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Casos de Covid-19 voltam a subir no Brasil. OMS alerta para nível alto da pandemia

Suspensão de medidas de isolamento social começam a impactar no aumento de casos por covid-19 no Brasil. Última semana foi a segunda de ascensão, após um mês de recuo

Publicado: 11 Maio, 2021 - 09h45 | Última modificação: 11 Maio, 2021 - 10h00

Escrito por: Gabriel Valery, da RBA

Mário Oliveira/Prefeitura de Manaus
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O Brasil registrou 889 mortes por Covid-19 nas últimas 24 horas. Os números às segundas-feiras não correspondem à realidade estatística, já que existe uma maior subnotificação. Isso, porque existe um menor número de profissionais de saúde em trabalho aos domingos. Também não foram computados dados do Ceará por atraso no repasse das informações. Com as vitimas registradas hoje (10), o país chega a 423.229 desde o início da pandemia, em março de 2020. Em relação ao número de novos casos de covid, foram 25.200 neste período, totalizando 15.209.990. Estes valores também sofrem de subnotificação, já que o país não possui diretrizes nacionais para controle e combate do vírus.

De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a partir de estimativas do sistema InfoGripe, o número de mortes pode ter superado as 530 mil.

Desde a primeira semana de abril, o Brasil registra uma queda no número semanal de mortes. São quatro semanas de recuo, relacionadas às medidas de distanciamento social impostas por estados e municípios durante o mês de março. Entretanto, com a suspensão das medidas protetivas, o número de casos começa a seguir pelo caminho inverso. A RBA utiliza informações fornecidas pelas secretarias estaduais, por meio do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass). Eventualmente, elas podem divergir do informado pelo consórcio da imprensa comercial. Isso em função do horário em que os dados são repassados pelos estados aos veículos. As divergências, para mais ou para menos, são sempre ajustadas após a atualização dos dados.

Tendências

Na metade de abril, duas semanas antes do início da queda nas mortes, os casos começaram a regredir. A relação entre novos casos e mortes tem um atraso, justamente, de cerca de duas semanas. É o tempo em que a covid-19 demora, em média, para se manifestar de forma mais agressiva. Então, indicadores crescentes de novos casos estão diretamente relacionados com o aumento de mortes em duas semanas. Esse ponto preocupa, pois já são três semanas de ascensão nos novos infectados por semana. Esta elevação acontece justamente a partir da suspensão das medidas de isolamento social.

A curva epidemiológica média de casos evidencia este movimento da pandemia no Brasil. Após atingir um pico no dia 25 de março, com média diária, calculada em sete dias, de 100.736 novos doentes por dia, houve uma tendência de queda sustentável até o dia 26 de abril; dia em que o valor ficou em 56.553 casos diários. Hoje, já fica evidente o recrudescimento, e esta média está em 61.494 infectados por dia. Já o número médio de vítimas está em 2.087 diárias.

Descontrole

A covid-19 segue descontrolada no Brasil. O país não possui orientação tecnica ou coordenação nacional para o enfrentamento da doença, então, existe defasagem mesmo no estudo para a progressão e disseminação do vírus. Autoridades sanitárias norte-americanas, por exemplo, possuem uma tabela de risco em estados e cidades para aferir o nível de propagação da covid-19. É considerada baixa transmissão de zero a um novo caso por 100 mil em sete dias; moderada, de 1 a 4,9 casos; substancial, de 5 a 9,9 casos; e alta transmissão acima de 10 casos semanais na semana.

 

No Brasil, atualmente, esses dados correlatos encontram-se em níveis muito superiores. De acordo com dados da Fiocruz, as principais capitais do país estão com níveis acima do maior alerta considerado pelos Estados Unidos. Florianópolis está próximo de 10 casos semanais; Porto Alegre em 15, com tendência de subida; Curitiba com 10; Belo Horizonte acima de 20; Rio de Janeiro em 13, assim como São Paulo. Os piores casos atualmente estão concentrados no Nordeste, com Fortaleza e Teresina acima de 20 casos semanais por 100 mil habitantes.

Realidade

“Ou seja, nível baixo seria incidência semanal de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) < 0,7-1 por 100 mil habitantes. SRAG na casa dos 10 por 100 mil já seria o nível mais alto, segundo o CDC (sigla em inglês para Centro de Controle e Prevenção de Doenças)”, afirma o pesquisador em saúde pública da Fiocruz Marcelo Gomes. Os dados levam em conta a SRAG, provocada por covid-19 e também outras doenças respiratórias virais. Entretanto, existe ampla prevalência de covid-19, como explica o pesquisador. “‘Ah, mas nem toda SRAG é covid, né loco?’ Hoje em dia, segue sendo mais fácil acertar na loteria, viu? Com exceção para crianças pequenas, que aí a chance de ser outro vírus aumenta bem. Do contrário… E lembre que tempo até teste, qualidade da coleta e transporte afetam”, afirma. De acordo com dados da Fiocruz, a incidência de covid-19 nos casos de SRAG no Brasil é superior a 97%.

No mundo

Países como o Brasil e a Índia puxam o descontrole da covid-19 no mundo para o alto. Hoje, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que a pandemia segue em um “platô inaceitavelmente alto” de casos e mortes semanais. A última semana foi marcada por quase 90 mil mortes, sendo 15 mil no Brasil. Entretanto, o posto de epicentro do vírus no planeta hoje pertence à Índia. O país vem registrando mais de 4 mil mortes diárias nos últimos dias. Assim como no Brasil, existe ampla subnotificação no país asiático.

“Estamos em um platô inaceitavelmente alto. Tivemos mais de 5,4 milhões de casos relatados de covid-19 e quase 90 mil mortes na semana passada”, disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom. A entidade alerta para a situação da Índia que, no sábado, registrou 4 mil mortos e mais de 400 mil novos casos. A preocupação com o país tem relação com uma variante que circula no país. Assim como a cepa de Manaus preocupou o mundo em março, agora uma mutação denominada B.1.617, que circula na Índia, é o foco da atenção global.

“Nós classificamos como uma variante preocupante em nível global”, disse a técnica da OMS Maria Van Kerkhove. Ela atenta que “existe alguma informação disponível que indica uma transmissibilidade acentuada”. Detectada pela primeira vez em outubro, esta nova cepa se mostrou mais infecciosa e, possivelmente, mais letal. Também existe o receio de que ela possa ser mais resistente a algumas vacinas que estão sendo aplicadas no planeta.