal - não em qualquer lugar do pré-sal, mas na bacia de Santos, área em que a Petrobrás fez 11 perfurações e estabeleceu 11 poços de petróleo, isto é, onde a Petrobrás encontrou petróleo em todas as perfurações que realizou no pré-sal.

TÉCNICA

É possível - talvez até provável - que o problema da Exxon seja incompetência. Não seria a primeira vez. A especialidade da velha Standard Oil dos Rockefeller jamais foi a proficiência técnica para descobrir petróleo. Seu negócio sempre foi arrancar petróleo de quem o descobriu. Tudo indica, portanto, que a Petrobrás estava com a razão ao declarar, sobre o poço da Exxon, que "é improvável a ocorrência de poços secos na área do pré-sal na bacia de Santos". Tão improvável é essa ocorrência que a taxa de sucesso da Petrobrás nessa área é 100%. Só a Exxon é que conseguiu uma taxa de 0%.

Mas, depois que a Exxon anunciou sua extraordinária performance no pré-sal, apareceram na mídia os arautos dos "riscos" do pré-sal. Os gângsters da "Veja" foram os primeiros.

Se há algo que demonstra eloquentemente - poder-se-ia dizer: escandalosamente - a necessidade de mudar a atual lei do petróleo é a falta de risco na exploração do pré-sal. Toda a argumentação de Fernando Henrique & outros entreguistas para concederem lotes em que as multinacionais podem ficar com o petróleo que tiram do nosso subsolo, residia nos supostos riscos da prospecção e exploração de novas áreas. Eram tão grandes esses riscos que as multinacionais até hoje não acharam nova jazida alguma de petróleo, mesmo porque somente tomaram lotes em áreas que antes eram da Petrobrás.

Quem descobriu novas reservas, e gigantescas, foi, precisamente, a Petrobrás. Depois que esta encontrou os imensos reservatórios do pré-sal, que risco existe de não achar petróleo onde todos sabem que ele existe em quantidades colossais? Logo, a lei do petróleo tornou-se insustentável no pré-sal até do ponto de vista da argumentação dos entreguistas.

DADOS

Por isso, as multinacionais - e sua imprensa escrita, falada e televisada - descobriram que o grande negócio estava não em achar petróleo, mas, pelo contrário, em não achá-lo, em dizer que os riscos no pré-sal são tais que a lei do petróleo deve continuar exatamente como está.

Há alguns dias, a campanha foi irrigada por um artigo no jornal "Valor Econômico", logo ecoado pelo resto da turma, onde se afirmava que 32% dos poços do pré-sal "são pouco viáveis", número, segundo o jornal, descoberto no Banco de Dados de Exploração e Produção (BDEP) da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Até mesmo o poço de Corcovado 1 - que está jorrando desde abril - era dado como seco.

A ANP respondeu, sobre Corcovado, que "a informação que consta no sítio do BDEP, como sendo poço seco e sem indícios de petróleo, está equivocada". Entretanto, não explicou como um poço que foi sensação em todo o mundo, no seu banco de dados, consta como "poço seco e sem indícios de petróleo". Nós sugerimos que as autoridades peçam explicações ao responsável pelo banco de dados da ANP, sr. Nelson Narciso, ex-diretor da multinacional americana Halliburton. Certamente, ele saberá explicar.

A resposta da Petrobrás é mais esclarecedora: "A partir de 2006, quando as rochas carbonáticas do pré-sal foram efetivamente comprovadas como potenciais reservatórios para acumulações de petróleo, a Petrobras perfurou 11 poços na área central da Bacia de Santos tendo estes reservatórios como objetivos principais. Todos estes poços resultaram em descobertas (taxa de sucesso de 100%)".

Portanto, a taxa de 100% foi obtida "a partir de 2006", quando o pré-sal foi comprovado como potencial reservatório de petróleo. Naturalmente, uma taxa de sucesso no pré-sal não poderia ser obtida antes que os reservatórios de petróleo do pré-sal fossem comprovados, pelo menos potencialmente.

Mas a realidade nunca foi obstáculo para que essa mídia exercesse sua patogênica função. Portanto, a nota da Petrobrás foi propalada como a admissão de que o pré-sal é cheio de riscos. Apegaram-se, para isso, a outro trecho da nota: "conforme divulgado no Form-20F (Relatório Anual da SEC) até o final de 2008 foram perfurados 30 poços na região do pré-sal (....) tendo sido obtida uma taxa de sucesso de 87% na comprovação de presença de hidrocarbonetos" (grifo nosso).

Uma taxa de sucesso de 87% é uma tremenda taxa de sucesso, muito acima da média internacional de 12%. Mas, para a mídia das multinacionais, isso mostra os riscos do pré-sal... Porém, não há aqui apenas ridículo - na verdade, eles estão falsificando os fatos a que a Petrobrás se refere.

CAMPANHA

A SEC, citada pela Petrobrás, é a U.S. Securities and Exchange Commission, a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA, que tem a mesma função da CVM daqui: fiscalizar as bolsas de valores. Como a Petrobrás, por obra e graça do governo Fernando Henrique, tem ações negociadas na Bolsa de Nova Iorque, é obrigada a enviar relatórios periódicos para a SEC - o "Form-20F", também citado pela Petrobrás, é um deles, usado pelas companhias petrolíferas para divulgar internacionalmente suas descobertas e reservas (cf. o trabalho do diretor de Exploração e Produção da Petrobrás, Guilherme Estrella, "A Política de Divulgação de Reservas da Petrobras").

No relatório da Petrobrás dirigido à SEC, pode-se ler: "Nos últimos anos, focamos nossos esforços de exploração marítima nas reservas do pré-sal (....). Nós perfuramos 30 poços nesta área desde 2005, sendo que 87% destes produziram descobertas de recursos de hidrocarboneto" ("Form 20-F 2008", pág. 33).

Em suma, os 87% de sucesso correspondem aos poços perfurados depois da comprovação do pré-sal, somados aos que foram perfurados antes desta comprovação, isto é, antes de 2006, ano em que a potencialidade do pré-sal foi comprovada. A partir de 2006, os 11 poços perfurados pela Petrobrás no pré-sal da bacia de Santos foram bem sucedidos. A taxa de sucesso, portanto, depois de comprovados os reservatórios do pré-sal, não é de 87% - passou a 100%.

Os 87% propalados pela mídia não são a taxa de sucesso da Petrobrás no pré-sal, e sim a dos poços perfurados antes e depois que as reservas do pré-sal fossem comprovadas, isto é, incluindo as perfurações realizadas quando a Petrobrás estava tateando as reservas do pré-sal, sem ainda comprová-las, nem mesmo potencialmente. Algumas dessas perfurações, diz a Petrobrás, não tinham relação com o pré-sal, apenas eram na mesma área.

Não há como deixar de concordar com o ex-ministro José Dirceu em que esta é "a mais suja campanha que a mídia já fez contra os interesses nacionais e a democracia". Dirceu observa que "tornou-se visível na mídia uma certa campanha para desqualificar o pré-sal. (....) Ontem [terça-feira], os jornais diziam que os poços perfurados na área não seriam tão rentáveis. Hoje, inclusive, o Estadão traz para a sua 1ª página uma chamada com o título ‘Geólogos dizem que índice de sucesso do pré-sal vai cair'".

Realmente, um dia esse índice vai cair. Um dia, inclusive, o petróleo do pré-sal vai acabar. E será bem rápido se, em vez da Petrobrás, quem explorar o pré-sal for a Exxon, a Shell e outras aves de rapina.

http://www.horadopovo.com.br/