Escrito por: Redação CUT
Apesar dos sinais de agravamento da pandemia, prefeitos e governadores continuam flexibilizando as medidas de combate ao novo coronavírus, como é o caso de São Paulo
Em meio a flexibilizações de medidas de distanciamento social, uma das únicas maneiras de se prevenir contra a Covid-19 junto com a vacina que anda em ritmo lento no país, o Brasil voltou a registrar aumento no número de casos de Covid-19 no mês de maio. O crescimento chegou a 10% nesta quinta-feira (20) e, pela primeira vez no mês, a média móvel de casos foi a 65 mil.
No total, o Brasil tem 444.391 mortos e 15.898.558 casos da doença, a segunda nação com mais registros de óbitos, atrás apenas dos Estados Unidos.
Nem alertas de terceira onda nem memória triste do colapso de várias redes hospitalares, com mortes de pacientes asfixiados por falta de oxigênio e outros por falta de leitos ou medicamentos para intubação ainda provoca pesadelos nos parentes das vítimas e nos profissionais da saúde, estão conscientizando autoridades.
Governadores e prefeitos, que haviam recorrido a restrições ao comércio e até ao lockdown para frear a tragédia, estão flexibilizando as medidas.
O presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL), por sua vez, continua criticando as medidas restritivas recomendadas por especialistas, e afirmando temer apenas os efeitos negativos na economia.
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), é um dos que estão ignorando os alertas da terceira onda. Ele anunciou esta semana que prepara uma nova mudança de fase das atividades econômicas, com mais abertura, claro. Especialistas estão criticando o governo paulista.
A taxa de ocupação dos leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) para Covid-19 no estado de SP cresceu 7,5% desde o final de abril na rede hospitalar privada. Pesquisa do Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios (SindHosp), realizada entre 11 e 17 de maio, mostrou que 85% dos hospitais já têm ocupação superior a 80%.
Ainda não dá para saber os móvitos do aumento de casos, no entanto, especialistas afirmam que é reflexo da flexibilização das medidas restritivas em muitos lugares e por causa de recentes aglomerações pelo feriado do Dia do Trabalho, quando bolsonaristas foiram às ruas sem máscara, sem distanciamento social ou qualquer outro cuidado para evitar a transmissão do vírus, e também por causa do Dia das Mães.
O mesmo ocorre no Rio Grande do Sul onde a pandemia está voltando com força, em meio à flexibilização das medidas restritivas decretadas pelo governador Eduardo Leite (PSDB). O estado emitiu três alertas a regiões gaúchas sob alto risco diante do coronavírus nesta quinta-feira (20), mas há indícios preliminares de agravamento da pandemia na maior parte do Rio Grande do Sul.
Em uma semana, o número de pacientes em leitos clínicos com confirmação ou suspeita de Covid-19 subiu em 20 das 21 áreas do estado e resultou em um acréscimo geral de 14,5%. Nesta quinta, o governo estadual lançou novos alertas às áreas de Palmeira das Missões, Santa Rosa e Uruguaiana, que se somam a outras cinco classificadas na mesma categoria de máximo perigo na terça-feira (18).
O boletim diário de monitoramento desta quinta indica que o acumulado semanal de novos casos voltou a crescer no Rio Grande do Sul após um período de queda — a quantidade de exames positivos em sete dias por 100 mil habitantes subiu 0,8% em comparação a uma semana antes.
Dados da pandemia no Brasil
Nesta quinta-feira (20), o Brasil registrou 2.527 novas mortes. A média semanal de vítimas ficou em 1.971 e voltou a se aproximar da barreira de 2 mil.
A média móvel de óbitos vinha numa sequência grande de quedas durante este mês de maio, mas nesta semana começou a subir de 1.910 para 1.971.
Já a média móvel de casos vem tendo um crescimento mais acelerado e chegou a 65.962, seu maior patamar desde 15 de abril, quando marcou 67.396.
Variante da Índia
O Maranhão registrou os primeiros casos da variante indiana do coronavírus, a chamada de B.1.617, no Brasil. São seis pessoas que chegaram ao estado a bordo do navio MV Shandong da Zhi, atracado no litoral do estado.
A variante indiana tem preocupado o mundo todo por ser mais transmissível. A informação foi confirmada por Carlos Lula, secretário estadual de Saúde e presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), nesta quinta-feira (20).
Dos seis infectados, um precisou ser levado de helicóptero para um hospital da rede privada no dia 13 de maio. Trata-se de um tripulante indiano de 54 anos.
Outras 15 pessoas que estavam no navio apresentaram sintomas da Covid-19 e foram testadas. De acordo com o secretário, foi possível fazer o estudo genômico de 6 amostras, que deram positivo para a cepa indiana. Por conta disso, a tripulação se encontra isolada e o navio, que não tem permissão para atracar na costa do Maranhão, continua ancorado.
Conforme o secretário, 100 pessoas que tiveram contato com esses infectados serão testadas, acompanhadas e isoladas.
Argentina decreta lockdown
Diferentemente do Brasil que nada fez nas piores fase da pandemia, o presidente da Argentina, Alberto Fernández, anunciou nesta quinta-feira (20) uma quarentena rigorosa de nove dias para todas as regiões do país que estão em estado crítico.
A partir deste sábado, dia 22, até 30 de maio, apenas atividades essenciais poderão continuar nestas regiões, incluindo a capital, Buenos Aires. Outras atividades religiosas, educacionais e comerciais ficam suspensas, conforme detalhou um comunicado da presidência.
"Estamos vivendo o pior momento desde que a pandemia começou", disse Fernández em rede nacional, acrescentando que "todos os dados científicos" mostram que a situação na Argentina é "gravíssima".
"Estamos tendo a maior quantidade de casos e de falecidos. Um recorde (desde o início da pandemia no país). Não podemos naturalizar a tragédia. Temos que assumir a gravidade deste momento", afirmou o presidente argentino.
Há algumas semanas, Buenos Aires registrava cerca de 2 mil casos diários da doença, e agora o número já chega a 3 mil. Todos os governadores do país concordaram que o isolamento é a saída neste momento da pandemia no país.
Nos parques, característicos da cidade, as áreas de jogos coletivos ficarão fechadas, e as atividades físicas serão permitidas apenas para pessoas sozinhas e em horários limitados. Parte dos acessos no trânsito da cidade serão fechados e 3 mil policiais estarão na rua para implementar a fiscalização, incluindo a repressão a festas nos domicílios.