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Casa Grande ficou furiosa quando filho da empregada virou doutor, diz Mercadante

Durante visita ao acampamento Lula Livre em Curitiba, o ex-ministro lembrou da trajetória de vida ao lado do ex-presidente e dos vários momentos em que Lula foi considerado inimigo da elite brasileira

Publicado: 20 Abril, 2018 - 13h23 | Última modificação: 20 Abril, 2018 - 13h29

Escrito por: Luciana Waclawovsky, especial para Portal CUT

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O ato da manhã desta sexta-feira (20) no Acampamento Lula Livre, instalado nas proximidades da sede da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde o ex-presidente está detido na condição de preso político desde o dia 7 de abril, contou com a mensagem de resistência e força de parlamentares e do ex-ministro dos governos Lula e Dilma, Aloísio Mercadante.

Mercadante, um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores, e Lula começaram juntos na militância: Lula no sindicalismo e Mercadante no movimento estudantil. Ele, que também foi senador pelo estado de São Paulo entre os anos de 2003 a 2007, está indignado com a situação do ex-presidente, preso em uma sala de 15 metros, impedido de receber visitas e sendo tratado como um prisioneiro de alta periculosidade.

Mercadante reforçou aos militantes e visitantes que participaram do “bom, dia presidente Lula!” que a elite sempre ficou surpresa com a força política do ex-presidente. E é por isso que Lula hoje está preso.

“Ele foi o presidente da República que mais esteve junto do povo brasileiro, nas ruas, durante seus oito anos de governo e agora estão querendo humilhar Lula trancando ele em uma salinha. Ele só está ali [apontando para a sede da PF] porque mudou a vida da população e elevou a autoestima das pessoas que mais precisavam do estado brasileiro”, denunciou.

Ministro da Educação por duas vezes, Mercadante lembrou que o ex-presidente foi o segundo brasileiro que mais recebeu, de vários países, o título de doutor honoris causa [concedidos por universidades a pessoas eminentes, que não necessariamente sejam portadoras de um diploma universitário, mas que se destacaram em determinada área, por sua boa reputação, virtude, mérito ou ações de serviço que transcendam famílias, pessoas ou instituições], por tudo o que fez na educação, perdendo apenas para o pensador e educador Paulo Freire.

Todos os índices de educação, no ensino infantil, fundamental, médio e universitário cresceram na gestão do ex-presidente, relembrou Mercadante. “Lula foi o único presidente sem diploma universitário que mais títulos universitários ofereceu ao povo brasileiro” destacou.

“O que eles não aceitam é que em 2015, quando fizemos o exame do ENAD, 35% dos formandos – um em cada três – era o primeiro da família a ter um título universitário. Não é a toa que a primeira universidade no Brasil é de 1920 enquanto outros países têm ensino superior desde o século XI, por exemplo. E é por isso que a burguesia não aceita Lula. Eles queriam continuar dominando pela falta de informação, de cultura e consciência”.

Só que eles [elite] não se deram conta que depois de Lula não tem volta, continuou Mercadante.

“A relação de exploração entre Casa Grande e senzala não voltará mais. Lula está preso em nossos corações e em nossas ideias. E mesmo aprisionado em uma salinha, suas ideias percorrem o Brasil todo, do semiárido nordestino à Amazônia brasileira. Da periferia das grandes cidades às roças no interior”, disse.

A elite não suporta Lula assim como elegeu de inimigo os presidentes que mais fizeram pelo povo como Getúlio Vargas (1930 a 1945), João Goulart (1961 a 1964) e Juscelino Kubitschek (1956 a 1961), disse Mercadante.

Se eles acham que vamos abaixar a cabeça nesses 15 metros de confinamento, estão muito enganados, avisou Mercadante. Ele afirmou que a população saberá, em todos os cantos do país, que prenderam um homem inocente porque ousou lutar para dar dignidade às pessoas que mais precisavam.

