Escrito por: CNTE
CNTE ouve especialistas que apontam a necessidade de controlar arma de fogo e adotar outras políticas públicas para prevenir atentados em escolas
O ataque do adolescente de 17 anos, nessa segunda-feira (13), contra uma escola em Monte Mor, no interior de São Paulo, não deixou feridos, mas reacendeu o alerta sobre o crescimento da violência no ambiente educacional.
O jovem, que tinha uma suástica na manga da camiseta, alegou ter sofrido bullying e buscou na deep web e em redes sociais orientações para fazer o ataque terrorista.
De acordo com levantamento do grupo que atuou na área de educação da transição governamental para a gestão do governo Lula, antes do início dos anos 2000, não havia registro deste tipo de ataque no Brasil.
A partir do início do século 21, foram 16, quatro deles no segundo semestre de 2022. As ações resultaram em 35 vítimas fatais e 72 feridos. Segundo levantamento do Instituto Sou da Paz, em metade dos ataques contra escolas as armas vieram das casas dos atiradores.
Gerente de Projetos do instituto, Natália Pollachi, ressalta que o papel das comunidades escolares é fundamental para frear a escalada de violência.
Ela aponta a importância de identificar e buscar apoio para auxiliar alunos isolados, agressivos, que ficam completamente introvertidos ou têm dificuldade de interagir. Apenas a observação, porém, não basta para resolver a questão.
“Sabemos que muitas escolas já têm quadro sobrecarregados e professores têm de lidar com uma série de desafios. Não se pode colocar a responsabilidade sobre eles, precisa ter política pública com recursos suficientes para prestar o apoio, assim como para registrar todos os casos de violência na comunidade, como alunos com armas e casos de agressões físicas. Dessa forma, iremos verificar se existe uma escalada de violência, cuja solução possa ser intermediada pela escola, ou se é necessário um adicional”, explica.
Além disso, indica, os debates em sala de aula sobre a defesa da diversidade e o combate à intolerância e ao ódio auxiliam na desconstrução do discurso que busca desqualificar o que é diferente. Também deve ser discutido o modelo de masculinidade que busca se impor.
“Muitas ações são justificadas por um discurso de tudo ou nada, se é certo ou errado. E para o errado não cabe diálogo. A escola tem o papel de promover a liberdade por meio da convivência dos diferentes. Também de discutir o modelo de masculinidade agressiva que vemos se manifestar. Se por um lado observamos as ações em defesa de igualdade de direitos crescerem, por outro, identificamos como resposta o recrudescimento da ideia do controle, da força, do não falar sobre sentimentos, de que homem não chora, não reclama, tem de resolver tudo sozinho. Basta ver que 100% dos atentados são cometidos por jovens do gênero masculino”, pontua.
Lição de casa
O papel de controle familiar responsáveis também é ressaltado por especialistas. Professora e pesquisadora do Núcleo de Estudos de Violência da Universidade de Brasília (UnB) Tania Montoro também aponta que a ausência de controle sobre armamento durante o governo do ex-presidente derrotado nas últimas eleições, Jair Bolsonaro (PL), promoveu uma sensação de insegurança.
Com Bolsonaro, o número de armas de fogo chegou a 1 milhão em julho do ano passado, destaca o relatório da transição. O crescimento foi de 187% em relação a 2018, anterior à posse de Bolsonaro. “Com a retirada necessidade de registro do Exército não sabemos sequer quem está armado. Não podemos nos esquecer que vivemos em uma sociedade bélica, em que os games são sobre matar e destruir inimigos e aliado a isso convivemos com um cenário extremamente polarizado”, avalia.
Após a posse, o presidente Lula apresentou um decreto que obriga novamente os caçadores, atiradores e colecionadores (CACs) a obter o certificado de registro no Exército. Também voltará a ser exigida a comprovação da efetiva necessidade para autorização de posse de arma pela Polícia Federal, ao contrário do que ocorria na gestão Bolsonaro, em que uma declaração passou a ser suficiente.
Para as autoridades que já tem atuado na prevenção de ações terroristas, há também o desafio de um papel preventivo, de acompanhamento da deep web, de aplicativos de mensagens e outros fóruns de discussão que se aproveitam da maior suscetibilidade dos jovens a discursos extremistas.
Tania afirma ainda que professores e professoras podem exercer um papel fundamental de reversão desse cenário, desde que as escolas estejam adequadamente estruturadas e não sofram com perseguições e censura. “Em uma sala com 40 adolescentes não há condições de fazer ação preventiva. Precisamos de escolas em tempo integral, com psicopedagogo, grupos de ajuda e psicólogas”, defende.