“Quando o Brasil profundo se levantar e formos para a campanha [das eleições presidenciais] mostrar o programa Luz para Todos, onde quase quatro milhões de pessoas que nunca tiveram acesso puderam acender a luz, o povo vai lembrar de Lula e não dos golpistas; quando a gente falar do Minha Casa Minha Vida, onde foram distribuídas quase três bilhões de moradias, o povo vai lembrar quem, pela primeira vez, enfrentou o problema da moradia para quem nunca teve direito; quando falarmos dos assentados da reforma agrária, do Pronaf da agricultura familiar, do apoio aos movimentos sociais, o povo vai saber quem é que tinha relação e compromisso com essa agenda e não com o latifúndio; quando mostrarmos os resultados do PROUNE, Fies e cotas, as famílias vão lembrar como chegaram na universidade; quando chegar a campanha vamos falar que o salário mínimo cresceu 79% acima da inflação pela primeira vez na história e que as pessoas tinham carteira de trabalho, emprego e até micro-empresa”, concluiu.

Também presente no ato desta manhã, o deputado federal Arlindo Chinaglia (PT-SP, ex-presidente nacional da CUT, falou que o Brasil hoje está cercado de escândalos, porém, para ele, o maior de todos é o silêncio da elite política e da sociedade que se cala ou comemora a prisão da maior liderança política do país.  

“Estamos numa luta onde Lula livre é o símbolo de uma sociedade que lutamos a vida inteira para construir. Esse ato representa a liberdade de lula, a democracia no país, a dignidade do povo brasileiro e nossa história de luta”.

Ele disse, ainda, que em qualquer país que vive em uma democracia plena, Lula jamais seria condenado. Chinaglia, que é presidente do Parlamento do Mercosul, contou que está indo para Assunção, capital do Paraguai, articular a visita de uma delegação de centrais sindicais latino-americanas ao ex-presidente Lula.

“Quero ver até onde vai chegar essa juíza [da 12ª Vara Federal de Curitiba, Carolina Lebbos, responsável pela custódia do ex-presidente] que impede Lula de receber a visita de amigos. É com esse tipo de justiça que estamos lidando aqui no Paraná. Eles não podem fazer tudo o que acham que podem fazer só porque passaram num concurso público”, questionou.

Nobel da Paz

Já o líder da bancada do PT na Câmara, deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), falou que o mundo inteiro hoje acompanha tudo o que acontece em Curitiba, capital paranaense de resistência e de lutas.

Aquela cena de ontem do frei Leonardo Boff tentando fazer visita ao Lula, percorreu o mundo, disse o parlamentar e complementou: “a noticia que o Nobel da Paz (Adolfo Pérez Esquivel) esteve aqui e foi impedido pela justiça do Paraná, está no mundo inteiro e as pessoas não acreditam. Isso é uma vergonha!”

“Esse prédio onde não deixaram o Nobel da Paz e o líder espiritual de Lula entrar, pouco tempo atrás emprestaram para fazer o filme mentiroso da operação Lava Jato. Foi aqui, nesta sede da PF, que atores da TV Globo confraternizavam com os delegados federais fardas, armas, aviões e viaturas para contar uma mentira. Para isso não atrapalha o funcionamento da Superintendência. Mas a presença de governadores, de um Nobel da Paz, de um líder espiritual, a justiça não permite”, protestou Pimenta.

Quem conhece um pouco de Brasil sabe que qualquer pessoa detida nesse país, que quiser receber a visita de um padre ou pastor, pode. Menos Lula, lamentou o parlamentar.

“Eles [elite] acharam que conseguiriam nos derrotar e que afastar Lula seria o suficiente para eliminar nosso projeto de nação. Fizeram dezenas de capas de revistas e horas de Jornal Nacional humilhando o ex-presidente e lideranças petistas e a cada pesquisa nova, Lula despontava como o candidato preferido da população para a eleição desta ano”.

Por isso nossa palavra de ordem é a mesma: só sairemos da rua quando Lula estiver livre e sair da cadeia para os braços do povo. “Se estão incomodados com nossa presença, liberem o Lula que as coisas voltam para a normalidade e permitam que Lula seja candidato, para ele ganhar em primeiro turno, que nós sairemos daqui”, finalizou.

Após o ato político foi realizada na praça Olga Benário uma missa sob a coordenação do frei franciscano capuchinho Eberson Queiroz, seguida de atividades artísticas e culturais.